quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

domingo, 11 de dezembro de 2011

Unhas Vermelhas

Ela o arranhou, e marcado por suas unhas, extasiado, ele dormiu. Uma cama, uma janela aberta deixando à vista a noite tempestuosa, desejo e amor – era isso que tinham e apenas disso precisavam. Enquanto a chuva caía lá fora, o calor ali se fazia. E, naturalmente, os beijos se multiplicavam. A língua que saciava a fome de ambos, era a mesma que a fazia aumentar. E a saliva que molhava os seios dela era a mesma da qual ela sentia sede.

Os gemidos baixos eram sinceros e nenhuma atuação, por melhor que fosse, seria capaz de competir com eles. Os olhos tudo diziam, mesmo quando as pálpebras se encontravam fechadas. O prazer maior era poder viver aquele momento, cheio de desejo e ternura, e acima de tudo, não só carnal, mas também espiritual.

Fazer amor é o encontro de duas almas e a concretização do que já se faz através do olhar, do abraço, do diálogo e da energia positiva e maravilhosa que é emanada por qualquer pessoa que ame. E baseando-se nisso eles se amaram intensamente.

E as mãos que nela entravam eram as mesmas que a levantavam quando ela caía. E as pernas que se misturavam com as dele eram as mesmas que caminhavam ao lado das suas. A boca que descia e subia em movimentos leves, ardentes e carinhosos era a mesma da qual saía a voz sempre reconfortante que dizia “eu te amo”.

A vontade de satisfazer um ao outro era tamanha que os pensamentos só se resumiam a amar. A dedicação um ao outro era completa, em todos os aspectos. E ninguém os tirava o sublime prazer que era poder dar à pessoa que mais amavam o que tinham de mais precioso: o seu amor, corpo e mente.

E depois de muitas carícias, mordidas e calafrios excitantes, o êxtase chegou e o espírito atingiu o ápice do que se pode ser chamado, pelo homem, de “perfeição”. As unhas vermelhas e atraentes dela o arranharam, vezes mil fazendo carinhos em suas costas e deitada sob seu corpo, pele na pele, sentindo o seu calor. E foi assim, arranhado pelas unhas vermelhas dela e elevado ao mais incrível patamar de amor e de prazer, que ele dormiu.

domingo, 4 de dezembro de 2011

Claudio Aun – Um artista que vale muito a pena conhecer




Claudio Aun já teve exposições de suas obras na França, em Portugal, na Alemanha, Holanda, Uruguai, EUA e, é claro, Brasil. Ainda assim o seu nome ainda não é tão conhecido, como é comum de se ver acontecer nas artes.

Sua carreira se iniciou em 1969 em São Paulo capital. Em 1971 foi para o Rio de Janeiro e em pouco tempo participou de mostras individuais e coletivas. Suas obras principais consistem em esculturas, muitas em mármore ou em bronze, e em pinturas. Mas há também instalações, jóias, dentre outros. Suas obras são elaboradas com base em matrizes oníricas e simbólicas, é um traço pessoal.

Em novembro de 2010 foi reconhecido sendo convidado a assumir uma cadeira na Academia Brasileira de Belas Artes, tendo como patrono o fotógrafo Marc Ferrez. Claudio Aun está comemorando este ano 40 anos dedicados às artes plásticas, com muita perseverança e criatividade. Morou em Carrara, na Itália, onde aprendeu a esculpir em mármore, passando a se dedicar às esculturas.

Aun trabalhou como cenógrafo visando à formação de novos artistas brasileiros. Há mais de dez anos é professor na Casa de Cultura Laura Alvim e em seu atelier, instalado no Morro da Conceição, no centro da cidade do Rio de Janeiro.

Suas obras são interessantíssimas, originais. Vivas. As esculturas muito bem trabalhadas e as pinturas não são só bem trabalhadas como cheia de cores que dão a ela um tom mais impressionante ainda, como se já não bastassem as próprias imagens representadas. Chocantes, instigantes, de extrema criatividade. Observe-as, elas falam por si.






domingo, 20 de novembro de 2011

Tempo ao tempo


Viro, me reviro, me desviro na cama.

Minha língua chama pelo teu beijo quente.

Só o teu corpo pode apagar esta chama.

Amor, vem aqui e me diz o que você sente.


Sim, eu chamo por você a todo instante.

As olheiras demonstram as noites mal dormidas.

Insônia é algo que tem se tornado constante.

Será que nossas lembranças por você já foram esquecidas?


Levanto. Vou até o armário, cujo lado direito agora se encontra vazio.

E o vazio é a recordação que tenho de suas roupas e sapatos.

Imagino você me amando como outrora, pareço uma gata no cio.

Sem ter como aliviar o desejo e a saudade, tristes e intensos fatos.


Viro, reviro, desviro cartas, fotografias, momentos representados em papel.

