Antes mesmo da chegada do rádio ao Brasil, o samba já era conhecido
e admirado, mesmo assim encontrava muita resistência em diversas
camadas da sociedade. Então como o samba e outras músicas populares
se tornavam conhecidas?
Primeiramente, como capital do Brasil, o Rio de Janeiro era palco de
diversas manifestações culturais e assumia o papel de propulsor dos
ritmos que vinham de todas as regiões do país e do mundo para se
tornarem gêneros musicais quando juntados a outros ritmos ou até
mesmo a outros instrumentos. O choro e o maxixe, por exemplo,
surgiram quase que na mesma época – na década de 70 do século
XIX – nascidos da variedade musical nacional. As reuniões entre os
músicos e a elite, também foram importantes para que as músicas
populares alcançassem todas as camadas sociais. Outro acontecimento
que tornava o samba conhecido era o fato dos nobres morarem em
regiões muito próximas dos pobres. A elite vivia no Centro, em
Botafogo e em São Cristóvão, já os pobres moravam na Praça Onze,
Santo Cristo, Estácio e Lapa. Esta proximidade facilitava políticos,
médicos, intelectuais e outros membros da elite a terem acesso à
cultura popular que nascia e se propagava nas proximidades humildes.
Outra forma de divulgação da música popular era a venda de músicas
com partituras
em papel impresso, já que o piano passou a ser integrante das salas
da classe média. Esta forma de divulgação se estendeu desde a
segunda metade do século XIX até as décadas de 1920 e 1930. O
teatro também era uma importante maneira de veiculação da música.
Era muito natural integrar uma música com uma peça teatral ou até
mesmo nas salas de cinema. Quando uma peça fazia sucesso, a música
certamente obtinha êxito.
Partitura do samba Pelo
Telefone.
No ano de 1902, quando foi gravado o primeiro disco no Rio, já
existia uma música urbana típica, além dos gêneros estrangeiros
que eram “abrasileirados” sendo adaptados pelos músicos
nacionais, como a valsa, a habanera e a polca. Até então o Brasil
não possuía uma identidade nacional e cultural. As músicas ainda
eram de alcance regional. Este panorama perdurou por alguns anos,
mesmo após a chegada do rádio.
Machado de Assis publicou na Gazeta de Notícias, em janeiro
de 1887, quadrinhas sobre o êxito da polca em território nacional e
o abrasileiramento do ritmo que viera da Europa.
Poema inspirado no causo de um indivíduo que se pôs a blasfemar o trabalho lindo de uma pessoa que sempre foi grande incentivadora da poesia na cidade de Petrópolis, sendo ela alguém que me deu oportunidades de desenvolvimento, desde quando eu era criança. Tal indivíduo se pôs a diminuir todo um trabalho que envolve centenas de pessoas e toda a poesia destas, como se poeta fosse apenas aquele que ganha dinheiro com seus poemas ou que é "famoso" e participante de mil eventos.
Admiro
os poetas: os que ganham o pão diário com o seu trabalho escrito
E
os que têm outras profissões, mas escrevem pela paixão de se expressar.
Porque,
acima de tudo, o que importa a um poeta bem resolvido,
É
a liberdade de criar; dizer o que se pensa sem medo do que parecerá.
Sempre
há os que gostam de criticar, aqueles cujo ego é perpetuamente ferido.
Graças
se pode dar quando se é rodeado de muitos mais que de fato amem a poesia.
Aqueles
que brindam às palavras e fazem dos versos um amigo muito querido.
E,
ao fazerem isso, reúnem em seus escritos contentamento e harmonia.
Achar-se
superior ao outro é até ingenuidade.
Uma
pessoa que blasfema o trabalho alheio, só se pode pensar que quer parecer
ridícula.
É
irônico como há pessoas que em vez de correr atrás da própria prosperidade,
Acham
que fazer pouco caso da dos outros irá diminuí-la.
Creio
que todos concordam que reconhecimento é ótimo, retorno financeiro também.
Tornar-se
um ilustre escritor, quem sabe até Best-seller, é motivo de respeito.
Mas
escrever pelo amor que se tem a este ato, apenas, não importa o que falem,
Traz
à vida a situação de se ser poeta de modo incondicional, alma que bate no
peito.
Quando
escrever ou ler poesia é quase condição à respiração,
Vê-se
poesia em muito mais que poemas: nas pessoas, nas cores, na natureza.
