sexta-feira, 28 de junho de 2013

Exposição “Um Outro Olhar”: tão bela que dá vontade de voltar



 


















        

        Inaugurada ao público no último dia 14, a exposição Um Outro Olhar: Coleção Roberto Marinho, no Paço Imperial, apresenta 202 obras, quase 80 delas inéditas. Concluindo uma trilogia que se iniciou em 1985, a exposição é um belíssimo panorama da arte modernista e abstrata do Brasil, além de expor também algumas peças sacras dos séculos XVIII e XIX.
            A mostra não segue uma ordem cronológica, mas sim uma divisão por temas que tem como objetivo apresentar o modo como diversos artistas trataram diferentemente dos mesmos assuntos. Assim, as obras situam-se nos primeiro e segundo andares do Paço, em salas e ambientes específicos para cada tema: retratos, flores, natureza morta, paisagens, infância, religião, trabalho, esportes, lazer, fauna, abstracionismo.
            A seção de obras abstratas está no segundo andar e é a única ordenada pelos artistas, expondo obras de nomes ilustres como Antonio Bandeira, Iberê Camargo, Tomie Ohtake, Cícero Dias, Maria Helena Vieira da Silva, Manabu Mabe, Aloísio Magalhães e Jorge Guinle, dentre outros. Na última sala do segundo andar são apresentadas também esculturas e tapeçarias. O primeiro andar, dividido em temas, expõe obras importantes de artistas fundamentais à arte brasileira, como Guignard, Portinari, Milton Dacosta, Di Cavalcanti, Ismael Nery, Tarsila do Amaral, Volpi, Lasar Segall, Anita Malfatti e José Pancetti. 
           Com curadoria de Lauro Cavalcanti, diretor do Paço Imperial, a mostra fica aberta ao público até o dia 11 de agosto, consistindo-se em uma exposição de suma importância, por dar a oportunidade de se observar e admirar obras muito belas e importantes, assim como de se conhecer mais a arte moderna do país, através da observação e da capacidade de se encantar com as obras. 
A coleção de Roberto Marinho se deu ao longo de muitas décadas, até o período de sua morte (2003), tendo se iniciado quando tais artistas ainda nem eram famosos e reconhecidos. Marinho sempre frequentou mostras e ateliês, além de ter sido amigo de muitos daqueles que assinam as obras de sua coleção. É relevante ressaltar que, independentemente de posições políticas acerca deste, que foi o presidente das Organizações Globo de 1925 a 2003, os artistas e obras presentes na mostra merecem muito ser prestigiados, não só por serem nomes constituintes da arte brasileira, mas, principalmente, porque a maior parte das obras da exposição é realmente apaixonante.
            O Paço Imperial fica aberto de 12h às 18h e se localiza na Praça Quinze de Novembro, 48, no centro da cidade do Rio de Janeiro. Quanto ao Paço, uma crítica e observação: deve-se ter muito cuidado em algumas de suas escadas, como é possível perceber na foto abaixo, são absurdamente perigosas, pois não há nada entre o corrimão e os degraus, apenas um vazio que, basta escorregar, para ser possível a queda de uma altura considerável.










quarta-feira, 26 de junho de 2013

Plenária define os rumos do movimento popular

Foto: Carlos Pinho

Por Carlos Pinho.

Muito debate, intervenções acaloradas, participação popular e diversas demandas marcaram a plenária do Fórum dos Movimentos Populares, na noite da última terça-feira, 25, que ocorreu no Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS-UFRJ) no Largo de São Francisco, no centro do Rio.

A reunião, que contou com estudantes, trabalhadores, representantes de diversos movimentos sociais, coletivos, grupos e partidos, definiu a pauta e os dias dos próximos manifestos. 

Os pontos principais da pauta são: tarifa zero para o transporte público, desmilitarização da polícia e liberdade aos manifestantes presos. As demais reivindicações podem ser apresentadas durante os protestos. A ação policial no Complexo da Maré, na última segunda-feira, 24, que resultou em 9 mortos até o momento, foram repudiados veementemente.

Na quinta-feira, dia 27, a concentração será na Candelária às 16h. No domingo, dia 30, a mobilização partirá da praça Saens Peña, na Tijuca, por volta das 15h, rumo ao Maracanã.