Lágrimas caem sem expressar nem um mínimo da falta que sinto.

Será que você já tem outra? sinto na boca o gosto amargo do fel.

Vou até a sala e viro logo duas doses de absinto.


Minha imediata tontura alivia a sensação de mal estar.

E a esta dá lugar a uma sensação de conformismo.

Ganho a consciência de que melhor solução que o tempo não há.

E deixo de lado qualquer extremismo.


Viro, reviro e desviro meu próprio corpo.

Descubro minha capacidade de me fazer sentir os prazeres carnais.

Ser autosuficiente, independente, talvez seja meu escopo.

Apesar do prazer, não dá. Corpo, cheiro e voz de homem são fundamentais.


Não vou lhe buscar em outros corpos. Não é possível.

Não vou me desvalorizar e me relacionar com qualquer um.

No fim das contas o término não é assim tão terrível.

Não é o fim do mundo, nem é incomum.


Viro, reviro e desviro meus pensamentos.

Deito aliviada após reflexões e logo durmo calmamente.

Fazem parte da vida não só as alegrias, mas também os sofrimentos.

E tudo será superado, com um gosto bom como o seu beijo quente.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

A Índia vista por belos olhares

O CCBB-RJ está comemorando 22 anos de vida ativa, na qual tem exercido muito bem o seu papel de levar cultura à população carioca de forma prática, geralmente bem realizada e ou gratuita ou a preços acessíveis. E na comemoração deste aniversário o CCBB-RJ está homenageando a Índia com a maior exposição do ano em seu espaço de 18 salas.

A exposição conta com 380 peças cedidas por diversas pessoas de diversos países. Muito rica, a exposição abrange 3000 anos de cultura indiana, da Idade Antiga a Contemporânea. Uma boa exposição sobre a índia não poderia ser menos rica e possuir menos elementos, afinal, é um país de numerosa população que se divide em cerca de 200 etnias, mais de 20 línguas oficiais, dentre as quais se destacam o Hindi e o inglês e algumas religiões, sendo as principais o hinduísmo, o budismo, ou jainismo e o sikhismo. A exposição perpassa bem as três primeiras, assim como apresenta uma diversidade de objetos típicos que vão de utensílios domésticos a vestimentas, como os saris usados pelas mulheres. São longas peças de pano, geralmente com cerca de 6 metros de tecido, que vão sendo enroladas na mulher, parecendo vestidos que cobrem todo o corpo. Há também muitas fotografias interessantes que mostram aspectos da cultura, inclusive diária, dos indianos.

A exposição se divide em quatro módulos com focos diferentes: os Deuses, a Formação da Índia Moderna, a Arte Contemporânea e peças datadas de 200 a.C. até 2011. Há espaços dedicados a Ghandi, o grande exemplo que o mundo tem de pacificidade. Há ainda um dedicado à novela Caminho das Índias, que se revela apenas como forma de mostrar que o Brasil já teve recentemente uma grande expressão artístico-comercial com interesse na cultura indiana. Há também um espaço para a famosa Bollywood, responsável pela maior parte da cinematografia indiana e que tem crescido cada vez mais a ponto de ser considerada, no mínimo, no mesmo patamar de Hollywood. O nome Bollywood surge da fusão de Bombaim (antigo nome de Mumbai, cidade onde se localiza Bollywood) e de Hollywood (nome dado à indústria cinematográfica norte-americana).

A exposição peca apenas nas legendas iniciais das peças. Quem não conhece um pouco da cultura indiana perde-se em alguns momentos perguntando-se quem é Madhubani, Sita e Ruana, por exemplo. As explicitações aparecem depois, em outras obras.

É muito interessante ver o quanto os indianos são caprichosos e criativos. Vivem em busca da espiritualidade e em harmonia com ela. Dedicam-se com amor aos seus trabalhos, sendo a maioria manual e de belíssimo teor artístico. São todos envoltos em detalhes, geralmente também em muitas cores. Não importa se o trabalho demora pouco ou muito pra ser feito, é perceptível que são feitos com amor.

As mandalas, os desenhos dos deuses, mosaicos, dentre outros, aparecem constantemente. Os animais são sagrados, o Ganges é sagrado e banhar-se nele, mesmo com toda a poluição, é um ato de fé e de purificação. Um turista tem de tomar cuidado ao andar em suas ruas, onde animais andam livremente, onde não há placas de trânsito e andam juntos carros, animais e pedestres por todos os lados e em todas as direções. Para nós, uma aparente bagunça. Para eles, costume. Isso é a cultura de cada lugar. Isso é o bacana de viajar, mesmo que sem tirar os pés no chão. Esta exposição proporciona uma linda viagem, na qual vale à pena embarcar.