Ser
humilde e ter consciência de que mais vale a mensagem do que o quinhão,
É
perceber que mais vale o que se tem na alma do que o que se tem à mesa.
Se
há outros modos de se ter rendas financeiras, outro não há de se ser poeta de
verdade:
Só
mesmo percebendo que na poesia não há lugar para mesquinhez,
Nem
para pessoas que sintam prazer em diminuir outras, o que é pura infantilidade.
Achar
que títulos ou participações em eventos significa qualidade é pura estupidez.
Achar
que não ter no currículo mil convites a bienais impede alguém de ser poeta,
De
trabalhar a poesia com amor e de realizar grandes conquistas,
Talvez
seja sinal de algum delírio que, negativamente, à mente afeta.
Talvez
seja comum entre contratados para escrever, mas não entre artistas.
Por
isso só artistas deviam fazem críticas, quando construtivas, a outros artistas:
Quem
não tem esse sentimento na alma não compreende a sua extensão.
Os
rostos dos autores não precisam ser vistos, deseja-se mais que as poesias sejam
lidas.
E
que a poesia nunca tenha de se rebaixar a um simples ganha-pão.
O samba já era conhecido e consagrado na década de 1920, ainda sim,
sofria perseguições. O gênero musical já havia atravessado o
Atlântico diversas vezes, inclusive, Darius Milhaud, que defendia a
ideia dos modernistas, compôs diversas obras com ritmos brasileiros,
como o chorinho Deux poèmes tupis e o samba Le boeuf sur
le toit, lembrado por Donga, amigo de Milhaud, que serviu de
trilha sonora para um espetáculo de Jean Cocteau, “usando trechos
de dezenas de músicas cariocas que fizeram sucesso nos anos 10”
(Vianna, 1995: 104).
"Le boeuf sur
le toit", de Darius Milhaud
Ao mesmo tempo em que era tocado em grandes salões, o samba era
perseguido nas ruas. Por um lado, o grupo Os Oito Batutas,
formado basicamente por negros e mulatos, que tinha como integrantes
Pixinguinha, Donga, João Pernambuco entre outros, se apresentava no
Cine Odeon, no Theatro Municipal e no exterior. Por outro lado,
diversos sambistas como Heitor dos Prazeres eram presos acusados de
vagabundagem simplesmente por tocarem violão na rua.
Os Oito Batutas
No início da década de 1920 até meados dos anos 30, o samba ainda
era coisa de malandros e cantoria de vagabundos. Os sambistas estavam
sujeitos à prisão por tocar violão. A polícia pregava a ordem e
não dava trégua. Mas como Jota Efegê descreveu, o samba era
valente e não se deixava intimidar pela repressão, apesar de
espancados e presos por vagabundagem, os sambistas persistiam em
tocar onde quer que fosse. A solução encontrada por eles para fugir
da repressão foi subir para tocar samba nos morros, pois lá não
eram incomodados.
Os morros da Mangueira, do Estácio e do Salgueiro eram os principais
pontos de encontro dos sambistas que fugiam da violência policial.
Nas favelas o “samba do asfalto” se encontrava com o “samba do
morro”, e assim nasceria uma nova forma de tocar samba, que será
visto no capítulo mais adiante.
Nas andanças pelos bairros do Rio de Janeiro, Heitor dos Prazeres
foi o principal responsável por espalhar os sambas pelos bairros de
Madureira, Oswaldo Cruz, Olaria, Lapa, Estácio e Vila Isabel, onde
conheceria Noel Rosa, o maior sambista de todos os tempos e um dos
principais responsáveis pela volta do samba para os asfaltos.
Em primeiro lugar, vou deixar claro que este comentário não é uma análise definitiva desta Insurreição Popular que estamos vivendo. É apenas uma ideia que tive após ler algumas reportagens, opiniões de pessoas e de ter participado da passeata do 1 milhão aqui no Rio.
"Nunca vi tanto engajamento, realmente desde 1992 que a população não
se
unia desta forma por uma causa em comum. Todos sabem que não é por 20
centavos, não é pela copa, é pelo fim dos abusos cometidos pelo governo.
Saúde, educação, segurança... a população cansou de ser deixada de lado
e entoam o hino e carregam as bandeiras, símbolos de representação e
patriotismo, os "laços imaginários" que nos unem, como forma de mostrar
somos todos um,lutamos por uma causa e vamos construir a verdadeira
nação brasileira"Zamara Graziela, 23 anos, estudante de História. Sobre
a passeata de segunda feira 17 de junho no Rio de Janeiro.