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Lima Barreto, ao terceiro dia - Um incansável “mosqueteiro intelectual” recebe homenagem no teatro

[1] A expressão mosqueteiro intelectual é de Nicolau Sevcenko (Literatura como Missão), que em trabalho de crítica literária se dedica à obra de Lima Barreto e Euclides da Cunha. Como características destes mosqueteiros, o autor identifica um mal-estar com a República, por esta não reconhecer os intelectuais e garantir a promoção da mediocridade. A falta de reconhecimento ao invés de calá-los servia de mais combustível para inflamar suas críticas e ações.
[2] Contém spoilers, mas a sua leitura vale à pena. 






Lima Barreto, ao terceiro dia, peça em cartaz no Teatro Dulcina até o dia último deste mês (próximo domingo), é um prato cheio para aqueles que gostam de literatura e teatro. Talvez uma oportunidade ainda maior para aqueles que não conhecem a história de vida de Lima e como, ao contar suas histórias, em uma literatura engajada e de forte crítica social, mostra seu humor sarcástico e o brilhantismo de ir contra o idealismo romântico: a literatura bruta como a vida. Este brilhantismo é ofuscado pelos ataques racistas de uma sociedade que não estava disposta, nem acostumada, a digerir uma literatura rebelde e incômoda, ainda por cima pelos lábios de um negro. Um dos nossos maiores literatos só viria a ter o reconhecimento que merecia, como muitos escritores, postumamente.
Como tradicionalmente ocorre, o autor e sua maior obra são associados: O triste fim de Policarpo Quaresma é Lima Barreto. Tal associação rege a peça e, apesar de comum, é característica primordial para a sua originalidade, visto que a peça não objetiva nem apresentar um panorama biográfico do autor, nem apenas narrar o enredo de sua principal obra. Se o par autor – obra principal é recorrente nos livros, ao subir ao palco torna-se inesperado. A peça é recheada com boa dose de humor – ora inteligente, ora sarcástico – e de criatividade, que expõem a excelente qualidade do texto escrito por Luis Alberto de Abreu. O retrato que se pinta de Lima Barreto combina a ficção e a interpretação de Abreu sobre o literato e os fatos de sua vida, as críticas que esperava, mas não recebeu: o silêncio que tinha como base um abismo bem mais profundo de uma sociedade recém saída da escravidão e do império. Império este do qual Lima mostrou-se, em vida, favorável e nostálgico, vendo aquela sociedade como uma tradição da solidariedade que era completamente ausente na República que via nascer.
Muitas das críticas ácidas que Lima Barreto faz a esta República insurgente estão também muito bem expressas na sua República das Bruzundangas. Alusões explícitas de “Os Bruzundangas” somam-se ao correr do Triste Fim de Policarpo. O Lima maduro trava diálogos comoventes com os seus personagens do Romance e até dele para com ele mesmo, em uma espécie de devaneio: o Lima de 30 anos de idade. Isso ocorrendo em meio ao regime de internato que fora submetido em um hospício, em função de suas depressões. Ficam patentes as incongruências indissolúveis entre a ciência, cujo portador é o médico, e o escritor. Há toda uma trama entre Lima, esse médico que nenhuma certeza pode oferecer a seus pacientes, e Felipe, há longa data internado, em uma espera infrutífera de uma terça-feira, possível data de sua saída, que nunca chega.


Nando Cunha interpreta o jovem Lima Barreto nos esforços de escrever seu grande romance. Esse núcleo é composto também por Mario Hermeto, o ator que dá vida à personagem Gregorinho. Contracenam – como todo o elenco – de forma magistral; sendo a parte mais cômica da peça a expressa pela embriaguez constante do amigo de Lima. Este, como em Os Bruzundangas, diz que há pseudoliteratos que querem figurar na ABL, um mundo onde só os bacharéis têm vez e esses “doutores” sendo os únicos aceitos socialmente para o estudo. No fundo, porém, para Lima Barreto, o objetivo maior de todos eles é fazer parte da burocracia dos empregos públicos. O escritor vê no Barão do Rio Branco o exemplo maior da personificação desse mal. Entre uma recordação e outra, reaparece o médico. A animosidade entre doutor e escritor decresce, pois aquele reconhece a inteligência e comportamento atípico de Lima, incansável em suas lúcidas críticas. É essa história que o Lima Barreto de Luis Alberto de Abreu vive: internado, interagindo em um misto de alucinação e emoção profunda com sua juventude e com os personagens do romance em que o protagonista é Policarpo.