É lindo ver como em um país que sofre com muito precária infra-estrutura, com miséria, fome e doenças há pessoas que se dedicam tão lindamente à espiritualidade, sendo simplesmente felizes apesar da visão triste diária. Não se pode esquecer que, é claro, esta é apenas uma parte da população. O sofrimento, a violência, o mau caráter e a maldade existem em todo lugar, até mesmo em um país que é templo de uma grande busca pela espiritualidade. E é ainda mais compreensível quando se vê crianças tão magras e tanta sujeira pelas ruas. É uma linda cultura, com uma realidade ao mesmo tempo bonita e triste.

De qualquer modo, com seus exageros, realidades e ilusões, é possível se fascinar por esta cultura tão diversificada e tão diferente da ocidental. A exposição no CCBB-RJ vai até o dia 29 de janeiro de 2012 e funciona das 9h às 21h de terça a domingo, gratuitamente. O CCBB-RJ se localiza da Rua 1º de março, 66 – Centro.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Os 80 anos do Maior Monumento da Cidade Maravilhosa

No dia 12 de outubro deste ano o grande monumento conhecido como o Cristo Redentor completou 80 anos. Inaugurado em 12 de outubro de 1931, demorou cinco anos para ficar pronto e se localiza no morro do Corcovado, a 709 metros acima do mar.

Difícil um brasileiro não ter conhecimento sobre em que consiste o Cristo Redentor, mesmo que nunca o tenha visitado. Pode-se quase generalizar a ponto de se dizer que, a cada dia que passa, é mais rara uma pessoa que não o conheça de nome. Desde sua construção se tornou um dos maiores cartões-postais da cidade do Rio de Janeiro. Passou a aparecer sempre em novelas e também a ser temas de obras de arte. Aparece inclusive em filmes estrangeiros como na animação estadunidense “Rio” e no também estadunidense “2012”, dentre outros. A sua fama como uma obra de beleza rara, grandiosa e da onde é possível ver uma bela vista cresceu ainda mais depois de 2007, quando foi considerado uma das sete novas maravilhas do mundo moderno, através de votação realizada pela New 7 Wonders Foundation, pela internet. O concurso não possuiu o apoio da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e a Cultura devido à falta de critérios científicos na escolha, mas apesar disso os brasileiros se sentem muito orgulhosos.

No entanto, mesmo com tanta fama, são poucos os que conhecem a sua história. A primeira sugestão de construção de um monumento religioso no local foi pelo padre Pedro Maria Boss à Princesa Isabel, na segunda metade do século XIX. Mas foi no centenário da Independência do Brasil que esta idéia se fortaleceu. A ferrovia que permite o acesso ao local foi construída em 1884/1885 e foi a primeira no Brasil a ser eletrificada, em 1906. Também pode-se chegar lá a pé ou em vans credenciadas. O Cristo foi construído em concreto armado e é revestido de um mosaico de triângulos de pedra-sabão da região de Carandaí (MG).

Costuma-se ouvir dizer que o monumento foi um presente da França para o Brasil, mas na verdade a obra se realizou graças a doações de arquidioceses e paróquias de todo o país. Da França veio apenas uma réplica de quatro metros. Ainda existe uma discussão de quem seria o verdadeiro autor do monumento: o engenheiro Heitor da Silva Costa, autor do projeto escolhido em 1923, ou o escultor francês de origem polonesa Paul Landowski, executor dos braços e do rosto do Cristo e dos modelos que serviram de base para a construção. Outro nome importante na realização desta obra é o do artista plástico Carlos Oswald, autor do desenho final do monumento.

Finalmente tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional em 2009, o monumento já passou por algumas reformas. Em 2003 recebeu escadas rolantes, passarelas e elevadores. Em 2010 a restauração se concentrou na estátua em si e foi realizada pela VALE em parceria com a arquidiocese do Rio de Janeiro. Obras de manutenção são realizadas constantemente devido às condições climáticas do local, pois devido à altitude ocorrem desgastes por causa de grandes rajadas de vento e fortes chuvas.

Ver o Cristo Redentor de perto é emocionante, não importa a religião do visitante. Tendo valor religioso para os cristãos, possui também grande valor turístico e de beleza independentemente do fator religião. Vale a pena visitá-lo, pois a beleza de sua grandiosidade não tem e não deve ter relação direta com as crenças individuais de cada um. O Cristo Redentor completou 80 anos de muito sucesso, e assim se espera que ocorram os próximos 80 e os que se seguirem a eles!