A opinião de Zamara é bem interessante. Ela aborda dois problemas que pretendo abordar como questão central. Um é: "como conseguimos mobilizar tanta gente nos protestos quando em décadas anteriores o povo aceitava calado as injustiças?" e outro é: "por que só agoraé que o povo "acordou"?". Farei uso de três pensadores que estudei na faculdade, mas acalmem-se vou tentar não ser absurdamente chata com isso.
Não dá para pensar nesse movimento de massas de 2013 sem relembrar que a ultima vez que 100 mil pessoas estiveram nas ruas no Brasil foi em 1992. Na época do Fora Collor a população também passava por momentos bem difíceis. O que teria mobilizado o povo nas duas situações? Segundo Gabriel Tarde (um sociólogo gordinho que arrumou uma celulite no olho) massa é um conceito muito vago e por isso ele dividiu esse conceito em duas partes:
1- Multidão- que seria conjunto de pessoas que se reúnem em prol de uma causa mas que depois de dispersadas dificilmente se reconectam.
2-Público- conjunto de pessoas que se reúnem por afinidade e que se comunicam por algum veículo de informação, sendo assim mais difícil de serem dispersadas quando o movimento finda. Esse tipo de aglomeração só foi possível com o advento da imprensa.
É claro que há muita simplificação desses conceitos, e por isso aconselho a cada um que se interessar de procurar o texto de Tarde, mas por hora vai servir para o debate. Então, em 1992 reuniu-se 100 mil pessoas para o impeachment de Collor, só que segundo um professor da UFRJ no ultimo debate do departamento de ciência política, em 1992 quem coordenava o movimento eram os políticos de esquerda, que na minha opinião eram as lideranças mas também o veículo de informação necessário para juntar todas aquelas pessoas.
Nos dias de hoje, o Facebook é que se tornou o meio de convocar o público. Através dele conseguiu-se reunir pessoas de diferentes convicções políticas, desde os partidários aos apolíticos. As pessoas compareceram em peso reivindicando seus direitos e protestando contra um inimigo em comum: o governo. O barato é que por mais que a direita e a esquerda queiram se tornar líderes desse movimento (ambas disputam o controle das passeatas, inclusive tentam expulsar um ao outro da comissão de frente) o que vence é a parcela autônoma da população. A maioria das pessoas vai como indivíduos dispostos apenas a representar as próprias insatisfações.
"Aonde
eu estava foi super tranquila... a gente se concentrou no ifcs e
saímos (segundo a galera do facebook) em torno de 600 dali, seguimos
pela uruguaiana e fomos apaludidos pelas pessoas que assistiam da
calçada, alguns tiravam fotos e tal... chegamos na presidente vargas e
eu segui até a rio branco... as pessoas balançavam panos e folhas
brancas das janelas pra demonstrar apoio, jogavam papel picado, piscavam
as luzes, eu achei muito lindo. e qualquer pessoa que parecia que ia
começar algo próximo de vandalismo era vaiada e chamada a se juntar a
galera, então não teve problema nenhum." Gabriela
Correa. Estudante de história da UFRJ. Sobre a passeata de segunda feira 17 de junho de 2013.
Vejo isso como um grande fenômeno social que em outras décadas parece-me impossível que ocorresse. Com certeza o Facebook tem grande participação nele, pois sem a organização que essa rede social promoveu duvido que esses números teriam sido atingidos, no entanto o "gigante adormecido" não acordou só por causa disso. Até porque o Facebook é um meio manipulável também, um exemplo disso foi a Greve Geral que tentaram armar. É preciso pensar no caráter da população brasileira, em suas continuidades e rupturas ao longo da História. Em "Os Bestializados" ,José Murilo de Carvalho explica que na passagem da Monarquia para a República, o povo brasileiro não exercia a cidadania de acordo com a tradição democrática, e por isso era considerado "bestializado" pelas pequenas camadas da sociedade que aderiram ao novo modo de fazer política. Só que segundo o autor, a população possuía seu próprio modo de fazer política: a sátira no carnaval e outros meios de manifestações populares. Para elas os governantes não lhes representavam.