Sim, estão todos lá: saindo do encontro da caneta com o papel do jovem Lima, ao mesmo tempo em que, internado quando mais velho, observa e dialoga, chegando ao ápice de um embate existencial entre ele e o major Quaresma. Este protagonista que dá nome ao livro é ridicularizado por seu ufanismo e idealismo, tendo como triste fim sua condenação ao fuzilamento por Floriano. Seu projeto de fazer do Tupi a língua oficial do país fracassa. O intuito de modernizar o sistema agrário do país conhece o mesmo destino de seu Tupi. Todos, exceto Ismênia, não escapam aos ataques por parte daquele que os inventou. Ismênia é Lima Barreto. O Lima ressentido e da luta não se reconhece com o Lima frustrado do hospital: segue na construção de seu romance.
Tecnicamente, tudo parece ser digno de um grande espetáculo, digno ao igualmente grandioso nome Lima Barreto, que ficou registrado na história da literatura nacional. O elenco de ótima qualidade e uma atuação que a mim pareceu impecável; um cenário belo e criativo, que retrata a vida urbana cerceada de livros.
 A peça tem duração de cerca de uma hora e meia e apresenta, além da qualidade, outras importantes vantagens: localização e preço acessível. O Teatro Dulcina fica na rua Alcindo Guanabara, Cinelândia, no centro da cidade do Rio de Janeiro. O valor dos ingressos é de 20 reais a inteira. O espetáculo ocorre de sexta a domingo, às 19h. As últimas apresentações serão entre os dias 28 e 30, neste fim de semana. Não percam!

Por Felipe Cavalcanti

terça-feira, 18 de junho de 2013

Nada será como antes.



Por Carlos Pinho.

Percepções de um marco.
  
Sobre a internet e a cobertura da imprensa

A internet mostrou do que é capaz nos últimos dias. O potencial mobilizador das redes sociais foi explorado de uma forma nunca antes vista na história deste país. Setores da mídia tiveram que readaptar suas narrativas, já que suas palavras não exercem o mesmo efeito de outrora na população. Isso ficou notório, por exemplo, quando José Luiz Datena, da rede Band de televisão, mesmo alterando a enquente "você é a favor dos protestos?" para "você é a favor dos protestos com baderna?", não conseguiu conter o avanço do “sim”, que triplicou o número de simpatizantes sobre o não. A crise, que assola a mídia tradicional e demite centenas de profissionais a cada mês, ficou mais do que evidenciada nesse processo.

Sobre o movimento

O movimento não teve cara, não teve líderes figurões, não teve partido, tampouco foi fomentado – ou contido - pela imprensa. Diferentemente do movimento dos caras pintadas, que pediu o impeachment do, então presidente, Fernando Collor de Mello, esse guarda uma espontaneidade incomum no histórico de mobilizações no país e natural de quem vem sendo açoitado ano a ano, calado, aprisionado em suas aflições e ao ouvir, a partir de uma brecha, o grito de indignação, que lhe é familiar e representa a sua causa, bota o pé na porta e se junta à catarse coletiva. A gota d’água foi o aumento na passagem de ônibus, estopim que rompeu a bolsa do comodismo e fez com que cada canto do Brasil desse à luz a algo que já estava em gestação há muito tempo. É o movimento do sentimento.

Por ser espontâneo, é difícil de ser totalmente coeso em seus meios de representação. Mas esse, considerando a grande multidão, manteve um comprometimento popular louvável. O uso da violência, por uma pequena parcela de brasileiros, só dá subsídios àqueles que querem manipular e desvirtuar o caráter do movimento. Mas, como disse, esse é o movimento do sentimento. E, quando se trata do povo, em massa, reunido para externar a sua opinião, para, de fato, se manifestar, trata-se também de algo que abarca uma gama de posições, matizes e níveis de repúdio, descrédito, esperança e estresse.  Enfim, sentimentos. Pode abarcar até os mal-intencionados, os oportunistas e os tendenciosamente infiltrados (lembre-se do que aconteceu no Riocentro em 1981). O que não podemos é substituir o todo pela parte.