domingo, 6 de novembro de 2011

O preço do Amanhã





Não levei muita fé nesse filme quando vi o cartaz e quando minha amiga Renata falou que ía ser com o Justin Timberlake. Não vou dizer que ele deu um show de interpretação, mas também não foi tão ruim. A história do filme é sobre uma descoberta científica: o fim do envelhecimento. Todas as pessoas vivem normalmente até os 25 anos, idade em que um relógio no pulso delas começa a funcionar. A partir dos 25 você ganha um ano nesse relógio, o problema é que o tempo virou a moeda corrente, então você acaba numa luta pela sobrevivência, onde se vive angustiadamente a cada dia.
O personagem de Timberlake(Will Salas) um dia encontra um cidadão exibindo um relógio de um século no bar. Fica apreensivo e tenta salvar o cidadão pedindo que ele saia porque uma quadrilha famosa naquele fuso horário (as pessoas dividiam-se em fusos pelo status social) com certeza farejaria o homem e roubaria seu relógio. O homem queria exatamente aquilo, mas Will o salvou do mesmo jeito. Num prédio abandonado os dois conversam e Will descobre que o homem viera ali para morrer. Ele viveram 100 anos e já não via mais sentido em estar vivo. Ele lhe explicou que para que muitos vivessem 1 milhão de anos a maioria deveria viver angustiadamente esperando conseguir mais tempo ou mesmo morrendo cedo. Pela manhã Will acorda com um século no relógio e vê da janela o homem ter um infarte e cair da ponte. Seu maior erro foi correr até a lá, pois foi filmado e os policiais acharam que ele tinha roubado o finado.
Sem querer contar mais spoilers, vou falar mais no geral do filme: Will conhece a personagem de Amanda Seifried e os dois saem distribuindo tempo para as pessoas desesperadas. O que eles não sabem é que além da polícia outros grupos estavam atrás deles. Lembra dos mafiosos do fuso de Will? O mais importante na cena em que reaparecem é que eles dizem que a Polícia do tempo permite que eles existam porque ajudam a manter o sistema. Em todo o filme eu vi semelhanças com a realidade. A nossa moeda é o dinheiro, mas mesmo assim a morte dos mais pobres é o que sustenta a fortuna e abundancia dos vivos, o desequilibrio sustenta sistemas injustos. Qualquer mudança nesse aspecto e o sistema quebra e vem a anarquia. É exatamente o que Will acaba instaurando: uma anarquia. Em determinado ponto do filme ele se questiona se é justo distribuir o tempo porque algumas pessoas não usam o que tem para o próprio bem. O que acredito ser a desculpa dos ricos hoje em dia "ele é um vagabundo! Se tivesse mais gastaria com bebida!" Mas Will decide continuar furando o sistema.
Não acredito em Revoluções, porque nada pode mudar sua natureza da noite para o dia. Acredito em processos. As circunstancias vão moldando uma caracteristica já existente nas pessoas e nos sistemas até que não se reconheça mais os resquícios do passado. É por não ter essa consciência que os adolescente sofrem tentando ser aceitos e para isso apelando por adotar um estilo oposto ao próprio. Porém, acredito que atitudes drásticas são necessárias para forçar uma nova visão das coisas, que seria a atitude de will de quebrar o monopólio do tempo. Ele não rompe totalmente com a mentalidade/ lógica do acúmulo de "riquezas", mas ele dá a oportunidade das pessoas pensarem sobre isso. A ação dele é o estopim de uma nova realidade, as pessoas começam a invadir os fusos mais privilegiados, e tudo indica que uma nova ordem está para começar. Se ela vai ser justa não se sabe, o que podemos concluir é que as pessoas agora tem o poder de barganhar, por isso vão lutar por um sistema mais justo que atenda às novas necessidades e personagens que vão surgindo.
Foi surpreendente um filme Hollywoodiano abordar esse tema sem se preocupar com a repercussão dessa temática. Foi o mesmo espanto que tive com Avatar. Isso é uma coisa rara, mas um fato a ser comemorado. Eu brinquei com a mina amiga no cinema dizendo que pela logica dos filmes de ação Will iria procurar a origem dos relógios para reverter e dar o tempo que todas as pessoas tinam direito, ou então tentaria provar sua inocência, o que não acontece. O personagem prefere ser um fora da lei, uma espécie de Robin Wood. Bato palmas para a direção desse filme.
Isso é tudo pessoal!

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Um quadro perturbador


Para começarmos a análise é importante ressaltar que esta foi a última obra de Vincent Van Gogh. Alguns dias depois de pintar Campo de Trigo com Corvos, ele retornou ao campo de trigo e deu um tiro no peito. Eu não vou entrar nos detalhes da vida pessoal atormentada de Van Gogh, vou apenas explicar o porquê do meu fascínio por esta obra específica, mas vale lembrar que ele foi o precursor do Expressionismo.

Agora sim. Ao observar o quadro Campo de Trigo com Corvos, notei que a turbulência nos trigais, representam as perturbações de Van Gogh com o mundo exterior. Ele reúne neste quadro fatores que tem como denominador comum à divergência de elementos, como por exemplo: cor e linha, céu dramático, tempestuoso e fechado que contrasta com as cores vivas e ensolaradas do trigal dourado. Esses paradoxos motivam a criação de uma imagem perturbadora, onde a razão e a emoção se confrontam numa relação de ambiguidade e de incerteza.