De certa forma, vejo que durante as ultimas décadas essa característica não deixou de existir. Embora tenhamos adquirido maior expressividade política, não deixamos de satirizar os políticos nos carnavais, em pichações etc, e com certeza não temos nos sentido representados pelos governos, mesmo quando a esquerda transformou-se na ordem da vez. Um historiador marxista disse uma vez que o povo pode aguentar por anos uma situação ruim, mas ele se rebela quando vê que está sendo privado do básico. A pesar de ter empregado essa ideia num contexto social totalmente diferente, imagino que essa ideia de Thompson tenha alguma razão de ser se aplicada ao nosso caso atual. Pense bem, desde que a Dilma foi eleita, temos visto protestos, greves e paralisações da maioria dos setores: a polícia, os bombeiros, os professores, -não tenho certeza, mas acho que os pessoal da saúde também embarcou nessa,-os eletricitários e provavelmente muitos outros que não tomei conhecimento. A maioria deles foi tratada por grande repressão dos governos municipais e estaduais, e tudo isso por causa de cortes de gastos como o que tivemos na Educação.
Acho que a Copa só foi mal vista pela população porque parece uma hipocrisia gastar tantos milhões com um luxo quando coisas primárias estão tão descuidadas.
Inaugurada ao público no
último dia 14, a exposição Um Outro
Olhar: Coleção Roberto Marinho, no Paço Imperial, apresenta 202 obras, quase
80 delas inéditas. Concluindo uma trilogia que se iniciou em 1985, a exposição
é um belíssimo panorama da arte modernista e abstrata do Brasil, além de expor também algumas peças
sacras dos séculos XVIII e XIX.
A mostra não segue uma ordem
cronológica, mas sim uma divisão por temas que tem como objetivo apresentar o
modo como diversos artistas trataram diferentemente dos mesmos assuntos. Assim,
as obras situam-se nos primeiro e segundo andares do Paço, em salas e ambientes
específicos para cada tema: retratos, flores, natureza morta, paisagens, infância,
religião, trabalho, esportes, lazer, fauna, abstracionismo.
A seção de obras abstratas está no
segundo andar e é a única ordenada pelos artistas, expondo obras de nomes ilustres como Antonio Bandeira, Iberê Camargo, Tomie Ohtake, Cícero Dias, Maria Helena
Vieira da Silva, Manabu Mabe, Aloísio Magalhães e Jorge Guinle, dentre outros.
Na última sala do segundo andar são apresentadas também esculturas e tapeçarias.
O primeiro andar, dividido em temas, expõe obras importantes de artistas
fundamentais à arte brasileira, como Guignard, Portinari, Milton Dacosta, Di
Cavalcanti, Ismael Nery, Tarsila do Amaral, Volpi, Lasar Segall, Anita Malfatti
e José Pancetti.
Com curadoria de Lauro Cavalcanti, diretor do
Paço Imperial, a mostra fica aberta ao público até o dia 11 de agosto,
consistindo-se em uma exposição de suma importância, por dar a oportunidade de
se observar e admirar obras muito belas e importantes, assim como de se
conhecer mais a arte moderna do país, através da observação e da capacidade de
se encantar com as obras.
A
coleção de Roberto Marinho se deu ao longo de muitas décadas, até o período de
sua morte (2003), tendo se iniciado quando tais artistas ainda nem eram famosos
e reconhecidos. Marinho sempre frequentou mostras e ateliês, além de ter sido
amigo de muitos daqueles que assinam as obras de sua coleção. É relevante
ressaltar que, independentemente de posições políticas acerca deste, que foi o
presidente das Organizações Globo de 1925 a 2003, os artistas e obras presentes
na mostra merecem muito ser prestigiados, não só por serem nomes constituintes
da arte brasileira, mas, principalmente, porque a maior parte das obras da
exposição é realmente apaixonante.
O Paço Imperial fica aberto de 12h às
18h e se localiza na Praça Quinze de Novembro, 48, no centro da cidade do Rio
de Janeiro. Quanto ao Paço, uma crítica e observação: deve-se ter muito cuidado
em algumas de suas escadas, como é possível perceber na foto abaixo, são
absurdamente perigosas, pois não há nada entre o corrimão e os degraus, apenas
um vazio que, basta escorregar, para ser possível a queda de uma altura considerável.
Muito debate, intervenções
acaloradas, participação popular e diversas demandas marcaram a plenária do
Fórum dos Movimentos Populares, na noite da última terça-feira, 25, que ocorreu
noInstituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS-UFRJ)no Largo de São Francisco, no centro
do Rio.