O poder aquisitivo do brasileiro aumentou? Aumentou. Entretanto, o povo, que agora pode adquirir utensílios impensáveis em tempos de arrocho, vê o avanço dos preços, das tarifas, da precariedade dos serviços públicos, dos abusos do Estado, do ataque aos nossos direitos e da corrupção. São elementos suficientes para tirar qualquer trabalhador honrado do sério, concorda? Esse mesmo povo que vive na embalagem contraditória do primeiro mundo reivindica um conteúdo que faça jus ao título propagandeado pelos governantes em suas campanhas publicitárias. Ganhamos do Japão no futebol, no entanto, eles nos goleiam no que realmente importa.

Para quem faz questão de criticar a ação violenta - e criticável – de alguns brasileiros

Acho totalmente válido que critiquem também a violência do Estado, que desabriga cidadãos, que atira primeiro e só pergunta “quem é” depois, que desvia o nosso dinheiro e usa-o como bem entende, que despeja uma fortuna absurda - reunida a partir do nosso suor para manter o nome limpo na “praça” – em eventos que se resumem, no fundo, a dois meses de pura ilusão –, que ignora veementemente e calhordamente abismos e dilemas sociais gritantes e que não faz muita questão de esconder tais práticas e ainda ri da nossa cara em rede nacional.



Sobre a ação policial

Não vivemos numa democracia plena. A truculência policial, transmitida ao mundo, nas ações que tentaram coibir os manifestantes no Rio e em São Paulo na semana passada, evidenciou algo que alguns tentavam manter guardado na gaveta do esquecimento: a memória da ditadura. Os resquícios das práticas da época da ditadura abriram uma questão: estamos num processo de redemocratização que se estende desde o governo Geisel. Não vivemos numa democracia plena. Precisou-se de uma mobilização desse porte e, principalmente, durante um período de grande exposição do país para que fossem reveladas essas feridas mal cicatrizadas. Afinal, como cantava Cazuza, “meus inimigos estão no poder”. O triste é constatar que, aos “inimigos” historicamente infamados, incorporaram-se os traidores.

Sobre os políticos

Não tenho o que dizer além do que já disse. Mesmo porque ninguém abriu a boca até agora. Não sei, mas acho que temem algo. Quem sabe seja o povo? (até o fechamento deste artigo, nenhum político havia se pronunciado.)

Causas e efeitos

O problema não é de partido e nem as reivindicações tem caráter partidário. O problema é de um conjunto de práticas de um sistema que se perpetua há décadas. É o efeito de uma má digestão do brasileiro com relação a toda podridão que vem sendo exibida há anos como carne no açougue. Nosso dever é mostrar que não estamos dormindo no ponto diante dos desmandos, independentemente de quem esteja no poder.

Não temos partidos. Temos legendas que são trocadas de acordo com a conveniência do político. Poucos têm comprometimento ideológico. A esmagadora maioria se conduz pelas cifras e pela dança das cadeiras do poder. Discutir pessoas e partidos é inútil num sistema corrompido. Conhece a história da erva daninha? O que nós precisamos discutir é um país.

Algo muito importante pôde ser assistido e vivenciado no dia 17 de junho de 2013. Eu não estou meramente contemplando um passado bem recente - e antologicamente presente no presente. Estou vislumbrando o futuro. Momentos como esse não passam sem deixar marcas históricas. Não sei o que vai acontecer. Ninguém sabe. Mas a cultura não é estática. Ela incorpora, interage e/ou substitui elementos, anseios, personagens, dilemas e representações. Ela está em constante transformação. Transformação, muitas vezes, dolorida e conflitante. A única coisa que sei – além do que já disse – é que a primeira coisa que me veio à lembrança no dia 17 de junho de 2013 foi Chico Buarque cantarolando nos tenebrosos (porém, criativos) anos de 1970, “amanhã vai ser outro dia”. 