Os caminhos bifurcados avançam sem revelar para onde se perdendo ao longe e sem destino, este caminho sem fim provoca uma sensação intrigante ao inverter a lógica da perspectiva: são direções de fuga que simultaneamente convergem e distanciam-se do pintor. Provavelmente Van Gogh se via cada vez mais longe de achar uma saída para o seu transtorno mental. Outro detalhe fantástico se dá na presença dos corvos, que acentuam a expressividade trágica do quadro. Os corvos estão em revoada, como se algo os tivesse assustado, talvez o tiro que Van Gogh já pretendia dar e expôs na obra previamente quem sabe a morte. Na mitologia grega os corvos eram brancos, e foram escurecidos por Apolo, que não ficava satisfeito com o prazer que estes animais tinham em dar notícias ruins, por isso são vistos geralmente como portadores de maus presságios. Eles são o prenúncio de mudança de consciência, que pode, inclusive, significar uma viagem pelo mundo dos mortos. A ave é destemida e é a guardiã das coisas ocultas. O corvo é o interprete do desconhecido, está sempre vigilante, observando tudo à sua volta.

Resta dúvida que Van Gogh pintou Campo de Trigo com Corvos pensando na morte? Será simplesmente que em mais um ataque de loucura teria dado um tiro contra o próprio peito sem pensar no impacto que teria este quadro enigmático e “profético”?

Fica explícito para mim, e foda-se a sua opinião, que Campo de Trigo com Corvos foi um presságio do suicídio de Van Gogh que constituiu uma reflexão clara do próprio estado mental nos seus últimos dias. A sua vida foi toda ela um fracasso. Ele falhou em todos os aspectos importantes para o seu mundo, em sua época. Foi incapaz de constituir família, incapaz de custear a sua própria subsistência e foi incapaz de manter contatos sociais. Assim, sucumbiu a uma quase inevitável doença mental que culminou no suicídio.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Sobre perdedores, conquistadores e o que as mulheres gostam.

Ontem quebrei meu recorde ao telefone com uma amiga minha. Se ela não tivesse um plano pra pagar menos teríamos que dividir a conta. Mas o caso é o seguinte: Gleice me disse que todo mulher procura o cara que é o pegador. Puro mito na minha opinião. Não nego que haja mulheres que se interessem pelos garanhões, mas é errado dizer que todas preferem esse tipo. Eu por exemplo fujo desses caras. Não sei se porque o contato que tive com estes cidadãos foi bem o estereotipo do homem bonito e burro, mas prefiro sair pela tangente quando vejo um.

O interessante porém desses caras é que eles tem confiança porque "já tiveram mulheres de todas as cores, de várias idades e muitos valores". A pressão social para o homem ser "o galinha" faz com que uns virem mais atirados e outros fiquem recalcados porque não conseguem agir dessa forma tida como bem quista socialmente. Esse segundo produto é problemático. Já que não conseguiram pegar todas as garotas da escola como seus amigos populares, ficaram com baixa auto-estima. Mas como baixa auto-estima também não atrai a mulherada, disfarçam esse problema fingindo-se de romanticos. Romantico acredito que nenhum homem nasça sendo, mas há o romantismo verdadeiro e o falso. O verdadeiro nasce pelo afeto o falso se adquire em qualquer esquina.

Voltando a vaca fria, os falsos romanticos são aqueles que se fazem de vítima, que se justificam dizendo que o problema são os outros e não eles próprios. Que dizem preferir a qualidade e não a quantidade, não por convicção mas por que não conseguem colecionar relacionamentos ou apenas ficadas. São aqueles que desprezam as meninas legais para correr atras das que com certeza vão fazê-los sofrer. Falta a eles a praticidade de enxergar seu público-alvo. Tem meninas de todos os tipos eles só tem que correr atrás das que querem o que eles podem oferecer, sem falar que preferir a qualidade tem que ser por convicção, já que ele não se acostumou com as regras dos relacionamentos modernos, deve procurar um par que também seja exceção.

Não digo que todos os perdedores sejam burros. Geralmente são inteligentes: cdfs, nerds etc mas que o lado emotivo foi pouco desenvolvido, não se aceitam e se desiludem com frequencia. O bom é que se você é perdedor ou garanhão ainda pode mudar de vida é só tomar tenencia.

O que as mulheres gostam é algo dificil de definir, mas com certeza é algo além do físico. E é claro há vários tipos, e vários quereres, mas sem dúvida acredito que todas se atraiam por homens auto-confiantes. Não falo de orgulhosos bestas que não dão braço a torcer, admitir falhas é pra quem pode. É pra quem acha que continua tendo valor mesmo sabendo que possui falhas.

