Por Elis Bondim e Felipe Cavalcanti
Mas afinal, estamos em terra firme
ou em uma pequena ilha em meio ao oceano? Nosso estado, dentre outros no país,
já é conhecido por suas chuvas no verão (principalmente), causando situações
devastadoras. Devastadoras não por culpa da chuva, geralmente, mas por culpa da
ação do próprio homem que constrói em demasia sem deixar para onde a água
escoar e que gasta milhões (quando não bilhões), por exemplo, com eventos de
grande porte como a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016, sem nem ao
menos cuidar da infraestrutura básica do estado e da cidade. Se uma
infraestrutura que dê conta melhor das chuvas é fundamental para a vida da
população, é também muito importante para os turistas, para a imagem do país e
para que não se destrua tudo que está sendo construído, seja para algum evento
ou não. Ou seja, de todo modo, é contraditório não haver uma preocupação enorme
do governo em torno dessa situação e uma pesquisa estratégica sobre como
modificá-la.
Na madrugada da última sexta-feira,
do dia 17 para o dia 18 de janeiro de 2013, fui surpreendida por ruas alagadas
em pleno centro da cidade do Rio de Janeiro, vendo-me cercada pela água e
demorando cerca de uma hora (ou mais) até encontrar um caminho viável para ir
para casa. Estava eu a míseros dez minutos de casa e acabei tendo de dar uma
volta enorme para nela chegar. Essa tem
sido a situação de diversas ruas do centro do Rio de Janeiro quando em grande
temporal:
É interessante lembrar
que muitas das obras que têm sido realizadas no Centro
do Rio de Janeiro, tanto de revitalização quanto de infraestrutura básica, estão
mexendo nas tubulações. Corre-se o risco de haver prejuízos para as próprias
obras ainda em processo e também para as já finalizadas. Afinal, a chuva, sem
ter para onde correr, traz prejuízos.
Lixo
Podemos perceber os bueiros
entupidos de tanto lixo, problema que se agrava, principalmente, pela má
educação dos moradores. Em noites de quinta-feira, sexta-feira e sábado,
principalmente, quando a Lapa ferve, é fácil observar uma quantidade enorme de
lixo nas ruas. Mas, independentemente dessas noites, o centro da cidade é
conhecido por todos como um lugar não muito limpo. Atualmente, além de lixo nas
ruas, observa-se uma quantidade de poeira absurda devido às obras. E nos
perguntamos se isso não pode estar contribuindo de alguma forma também para os
entupimentos dos bueiros.
Justiça impediu obras de prevenção à chuva
Segundo link do portal Ig, http://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/rj/2013-01-03/antes-das-chuvas-rio-parou-na-justica-obras-de-prevencao-a-deslizamentos.html, o Governo do Estado teria entrado
na Justiça “para parar obras de prevenção a escorregamentos”. Como diz o link, o
“Estado pediu e presidente do TJ suspendeu trabalhos para evitar
escorregamentos em áreas de alto risco nas regiões Metropolitana e Serrana”.
Não é de se surpreender que grande
parte do problema, causado por todos esses impactos socioambientais, borbulhe
quando nos vemos inseridos em um planejamento (sim, um planejamento!) que visa
apenas receber a Copa do Mundo e as Olimpíadas. O qual, na busca de mitigar as
demandas mais elementares da infraestrutura urbana, aparenta, ironicamente, ter
como consequência inevitável a provocação de sucessivos vexames e risadas das
organizações internacionais.
Todavia, como se era de esperar,
desde que a cidade maravilhosa se
lançou ao mundo esportivo, reivindicando para si as atenções mundiais, de modo a
barganhar o palco dos eventos – fato que está ocorrendo desde o Pan Americano
de 2007 – as questões sociais gritantes tentaram ser abafadas mais rapidamente,
como com a militarização das favelas, criando-se as UPP´s. Porém se por um lado
muito investiram na questão da segurança – a qual, evidentemente, é de igual
(se não maior) importância – pouco investiram em infraestrutura básica, como se
pode perceber com as consequência das grandes chuvas nos últimos 4 anos. O
fenômeno da chuva e suas flutuações são de ordem natural, já a consequência que
se tem delas é, também, política, à medida que se investe no que se quer
prioritário (e talvez a segurança fosse mesmo prioritária). Fazendo um
mapeamento histórico dessas chuvas, deparar-nos-emos com um quadro revelador:
Xerém (Duque de Caxias) - 2013
No primeiro dia útil do ano,
recém-saídos de uma comemoração universal ocidental – o réveillon – a população
do Quarto Distrito de Duque de Caxias (Xerém) sofreu com um terrível alagamento,
o que já vem sendo recorrente no verão fluminense e na abordagem midiática
incessante. O desastre foi de tal escala que fez com que a comoção pública se
mostrasse engajada, a exemplo do ponto de coleta de donativos que sempre vejo
bem abastecido, na estação das barcas Araribóia. Todas as doações têm como
objetivo suprir minimamente as necessidades mais básicas das famílias vítimas
dessa última enchente emblemática que castigou Xerém.