segunda-feira, 10 de junho de 2013

ELLES: Mulheres artistas na coleção do Centro Pompidou


        Inaugurada no dia 24 de maio, a exposição “ELLES: Mulheres artistas na coleção do Centro Pompidou” segue até o dia 14 de julho, no CCBB-RJ, mostrando ao público diversas obras de mulheres artistas muitas vezes esquecidas ou ignoradas e, em alguns casos, comumente associadas aos nomes de seus maridos e familiares. Vídeos, fotografias, pinturas, desenhos, instalações e esculturas de 65 artistas mulheres dos séculos XX e XXI – arte moderna e contemporânea – mostram que elas são muito mais que pessoas do sexo feminino: são artistas grandiosas que se utilizaram do mecanismo da arte para questionar e romper estereótipos, deixar claro que o meio artístico não cabe só aos homens e que nele não há fronteiras para se expressar sentimentos, dúvidas e o que mais se quiser.
            O Centro Georges Pompidou/Musée National d’Art Moderne é um dos museus mais importantes da França, localizado em Paris, o qual abriga uma das maiores coleções de arte moderna e contemporânea da Europa. Em 2009 o Centro Pompidou apresentou uma exposição surpreendente cujo objetivo foi contar um pouco da arte destes períodos apenas sob o ponto de vista das mulheres. O acervo apresentado em tal mostra foi refinado para vir ao Brasil.
            Perpassando movimentos artísticos como o cubismo, abstracionismo, dadaísmo, surrealismo, arte conceitual, minimalismo, dentre outros, a exposição é muito rica e ocupa os primeiro e segundo andares do prédio do CCBB-RJ. Alguns dos grandes nomes são a mexicana Frida Kahlo, Sonia Delaunay (esposa de Robert Delaunay), Louise Bourgeois, Valérie Belin e a fotógrafa Nan Goldin. O Brasil é representado por nomes como Lygia Clark e Lygia Pape.
            É importante lembrar que há uma seção não recomendada aos menores de 14 anos e outra não recomendada aos menores de 18 – esta, por sinal, talvez seja a seção mais política de todas, denominada “Pânico Genital”. Evidentemente, a sexualidade é um dos temas presentes em toda a exposição, assim como os estereótipos da vida doméstica, da obrigação de beleza e da mulher como objeto sexual.
     Alguns destaques, dentre muitos outros, são “O Quarto Azul”, de Suzanne Valadon; “Praça da Concordia”, de Alice Halicka; “A Máquina Óptica” e “Egito”, de Maria Helena Vieira da Silva; “Poesia de palavras, poesia de cores”, de Sonia Delaunay; “Reflexões de uma Cascata I”, de Louise Nevelson; “Ttéia 1,A”, de Lygia Pape; “Eu quero sair daqui”, de Birgit Jürgenssen; “Retrato de Família”, de Dorothea Tanning; e o vídeo “Batimento do coração”, de Nan Goldin, em que são mostradas uma série de fotografias da intimidade de casais amigos de Nan.

       


           