Quer mais ideias estranhas? acesse> www.folhetimutopia.blogspot.com
Isso é tudo pessoal!

domingo, 30 de outubro de 2011

Nasceu gigante

Peço licença
Aos que fizeram história.
Pois muito acima de qualquer crença,
Eles ficaram na memória.
Declaro minha paixão,
Batendo na palma da mão.
Tudo começou com uma reunião.
Ô Limoeiro, ô limão!
Na casa da Tia Ciata,
Nascia muito mais do que remelexo de mulata.
Era a primeira roda de samba
No terreiro de bamba.
Sob a flauta de Pixinguinha,
Fazia-se o chorinho,
Seguido da marchinha,
Enquanto chorava o cavaquinho,
Nas mãos do Mano Heitor.
Era o samba com amor.
Chegavam junto o jongo, lundu, maxixe e a modinha,
Que desceram com os escravos da Bahia
Nos rituais de Candomblé.
Os malandros já vinham ao mundo com samba no pé.
E eu, humilde brasileiro,
Não batuco no pandeiro,
Não sou passista,
Tampouco ritmista!
Mas pelas veias correm sangue.
Não de artista.
Sangue de sambista!
O que faz de mim o filho do samba?
Não é minha ginga não!
Também não sou um grande folião!
Não é meu talento.
E sim meu argumento.
O samba sufoca a tristeza
Com destreza.
Fazendo do sofrimento,
Um breve momento,
Pois logo chega a alegria,
É o raiar do sol anunciando um novo dia.
Está na voz do povo,
É a chocadeira do ovo.
Peço licença!
João da Baiana, Sinhô, Cartola;
Chico Buarque, Monarco, Paulinho da Viola;
Noel Rosa, Vinicius de Moraes;
Candeia, Ary Barroso, Jorge Aragão;
Ismael Silva, Donga, Jamelão;
Beth Carvalho, Dona Ivone Lara;
Bide, Marçal, Zeca Pagodinho;
Jovelina, Caymmi, Nelson Cavaquinho;
Martinho da Vila, Heitor dos Prazeres;
Clara Nunes, Alcione, Tom Jobim;
Elza Soares, Sombrinha, Herivelto Martins;
Bezerra da Silva, João Gilberto;
Almir Guineto, Reinaldo, Arlindo Cruz;
Moacir Santos, Moreira da Silva, Moacyr Luz;
Carlos Cachaça, Dudu Nobre;
Dicró, Heitorzinho, Silas de Oliveira;
Satur, Zé Keti, João Nogueira...
Entre tantos outros que aqui não mencionei,
No coração eu os guardarei.
E, no fim desta poesia,
Faço deste samba minha alegria!

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

terça-feira, 18 de outubro de 2011

UMA CACHAÇA CHAMADA INTERNET!


Cada dia que passa fica mais evidente que o mundo gira em torno da tecnologia da informação.

Sem dúvida, o nível de influência no conhecimento das pessoas hoje, se deve muito ao crescimento da internet. E com o acesso à rede mundial de computadores disseminado, não importa onde você esteja, tem um mundo de informações que de outra forma seria quase impossível.

Junto a isso fazemos compras, operações bancárias e até problemas de trabalho conseguimos resolver via web.

Mas o que mais me chama a atenção é o novo modelo de “conexão” interpessoal que foi sendo criado. As pessoas estão se relacionando com outras através da tela do computador, fazendo coisas que para elas seria inconcebível de outra maneira. Não é mais preciso encarar, enfrentar.

Isso é fácil de observar, principalmente, nas redes sociais, zonas livres as pessoas chegam a fazer verdadeiros diários sobre suas vidas. Contam tudo como se estivessem embriagadas. Como se fosse efeito de cachaça!

Em outros tempos, isso ficaria escrito em um pequeno caderno, agenda ou diário, escondido no fundo da gaveta mais escura, no meio das roupas que não se usam mais, sendo lido somente por quem o escrevera, tendo ou não segredos. Era sim, um espaço íntimo.

Hoje, por menos que nos expressemos nessas redes de relacionamento, expomos nossas vidas a milhares de pessoas em todas as partes do mundo.

Não basta apagar a frase, ela pode ter sido vista por alguém, em algum momento, em algum lugar do mundo.

Fico imaginando como ficaria fascinado Michel Foucault, com seu “vigiar e punir”, hehehe... Esse já vivia o Big Brother internamente.

“Viver” no mundo virtual nos faz esquecer que temos um mundo real aqui fora, e como temos a falsa impressão de total controle sobre esses mundos, acabamos agindo sem pensar, não considerando os fatores envolvidos.

E quando isso ocorre fica difícil imaginar como essa informação será usada... Perde-se então o controle!