A reunião, que contou com
estudantes, trabalhadores, representantes de diversos movimentos sociais,
coletivos, grupos e partidos, definiu a pauta e os dias dos próximos
manifestos.
Os pontos principais da pauta são: tarifa zero
para o transporte público, desmilitarização da políciaeliberdade
aos manifestantes presos. As demais reivindicaçõespodem ser apresentadas durante os
protestos. A ação policial no Complexo da Maré, na última segunda-feira, 24,
que resultou em 9 mortos até o momento, foram repudiados veementemente.
Na quinta-feira, dia 27, a
concentração será na Candelária às 16h. Nodomingo,
dia 30,a mobilização partirá da
praça Saens Peña, na Tijuca, por volta das 15h, rumo ao Maracanã.
[1] A expressão mosqueteiro intelectual é de Nicolau Sevcenko (Literatura
como Missão), que em trabalho de crítica literária se dedica à obra de Lima
Barreto e Euclides da Cunha. Como características destes mosqueteiros, o autor
identifica um mal-estar com a República, por esta não reconhecer os
intelectuais e garantir a promoção da mediocridade. A falta de reconhecimento
ao invés de calá-los servia de mais combustível para inflamar suas críticas e
ações. [2] Contém spoilers, mas a sua leitura vale à pena.
Lima Barreto, ao terceiro dia, peça em cartaz
no Teatro Dulcina até o dia último deste mês (próximo domingo), é um prato
cheio para aqueles que gostam de literatura e teatro. Talvez uma oportunidade
ainda maior para aqueles que não conhecem a história de vida de Lima e como, ao
contar suas histórias, em uma literatura engajada e de forte crítica social,
mostra seu humor sarcástico e o brilhantismo de ir contra o idealismo romântico:
a literatura bruta como a vida. Este brilhantismo é ofuscado pelos ataques
racistas de uma sociedade que não estava disposta, nem acostumada, a digerir
uma literatura rebelde e incômoda, ainda por cima pelos lábios de um negro. Um
dos nossos maiores literatos só viria a ter o reconhecimento que merecia, como
muitos escritores, postumamente.
Como
tradicionalmente ocorre, o autor e sua maior obra são associados: O triste fim de Policarpo Quaresma é
Lima Barreto. Tal associação rege a peça e, apesar de comum, é característica
primordial para a sua originalidade, visto que a peça não objetiva nem
apresentar um panorama biográfico do autor, nem apenas narrar o enredo de sua
principal obra. Se o par autor – obra principal é recorrente nos livros, ao subir
ao palco torna-se inesperado. A peça é recheada com boa dose de humor – ora
inteligente, ora sarcástico – e de criatividade, que expõem a excelente
qualidade do texto escrito por Luis Alberto de Abreu. O retrato que se pinta de
Lima Barreto combina a ficção e a interpretação de Abreu sobre o literato e os
fatos de sua vida, as críticas que esperava, mas não recebeu: o silêncio que
tinha como base um abismo bem mais profundo de uma sociedade recém saída da
escravidão e do império. Império este do qual Lima mostrou-se, em vida,
favorável e nostálgico, vendo aquela sociedade como uma tradição da
solidariedade que era completamente ausente na República que via nascer.
Muitas das
críticas ácidas que Lima Barreto faz a esta República insurgente estão também
muito bem expressas na sua República das Bruzundangas. Alusões explícitas de
“Os Bruzundangas” somam-se ao correr do Triste
Fim de Policarpo. O Lima maduro trava diálogos comoventes com os seus
personagens do Romance e até dele para com ele mesmo, em uma espécie de
devaneio: o Lima de 30 anos de idade. Isso ocorrendo em meio ao regime de
internato que fora submetido em um hospício, em função de suas depressões.
Ficam patentes as incongruências indissolúveis entre a ciência, cujo portador é
o médico, e o escritor. Há toda uma trama entre Lima, esse médico que nenhuma
certeza pode oferecer a seus pacientes, e Felipe, há longa data internado, em
uma espera infrutífera de uma terça-feira, possível data de sua saída, que
nunca chega.
Nando Cunha interpreta
o jovem Lima Barreto nos esforços de escrever seu grande romance. Esse núcleo é
composto também por Mario Hermeto, o ator que dá vida à personagem Gregorinho.