quinta-feira, 6 de junho de 2013

“Somos Tão Jovens” - O Filme





                Apesar de já estar em cartaz há algum tempo, o filme ainda merece uma atenção maior. O longa de Antonio Carlos da Fontoura apresenta Thiago Mendonça no papel principal, mostrando ao público um jovem Renato Russo intenso, passional e atormentado por suas dúvidas. Um jovem músico, inicialmente influenciado pelo movimento punk e mostrando-se ser, posteriormente, um grande romântico.
                A imagem de Renato Manfredini Júnior que é apresentada ao público é romantizada, idealizada e adaptada aos objetivos do filme e do diretor. O filme não é um documentário; é uma ficção baseada na obra e vida de Renato Russo, uma homenagem a ele. E, como qualquer ficção baseada em alguém, como o próprio gênero já deixa claro, apresenta cenas que não são fatos, ou seja, muito do que é contato ao longo do filme não aconteceu ou aconteceu de modo um pouco diferente.
                A personagem Aninha encarnada pela atriz Laila Zaid, por exemplo, não existiu realmente. Foram condensadas nessa personagem diversas amigas que Renato teve, com as quais viveu momentos diversos de sua vida, chegando mesmo a namorar algumas delas. “"Aninha é uma amálgama de várias pessoas importantes para Renato, alguém que pudesse viver as descobertas com ele", diz o roteirista Marcos Bernstein” (A Folha de São Paulo, 17/05/2013).
                Uma das cenas mais românticas do filme, aquela em que Renato canta a música “Ainda é Cedo” como uma forma de mostrar a Aninha seu sentimento por ela e seu arrependimento pelo erro que cometeu é uma das cenas que mais gera controvérsias. A irmã de Renato, Carmem Teresa Manfredini, tem outra impressão sobre essa música: "Já ouvi dizer que era sobre a cocaína, não sobre alguma menina", afirma Manfredini. O vocalista da banda Plebe Rude, a qual aparece no filme em alguns momentos, diz: "Pelo que eu saiba, a música foi feita para uma ex-namorada do Ico Ouro-Preto [ex-guitarrista da Legião]", diz Philippe Seabra.
                O show na Festa do Milho de Patos de Minas também não ocorreu bem do modo como é mostrado no filme: não foi a música “Que País é Este” que a Legião Urbana tocou, e sim “Música Urbana 2”.  O filme não mostra também o fato de que as bandas Legião e Plebe Rude foram levadas à delegacia após o show, para esclarecimentos.
                Mais de 1,5 milhão de pessoas já assistiram ao filme. Sucesso de vendas e de boas críticas do público, o filme recebeu algumas críticas não tão boas devido a esses acontecimentos mostrados de modo um pouco “retorcido”. Porém, como já foi dito, é importante lembrar que o filme é uma ficção baseada em fatos reais, não um documentário. E, como tal, o filme atinge seu objetivo: o de fazer uma homenagem a um eterno ídolo da música brasileira, que hoje teria 53 anos.

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Tim Maia, o musical: um elogio geral ao espetáculo e uma crítica ao Theatro Net Rio

          
            Tim Maia – Vale Tudo estreou em 2011 e, desde então, fez um sucesso estrondoso. Após uma temporada nacional e outra em São Paulo, retornou em novembro de 2012 ao Rio de Janeiro, seu lugar de estreia, no Theatro Net Rio. O musical baseado na biografia Vale tudo – O Som e a Fúria de Tim Maia, escrita por Nelson Motta, que assina o texto também da própria peça, fica em cartaz apenas até o final deste mês.
            O musical arrebata o público ao narrar a vida turbulenta de Tim Maia, que teria feito 70 anos em 2012. Seu sucesso levou ao estrelato o ator Tiago Abravanel, que antes já havia feito diversos musicais, assim como Danilo de Moura, que passou a alternar com Tiago o papel principal desde a temporada de São Paulo, atualmente sendo o único a desempenha-lo.
            O espetáculo venceu os Prêmios Qualidade Brasil 2012 nas categorias Melhor Musical, Melhor Direção e Melhor Ator (Tiago Abravanel), dentre outros. Com direção de João Fonseca, o musical situa as músicas de Tim Maia em momentos de sua vida, mostrando o quanto elas eram pessoais e como ambas – vida e música – eram intensas e passionais.
            Com duração de cerca de 3 horas, com um intervalo de 15 minutos, o musical é recheado de sacadas inteligentes (só assistindo a peça para saboreá-las), porém peca em alguns momentos com cenas exageradamente escrachadas. Na busca pelo riso fácil, diversas personalidades são apresentadas de modo demasiadamente caricatural, quase debochado, como Roberto Carlos, Nelson Motta e Elis Regina. O objetivo do riso é conquistado, porém um pouco da qualidade é perdida devido ao espetáculo fazer questão de ser mais uma prova de que, no Brasil, teatro não é levado a sério sem ser comédia.
            No entanto, isso não é motivo para o musical ser menos valorizado ou não visto. Não só é emocionante conhecer mais sobre a grande figura que foi Tim Maia – e que sempre será – como é delicioso ouvir músicas como “Azul da Cor do Mar”, “Primavera”, “Não Quero Dinheiro”, “Vou pedir para você ficar”, “Um dia de domingo”, “Chocolate”, “Gostava tanto de você” e “Sossego” situadas em momentos de sua vida: sua infância na Tijuca, quando era entregador de marmitas; sua fase em Nova York; as primeiras bandas, como a que teve como integrante Roberto Carlos; sua morte. Os amores, a carreira e a solidão.
            Afundar-se em bebidas e drogas não é exatamente algo raro de se ver, porém sua intensidade de sentimentos sem dúvidas o é. E é exatamente isso que faz dele tão especial, juntamente com o seu suingue e sua mistura de soul, música popular brasileira e funk, novidade na época e que demorou a conquistar o público. Mas, quando finalmente o conquistou, foi de vez: não só até hoje, como para todo o futuro, pois Tim Maia fez história em nosso país.
            Os demais atores também merecem atenção: Isabella Bicalho, Lilian Valeska, Pedro Lima, Andreh Vieri, Bernardo La Roque, Reiner Tenente, Evelyn Castro, Pablo Ascoli, Aline Wirley e Leticia Pedroza. Cada um deles interpreta diversos personagens, como os pais e irmãos de Tim Maia, companheiros musicais e personalidades importantes.