Não acredito que voltaremos aos difíceis tempos da ditadura, quando não se podia falar nada sobre si, nem sobre nada, mas temos que preservar o bem mais valioso que temos: nós mesmos!

domingo, 16 de outubro de 2011

Sobre Olavo Bilac e a miscigenação.

Uma pequena lição de história.

Uma vez visitei um cemitério na zona sul da cidade, e me deparei com a sepultura de Olavo Bilac. Era relativamente humilde comparada com as outras sepulturas, mas ali estava um homem notável, que não podia ter ficado calado. Graças à Deus, ele não ficou.
Na época, eu pouco sabia sobre ele, tinha a ligeira impressão de ter ouvido meu professor Vinicius de literatura falar dele, mas nada concreto me vinha à mente naquela tarde no cemitério. Acontece que hoje descobri que junto com Juliano Moreira (outro homem que sempre ouvi falar e a única coisa que sabia sobre ele era que seu nome foi usado para batizar um hospital psiquiátrico) Bilac foi um dos ícones na discussão sobre raça e miscigenação no Brasil (meados do XIX e inicio do XX)que tiveram também importância na forma como passamos a conceber a imagem de nação brasileira.
O debate se iniciou com a Abolição da escravatura quando os intelectuais se empenharam em descobrir um modo dos mestiços e negros serem incluidos na sociedade. Entre esses homens que influenciaram a discussão, temos: Silvio Romero que considerava os mestiços como raça inferior mas que contraditoriamente via nele o meio de criar uma nação diferenciada; Bilac que supervalorizava os mestiços e os negros, a quem denominava de "a raça mártir" e acreditava que não devíamos nos envergonhar da presença negra africana nem em nosso passado nem no nosso futuro. Chega a afirma que nenhum brasileiro poderia ser "completamente,absolutamente,legitimamente branco sem a mescla africana no sangue" e Nina Rodrigues que apostava que nada de bom poderia vir da miscigenação.
De todos simpatizei mais com a abordagem de Bilac.A única coisa que fui contra no discurso dele foi considerar que no passado o Brasil teria conseguido que suas raças convivessem em harmonia. Primeiro porque raça é um conceito ainda discutível e segundo porque nunca foi visto na história deste país uma relação que pudesse ser considerada completamente harmônica. Um exemplo bom que frisa essa falta de aceitação foi o projeto de branqueamento da população na época do Império. Quando branquear a população tornou-se necessidade, ficou super claro que a sociedade não vivia em harmonia. Uma das medidas para lidar com os ex-escravos foi deportar para a África, o que para mim representou uma violência igual ao tráfico de escravo. Levar os negros e mestiços de volta à Africa representou a mesma quebra de vínculo com a terra e a pátria que aconteceu com seus antepassados traficados para a América. Não pensar neste aspecto nos mostra que mesmo abolindo a escravidão, ainda não se considerava os negros e seus descendentes como humanos, ao mesnos pelo grosso da sociedade. Como Rousseau mesmo dizia:
"aceitar que um filho de um humano pudesse desde logo não nascer livre era aceitar também que se pudesse não nascer humano"
Durante o debate sobre a miscigenação muitos queriam fazer valer que que o mestiço era uma raça inferior. Ouvi em algum lugar que nele se perdia as caracteristicas do bom branco e do bom negro. Segundo Carolina Viana Dantas havia quem pensasse que o mestiço era um degenerado, seria um resultado infeliz de uma mistura que certamente criaria marginalizados e criminosos. Entretanto como todo ponto possui um contraponto, Bilac e outros optaram por argumentar que o social é que faz o homem: a influência do meio em que se vive e a educação, ou a falta dela é que destina o homem a viver à margem ou ser bem sucedido.
Toda essa discussão nos mostra que a sociedade tupiniquim andava especulando sobre sua imagem e identidade. Era necessário esconder os mestiços e os negros, ou eles eram uma boa representação de nossa cultura? A dúvida acredito surgiu porque na Europa com adoção dos pensadores ao Darwinismo (em detrimento do Humanismo nascido algum tempo antes), as pessoas passaram a considerar o mestiço como raça inferior, e o Brasil por algum tempo pensou assim, foi por isso que a primeira solução cogitada para substituir a escravidão foi a vinda de trabalhadores europeus e não a utilização da mão de obra local, mas com este pequeno texto vemos que também houve quem tenha querido definir e enquadrar essa população mestiça e também transformá-la em ícone nacional. Ao meu ver tentou-se também convencer a comunidade internacional das vantagens da miscigenação, para se obter o reconhecimento externo. Bilac mesmo teria dito isso sobre a peça O dote baseada no romance de Arthur Azevedo e encenada por artistas italianos. Ele acreditava que a peça faria propaganda da cultura brasileira no exterior, mostrando que havia algum mérito na nossa convivência mista. Não era vergonha alguma admitir que aqui existiam pretos e mestiços.