Vale do Cuiabá, Teresópolis - 2011
Prova de que os fenômenos naturais
extremos – até então chamados de excepcionais e que vêm ocorrendo em uma
constância até agora insuficientemente explicada – não “escolhem” só áreas de
baixa renda, a enchente no Vale do Cuiabá no ano de 2011 foi bem emblemática.
Em manchete publicada pelo canal IG Rio, a 12 de janeiro do referido ano, tem-se
a notícia de que a chuva causou a morte de quase uma dezena de familiares do
executivo Erik Conolly, por exemplo, em Itaipava. Esta enchente ficou conhecida
como o maior desastre natural que o país já conheceu. Se olharmos para o perfil
das maiores vítimas, constata-se que há uma grande concentração nas classes
médias altas. Quando olhamos para o espaço, constata-se que as áreas mais
atingidas foram aquelas de expansão da especulação imobiliária, cujas
construções comprometem a vegetação e o solo. Uma vez vinda a chuva daquela
intensidade, que rapidamente atinge à rocha dura, tudo acima desliza como se
água fosse graxa.
Morro do Bumba - 2010
O estado do Rio de Janeiro, além das
áreas de risco de enchentes, também mostra a outra faceta do problema: a dos
movimentos de massa. O sítio urbano combina formas variadas de baixadas e
morros. Onde há morro de rocha sobreposta por uma camada de sedimentos, tudo
vem a baixo. Caso do morro do Bumba: ainda que a rocha não se fizesse presente,
toda a carga sedimentar foi carregada pela enxurrada. Como agravante, havia o
funcionamento irregular de despejos de lixo por anos, e bastou a fatalidade
ocorrer para que inúmeros especialistas viessem dizer, à época, que era uma
tragédia anunciada. A comunidade localizada no município de Niterói teve,
oficialmente, a perda de 267 vidas, segundo o portal de notícias da Terra. A favela que se formou em cima do
depósito de lixo era sim um risco, negligenciado até as últimas consequências
pela prefeitura. Além das chuvas, explosões também eram muito possíveis de
ocorrer, dado a alta liberação de gás metano, altamente inflamável. Ambos os
casos causaria os movimentos de massa, que de fato explodiram no referido ano.
“Terceiro mundo, se
foi
Piada no exterior
Mas o Brasil vai fica rico
Vamos faturar um milhão
Quando vendermos todas as almas
Dos nossos indios num leilão
Que país é esse?
Que país é esse?
Que país é esse?
Que país é esse?”
Piada no exterior
Mas o Brasil vai fica rico
Vamos faturar um milhão
Quando vendermos todas as almas
Dos nossos indios num leilão
Que país é esse?
Que país é esse?
Que país é esse?
Que país é esse?”
É A P**** DO BRASIL!
Laerte certa vez fez uma tirinha ótima: as pessoas jogando lixo na rua, da janela de casa, da janela do carro, da janela do ônibus... depois, as águas chuva, não encontrando bueiros livres pra escorrer, inundam as ruas e trazem todo o lixo de volta... É um caso a pensar em primeira mão!
ResponderExcluirTodo ano é a mesma coisa, sabe-se de antemão das chuvas qie nos castigam e nada é feito para o contrário. Ja ouvi argumentos em defesa do atual prefeit dizendo que 4 anos é muito pouco tempo para se consertar anos de descaso, pera lá, 4 anos foi tempo o suficiente para ele transformar o Rio de Janeiro no maior canteiro de obras do Brasil, quiçá do mundo e, nenhuma dessas se mostrou eficaz, sendo apenas para embelezamento da cidade para "inglês ver". Outro problema é o "jeitinho malandro" do brasileiro, principalmente o carioca, que sempre arranja uma forma de burlar ainda que prejudicando terceiros, como foi o caso dos donativos a Teresópolis que sofreram desvios. A verdade é que poucos são os preocupados com isso, pois vamos viver de olimpiadas e futebol, né?
ResponderExcluirA Thailandia é um lugar bem humilde e conseguiu se reestruturar depois do Tsunami. O Japão tbm já se reestruturou do furacão e nós? Ah, nós, nós sempre pedimos pra deixar pra amanhã!
Excelente! Inteligentes questionamentos a respeito de uma situação que acontece há muitos anos em vários municípios do Estado do Rio de Janeiro.
ResponderExcluirÉ o tipo do texto que deve ser lido pelo Governador, pelos Prefeitos, vereadores, deputados, engenheiros civis etc e TAMBÉM pela população que faz questão absoluta de jogar lixo pelas ruas.
Nesse último aspecto, a capital é realmente campeã, principalmente em toda a região central e bairros próximos. Uma sujeira absurda 24 horas por dia. Só mesmo vendo pra crer.