           
Comentários pessoais
            Eu, particularmente, não gosto das cenas escrachadas: aquelas que tentam fazer rir através de exageros corporais e grande acentuação de características do personagem. Porém não posso negar que eu era uma das poucas pessoas na plateia a não rir em tais cenas.
            Demorei a assistir ao espetáculo, mas finalmente o pude fazer. Recomendo a todos que aproveitem este último mês de apresentação. Não encontrei informação sobre se o espetáculo não ocorrerá mais ou se irá para outro lugar.
            Infelizmente não tive a oportunidade de assistir o espetáculo com o Tiago Abravanel no papel de Tim Maia, então não posso fazer uma comparação. Danilo de Moura desempenha muito bem seu papel e canta muito bem também. Porém, não sei se por algum motivo específico do dia, em alguns momentos se mostra não muito profissional: ri demais. Se calhou de acontecer apenas no dia em que assisti ou não, eu não sei, porém o fato é que aconteceu de Danilo não conseguir segurar o riso em diversos momentos, enrolando-se em várias falas e “parando” a peça por segundos para que conseguisse se recompor. É muito bacana ver que o artista também está se divertindo, porém isso que é bacana ocorrendo uma vez ao longo do espetáculo, é “estranho” ocorrendo muitas vezes.

Uma crítica feroz ao Theatro Net Rio
            Localizado na Rua Siqueira Campos, no bairro de Copacabana, o antigo Teatro Tereza Rachel foi arrendado no início de 2011, pelos produtores Frederico Reder e Juliana Reder, após dez anos parado. Desde então até o início de 2012 foi reformado, tendo patrocínio da empresa NET, tornando-se este o seu novo nome: Theatro Net Rio, dividindo-se na sala Tereza Rachel, com capacidade para quase 700 pessoas e na sala Paulo Pontes, com mais de 100 lugares.
            A reforma que foi realizada, porém, mostra-se um pouco insatisfatória. Independentemente de como o teatro era antes, são perceptíveis algumas falhas de infraestrutura. Primeiramente, há lugares no setor Balcão dos quais se vê apenas parcialmente. Isso é normal e ocorre em diversos teatros, porém o que deve ficar claro é que não há, em nenhum lugar, informação sobre isso. Quem não conhece o teatro corre o risco de comprar ingresso para um destes assentos sem saber e pagando o mesmo preço dos demais. É absurdo que não haja informação sobre isso nem no site do Theatro Net Rio, nem no site do Ingresso Rápido (o qual vende entradas para o musical), nem na própria bilheteria. Não só deveria haver informação explícita sobre isso, como esses assentos deveriam integrar um setor específico (setor Visão Parcial) e serem mais baratos que os demais, como muitas vezes o Citibank Hall RJ faz, por exemplo.
            Além disso, parece que o segundo andar, onde se situa o setor Balcão, não era para existir, pois tanto no intervalo, quando todos aproveitam para ir ao toilette, quanto na hora da saída, percebe-se que não há espaço para todos: quantidade insuficiente de sanitários, o que resulta em filas enormes e “engarrafamento” na hora da saída. São recomendáveis algumas reformulações no espaço.