quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Yayoi Kusama e sua obsessão infinita: encanto para os olhos

                                         
Encerrou-se no último dia 20 a exposição “Obsessão Infinita”, no CCBB-RJ, da artista japonesa Yayoi Kusama. Aberta ao público desde o dia 12 de outubro, a exposição apresentou 110 obras da artista, realizadas entre 1949 e 2012, dentre as quais destacam-se sobretudo as suas instalações; além destas foram expostas pinturas, vídeos, objetos sobre a artista, etc.
            Em todas as suas obras é perceptível a presença constante de bolinhas, de variados tamanhos e cores, que acabaram se tornando a sua marca registrada – Kusama é conhecida internacionalmente pelo título “Princesa das Bolinhas”. A obsessão por bolinhas se torna curiosa, admirável e divertida aos olhos: as bolinhas encantam crianças, adultos e idosos; quando em instalações com luzes ou espelhos fazem o público submergir nas instalações e não ter vontade de sair, apenas ficar admirando o brilho e o reflexo das obras. Porém, é admirável principalmente por ser um reflexo da doença mental de Kusama, que sofre de transtorno obsessivo compulsivo e alucinações desde que era criança.



            Kusama se destaca por suas instalações, talvez por serem interativas e incomuns. Suas pinturas e colagem também merecem destaque, mas talvez por outros artistas realizem obras de mesmo gênero, as suas instalações fascinam mais, com suas luzes, bolinhas, espelhos e falos.  Nascida em Matsumoto, Japão, em março de 1929, Kusama costuma contar que foi a arte que a manteve viva e a impediu de cometer suicídio. Seus sintomas são bastante perceptíveis em suas obras: as bolinhas em excesso são comuns alucinações da artista, os falos sinalizam o seu temor sexual e estes em conjunto com comida, por exemplo, sinalizam o seu temor por quaisquer coisas que entrem no corpo humano. Kusama vive em uma clínica psiquiátrica desde a década de 70, por escolha própria, e continua na ativa, com seus quase 85 anos de idade.
            Devido à guerra em seu país, Kusama viveu nos Estados Unidos entre 1957 e 1973, onde conheceu artistas como Donald Judd, Joseph Cornell e Andy Warhol, que a influenciaram em sua arte pop. Esta é a sua primeira exposição no Brasil, podendo ser encontrada também uma obra sua, “Narcissus Garden”, de 2009, no Instituto Inhotim (MG), que se consiste em 500 esferas de aço flutuando em espelhos de água. Suas primeiras grandes exposições internacionais ocorreram recentemente, como em 2011, no Reina Sofía, em Madrid, e no Centro Pompidou, em Paris; e, no ano passado, na Tate Modern, em Londres, e no Whitney Museum, em Nova York. Sem falar na sua recente exposição na Argentina, no Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires, onde Kusama não era muito conhecida e, ainda assim, em pleno inverno, a mostra foi um sucesso. Além disso, produziu estampas para a grife Louis Vuitton.
            Produzida pelo Instituto Tomie Ohtake em conjunto com o estúdio da artista, a mostra tem curadoria de Philip Larratt-Smith e Frances Morrris e foi a exposição mais visitada do CCBB dos últimos cinco anos, com cerca de 700 mil visitantes, ultrapassando a marca “O mundo mágico de Escher”, que recebeu um pouco menos de 600 mil visitantes.  A mostra segue para o CCBB Brasília, onde ficará em cartaz de 17 de fevereiro a 27 de abril. Depois a retrospectiva seguirá para o Instituto Tomie Othake, em São Paulo, onde poderá ser visitada entre os dias 21 de maio a 27 de julho.

domingo, 12 de janeiro de 2014

Gonzagão – A Lenda: para sentir vontade de dançar

            
   
 Nascido em dezembro de 1912 em Exu (cidade pernambucana) e falecido em agosto de 1989 em Recife, Luiz Gonzaga – conhecido como o “Rei do Baião” – é merecidamente homenageado neste musical. Com cerca de uma hora e meia de duração, sem intervalo, o musical conta o que chama de “lenda do rei Luiz”, lenda que dá nome ao espetáculo – Luiz, é claro, é Luiz Gonzaga, o Gonzagão (quando com intervalo, o espetáculo chega a durar duas horas).   
   Alguns dos musicais baseados na vida e obra de algum músico ou banda apenas apresentam músicas do artista/banda em questão, assemelhando-se mais a uma espécie de show cover, como o recente "Milton Nascimento: nada será como antes - O Musical"; outros mesclam de modo excelente uma narração biográfica com músicas do artista/banda, informando ao público tanto quanto o emocionando com a obra do artista ou banda homenageado, como os também recentes “Tim Maia - Vale Tudo, o Musical” e "Ary Barroso - do princípio ao fim". O musical “Gonzagão – A Lenda” encontra-se em uma espécie de meio termo entre estes espetáculos citados. O espetáculo não explora a biografia do músico, perpassando por ela apenas superficial e genericamente, mas também não se mostra como sendo apenas um “show”; obtém, assim, um resultado, se não excelente, bastante satisfatório: animado, delicia o público com o baião e o forró do Rei e dá até vontade de dançar.
Algumas cenas se destacam, emocionando especialmente o público, como a que representa Gonzagão cantando “Que Nem Jiló” (Ai quem me dera voltar/Pros braços do meu xodó/Saudade assim faz roer/E amarga qui nem jiló/Mas ninguém pode dizer/Que me viu triste a chorar/Saudade, o meu remédio é cantar”); a cena de Gonzagão com seu filho, Gonzaguinha, cantando juntos, primeiramente, “Sangrando” (“Quando eu soltar a minha voz/Por favor, entenda/Que palavra por palavra/Eis aqui uma pessoa se entregando/Coração na boca/Peito aberto/Vou sangrando/São as lutas dessa nossa vida/Que eu estou cantando”, de Gonzaguinha) e depois “A Vida do Viajante” (“Minha vida é andar por esse país/Pra ver se um dia descanso feliz/Guardando as recordações/Das terras por onde passei”); e, por fim, a cena em que todos os atores cantam “Asa Branca”.
Oito atores se revezam nos papeis, inclusive no papel principal, fazendo parte do elenco também uma atriz (são eles Larissa Luz, Marcelo Mimoso, Adrén Alves, Alfredo Del Penho, Eduardo Rios, Fabio Enriquez, Paulo de Melo, Renato Luciano e Ricca Barros); dentre os músicos são quatro: Beto Lemos na viola, na rabeca e no pandeiro; Daniel Silva no violoncelo; Rick De La Torre na bateria e percussão e Rafael Meninão no acordeon, todos com seus pontos altos em diferentes momentos.








            O espetáculo está em cartaz em temporada popular no teatro João Caetano, no centro, até o próximo dia 26 (20 reais a inteira e 10 reais a meia), de quinta a domingo. Segundo os próprios atores essa provavelmente será a última temporada da peça no Rio de Janeiro, pelo menos por um bom tempo.  Portanto, aproveitem! Homenageiem o nosso grande Rei do Baião e se divirtam com o musical!