Contracenam – como todo o elenco – de forma magistral; sendo a parte mais cômica
da peça a expressa pela embriaguez constante do amigo de Lima. Este, como em OsBruzundangas,
diz que há pseudoliteratos que querem figurar na ABL, um mundo onde só os
bacharéis têm vez e esses “doutores” sendo os únicos aceitos socialmente para o
estudo. No fundo, porém, para Lima Barreto, o objetivo maior de todos eles é
fazer parte da burocracia dos empregos públicos. O escritor vê no Barão do Rio
Branco o exemplo maior da personificação desse mal. Entre uma recordação e
outra, reaparece o médico. A animosidade entre doutor e escritor decresce, pois
aquele reconhece a inteligência e comportamento atípico de Lima, incansável em
suas lúcidas críticas. É essa história que o Lima Barreto de Luis Alberto de
Abreu vive: internado, interagindo em um misto de alucinação e emoção profunda
com sua juventude e com os personagens do romance em que o protagonista é
Policarpo.
Sim, estão
todos lá: saindo do encontro da caneta com o papel do jovem Lima, ao mesmo
tempo em que, internado quando mais velho, observa e dialoga, chegando ao ápice
de um embate existencial entre ele e o major Quaresma. Este protagonista que dá
nome ao livro é ridicularizado por seu ufanismo e idealismo, tendo como triste
fim sua condenação ao fuzilamento por Floriano. Seu projeto de fazer do Tupi a
língua oficial do país fracassa. O intuito de modernizar o sistema agrário do
país conhece o mesmo destino de seu Tupi. Todos, exceto Ismênia, não escapam
aos ataques por parte daquele que os inventou. Ismênia é Lima Barreto. O Lima
ressentido e da luta não se reconhece com o Lima frustrado do hospital: segue
na construção de seu romance.
Tecnicamente,
tudo parece ser digno de um grande espetáculo, digno ao igualmente grandioso
nome Lima Barreto, que ficou
registrado na história da literatura nacional. O elenco de ótima qualidade e
uma atuação que a mim pareceu impecável; um cenário belo e criativo, que
retrata a vida urbana cerceada de livros.
A peça tem duração de cerca de uma hora e meia
e apresenta, além da qualidade, outras importantes vantagens: localização e
preço acessível. O Teatro Dulcina fica na rua Alcindo Guanabara, Cinelândia, no
centro da cidade do Rio de Janeiro. O valor dos ingressos é de 20 reais a
inteira. O espetáculo ocorre de sexta a domingo, às 19h. As últimas
apresentações serão entre os dias 28 e 30, neste fim de semana. Não percam!
A internet mostrou do que é
capaz nos últimos dias. O potencial mobilizador das redes sociais foi explorado
de uma forma nunca antes vista na história deste país. Setores da mídia tiveram
que readaptar suas narrativas, já que suas palavras não exercem o mesmo efeito
de outrora na população. Isso ficou notório, por exemplo, quando José Luiz
Datena, da rede Band de televisão, mesmo alterando a enquente "você é a
favor dos protestos?" para "você é a favor dos protestos com
baderna?", não conseguiu conter o avanço do “sim”, que triplicou o número
de simpatizantes sobre o não. A crise, que assola a mídia tradicional e demite
centenas de profissionais a cada mês, ficou mais do que evidenciada nesse
processo.
Sobre o movimento
O movimento não teve cara, não
teve líderes figurões, não teve partido, tampouco foi fomentado – ou contido -
pela imprensa. Diferentemente do movimento dos caras pintadas, que pediu o
impeachment do, então presidente, Fernando Collor de Mello, esse guarda uma
espontaneidade incomum no histórico de mobilizações no país e natural de quem
vem sendo açoitado ano a ano, calado, aprisionado em suas aflições e ao ouvir,
a partir de uma brecha, o grito de indignação, que lhe é familiar e representa
a sua causa, bota o pé na porta e se junta à catarse coletiva. A gota d’água
foi o aumento na passagem de ônibus, estopim que rompeu a bolsa do comodismo e
fez com que cada canto do Brasil desse à luz a algo que já estava em gestação
há muito tempo. É o movimento do sentimento.
