quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

“Amor”, novo filme de Michael Haneke – Será que o amor acaba quando em situação limite?

   


Aviso: contém spoiler

            O novo filme de Michael Haneke, cuja pré-estreia na cidade do Rio de Janeiro se realizou sábado passado (dia 12 de janeiro) no cinema Odeon, e cuja estreia no país está prevista para a próxima sexta (18 de janeiro), tem espalhado sensibilidade pela crítica e dado o que falar.
            Ganhador do Globo de Ouro de melhor filme em língua estrangeira, o austríaco Michael Haneke aborda em seu filme a convivência de um casal aposentado, Georges (Jean-Louis Trintignant) e Anne (Emmanuelle Riva), que antes eram professores de música clássica. Certo dia Anne sofre uma espécie de derrame e passa a precisar de cuidados, os quais se tornam, com o passar do tempo, cada vez mais especiais. Georges, corajoso, enfrenta a situação sozinho praticamente até o fim, apesar de todas as dificuldades. Dificuldades geradas, no aspecto físico, pela sua idade e, no aspecto psicológico, pelo forte abalo emocional nele causado por ver situações demasiadamente tristes ocorrendo com sua mulher.  Anne, personagem triste, se vê cada vez mais dependente e, consequentemente, cada vez mais desejosa da morte.
            Através de um olhar extremamente realista sobre a chamada terceira idade, Haneke apresenta (e muitíssimo bem) um filme que fala sobre o que acontece em muitos lares de senhores idosos. E nos faz questionar: Georges enfrentar tudo praticamente sozinho é a maior prova de amor que ele poderia dar a Anne ou seria o que ocorre no final? Surpresa para todos que ainda não assistiram ao filme, o certo é que, em algum momento, Georges chega em seu limite e, o que por alguns pode ser visto como perda de controle, por outros pode ser compreendido como amor. E, inclusive, não só amor pela mulher, como também amor-próprio.
            Contenho-me aqui para não fazer mais spoiler, deixando claro que o filme é triste e maduro. Os protagonistas do filme são dois grandes atores do cinema francês: Emmanuelle Riva é a estrela de “Hiroshima, mon amour” e Jean-Louis Trintignant é o astro de clássicos modernos como “Um homem, uma mulher”.  A atuação de ambos é excelente, dando destaque a Emmanuelle, cuja atuação é brilhante, apresentando ao público uma atuação tão real quanto possível (lembrando que é a sua personagem que mais exige isso, portanto, Jean-Louis não fica para trás, apenas a dificuldade de seu personagem não nos parece ser a mesma). Emmanuelle merece todos os prêmios possíveis.
            O filme é uma coprodução de Áustria, França e Alemanha. Além do Globo de Ouro, recebeu a Palma de Ouro no Festival de Cannes (melhor filme), venceu o European Film Awards na categorias de ‘Melhor Filme’, ‘Diretor’, ‘Ator’ e ‘Atriz’ (além de outras duas indicações), dentre diversos outros. Concorre ainda ao BAFTA, considerado o Oscar inglês, nas categorias de melhor diretor, melhor atriz, melhor filme não-inglês e melhor roteiro original; a premiação ocorrerá dia 10 de fevereiro. Concorre também ao Oscar, inclusive nas categorias tanto de ‘Melhor filme em Língua Estrangeira’, representando a Áustria, quanto na categoria de ‘Melhor Filme’, o que é algo raro; além das categorias de ‘Diretor’, ‘Atriz’ e ‘Melhor Roteiro Original’.  A premiação do Oscar 2013 ocorrerá dia 24 de fevereiro. 

Um comentário:

  1. É possível que eu seja suspeito para falar, tanto pelo amor que tenho pela autora do texto, quanto ao gosto por esse filme, que sem dúvidas é de alta qualidade e que convida todos os espectadores a uma profunda reflexão e reavaliação da vida. Se o filme já é convidativo por si só, depois de ler esse texto excelente - para aqueles que se deram ao prazer de lê-lo - assistir ao filme é quase um intimado. Ótima apresentação e interpretação do filme! Adorei o texto, amor!

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