Por ser espontâneo, é difícil
de ser totalmente coeso em seus meios de representação. Mas esse, considerando
a grande multidão, manteve um comprometimento popular louvável. O uso da
violência, por uma pequena parcela de brasileiros, só dá subsídios àqueles que
querem manipular e desvirtuar o caráter do movimento. Mas, como disse, esse é o
movimento do sentimento. E, quando se trata do povo, em massa, reunido para
externar a sua opinião, para, de fato, se manifestar, trata-se também de algo que
abarca uma gama de posições, matizes e níveis de repúdio, descrédito, esperança
e estresse. Enfim, sentimentos. Pode
abarcar até os mal-intencionados, os oportunistas e os tendenciosamente
infiltrados (lembre-se do que aconteceu no Riocentro em 1981). O que não
podemos é substituir o todo pela parte.
O poder aquisitivo do
brasileiro aumentou? Aumentou. Entretanto, o povo, que agora pode adquirir
utensílios impensáveis em tempos de arrocho, vê o avanço dos preços, das
tarifas, da precariedade dos serviços públicos, dos abusos do Estado, do ataque
aos nossos direitos e da corrupção. São elementos suficientes para tirar
qualquer trabalhador honrado do sério, concorda? Esse mesmo povo que vive na
embalagem contraditória do primeiro mundo reivindica um conteúdo que faça jus
ao título propagandeado pelos governantes em suas campanhas publicitárias.
Ganhamos do Japão no futebol, no entanto, eles nos goleiam no que realmente
importa.
Para quem faz questão de
criticar a ação violenta - e criticável – de alguns brasileiros
Acho totalmente válido que
critiquem também a violência do Estado, que desabriga cidadãos, que atira
primeiro e só pergunta “quem é” depois, que desvia o nosso dinheiro e usa-o
como bem entende, que despeja uma fortuna absurda - reunida a partir do nosso
suor para manter o nome limpo na “praça” – em eventos que se resumem, no fundo,
a dois meses de pura ilusão –, que ignora veementemente e calhordamente abismos
e dilemas sociais gritantes e que não faz muita questão de esconder tais
práticas e ainda ri da nossa cara em rede nacional.
Sobre a ação policial
Não vivemos numa democracia
plena. A truculência policial, transmitida ao mundo, nas ações que tentaram
coibir os manifestantes no Rio e em São Paulo na semana passada, evidenciou
algo que alguns tentavam manter guardado na gaveta do esquecimento: a memória
da ditadura. Os resquícios das práticas da época da ditadura abriram uma
questão: estamos num processo de redemocratização que se estende desde o
governo Geisel. Não vivemos numa democracia plena. Precisou-se de uma
mobilização desse porte e, principalmente, durante um período de grande
exposição do país para que fossem reveladas essas feridas mal cicatrizadas.
Afinal, como cantava Cazuza, “meus inimigos estão no poder”. O triste é
constatar que, aos “inimigos” historicamente infamados, incorporaram-se os
traidores.
Sobre os políticos
Não tenho o que dizer além do
que já disse. Mesmo porque ninguém abriu a boca até agora. Não sei, mas acho
que temem algo. Quem sabe seja o povo? (até o fechamento deste artigo, nenhum político havia se pronunciado.)
Causas e efeitos
O problema não é de partido e
nem as reivindicações tem caráter partidário. O problema é de um conjunto de
práticas de um sistema que se perpetua há décadas. É o efeito de uma má
digestão do brasileiro com relação a toda podridão que vem sendo exibida há
anos como carne no açougue. Nosso dever é mostrar que não estamos dormindo no
ponto diante dos desmandos, independentemente de quem esteja no poder.
Não temos partidos. Temos
legendas que são trocadas de acordo com a conveniência do político. Poucos têm
comprometimento ideológico. A esmagadora maioria se conduz pelas cifras e pela
dança das cadeiras do poder. Discutir pessoas e partidos é inútil num sistema
corrompido. Conhece a história da erva daninha? O que nós precisamos discutir é
um país.
Algo muito importante pôde ser
assistido e vivenciado no dia 17 de junho de 2013. Eu não estou meramente contemplando um passado bem recente - e antologicamente presente no presente.
Estou vislumbrando o futuro. Momentos como esse não passam sem deixar marcas
históricas. Não sei o que vai acontecer. Ninguém sabe. Mas a cultura não é
estática. Ela incorpora, interage e/ou substitui elementos, anseios,
personagens, dilemas e representações. Ela está em constante transformação.
Transformação, muitas vezes, dolorida e conflitante. A única coisa que sei –
além do que já disse – é que a primeira coisa que me veio à lembrança no dia 17 de junho de 2013 foi
Chico Buarque cantarolando nos tenebrosos (porém, criativos) anos de 1970,
“amanhã vai ser outro dia”.