Por fim uma frase de Bilac: " Queremos tirar o preto das nossas fotografias, das nossas peças de teatro, dos nossos romances, da nossa história, da nossa raça e da nossa vida... Absurda pretensão! Néscia e irritante mania! Nenhum povo altera, nem anula, nem precipita a sua história. O preto é inseparável, na constituição da nossa raça, dos outros elementos que tem contribuído e ainda hão de contribuir para formá-la."

se quiserem ler mais visitem o blog: folhetimutopia.blogspot.com (visitem please!XD)

domingo, 9 de outubro de 2011

Fluxo

Este conto foi escrito por um amigo meu muito querido, Gregório Tkotz, com cujos contos é possível "viajar" muito e cujo blog é http://sonhadordesperto.blogspot.com/.
Visitem-no!


-... mas quando o fonema suprimido é um som vocálico, o nome dado ao processo é crase, que não é sinônimo do acento grave usado para evidenciá-la. Esses processos são importantes para a língua, pois... - O professor continuou a falar e voltei ao meu estupor. A matéria já não era interessante, e o professor conseguia fazê-la ficar ainda mais desinteressante com sua “excelente” didática. E era só decorar as tabelas do livro para se dar bem na prova.
A sala estava em silêncio. Só o professor falava, com uma voz monótona e hipnotizante. Os alunos apoiavam suas cabeças em mãos, braços, carteiras. A maioria estava longe demais para ouvir qualquer coisa. O professor parecia não perceber, ou não se importar. Uma mosca entrou zumbindo pela porta.
O zumbido era insuportável. Era um barulho contínuo, e não entrava só pelos ouvidos, mas também fazia todo corpo vibrar. O calor só ajudava a piorar a sensação desagradável que eu estava sentindo. E olhando ao redor percebia que não era o único. Todos estavam incomodados em algum nível.
Mas nós seguimos pela floresta mesmo assim. Andávamos em fila indiana por uma trilha que parecia não levar a lugar algum. As mesmas árvores, plantas, e o insuportável zumbido, já havia três dias. O guia afirmava que não estávamos perdidos e, como ninguém mais conhecia aquela região, tínhamos que confiar nele.
O anoitecer na selva é diferente do a céu aberto. Nós não vemos o céu ficar escuro. Apenas a claridade, que já é difusa devido à cobertura vegetal, começa a diminuir. É hora de montar acampamento. Como sempre o guia correspondia à nossa confiança e chegamos a uma clareira bem a tempo.
Montamos rapidamente nosso acampamento, comemos enquanto dividíamos histórias e finalmente entramos nas barracas para dormir. Mesmo à noite era quente e abafado. Os mosquitos não davam trégua, mesmo com a fumaça da fogueira e o repelente. Fechar os olhos era difícil. Mas depois de algum tempo, as horas de caminhada venceram.
Meus olhos foram abrindo lentamente, se acostumando com a claridade. A luz era muito forte e eu estava completamente desnorteado. Eu me levantei antes de conseguir ver alguma coisa direito. Eu passei pela porta ainda com os olhos ardendo.
A primeira coisa que eu realmente vi foi uma enorme massa amorfa. Era um pouco mais baixa que eu, um pouco mais larga, transparente-esverdeada e se movia. Dentro havia algumas partes mais opacas, que se sobressaíam. A maior era quase esférica, aproximadamente do tamanho da minha cabeça, de um verde mais escuro que o resto e ficava perto do centro da coisa.
Mas assim que eu comecei a observá-la, a massa começou a se modificar. A esfera central começou a subir enquanto deixava um rastro que se espalhava pelo resto da coisa. As outras partes opacas também começaram a se organizar, se juntando, se dividindo, se alongando. A superfície começou a se tornar opaca e logo não se via o interior. O corpo começou a tomar forma, foi se afinando embaixo e se dividiu em duas partes, enquanto de cima saíram mais duas protuberâncias, que também se alongaram.
E eu olhava para o meu reflexo. Peguei o creme de barbear e passei no rosto. Depois a gilete e me pus a tentar não sangrar dessa vez. Quase consegui. Botei pasta na escova, escovei os dentes, enxagüei. Peguei a camisa, a calça e me vesti. Calcei o tênis e saí do banheiro.
Casaco, chaves, carteira, celular, e saí de casa. Fui para a garagem tentando não deixar o meu cachorro sujar de terra a minha roupa. O céu estrelado sobre minha cabeça prenunciava uma boa noite, e eu pretendia aproveitar. Até porque, não era sempre que eu tinha tempo para me divertir. Mesmo à noite.
Peguei a chave e coloquei na ignição. Arrumei o banco, o cinto e liguei o motor. Programei o piloto automático para Sirius A e me preparei para a decolagem. Desde o incidente com o buraco negro em Londres tinham ficado proibidas as viagens dimensionais a menos de meia hora-luz de qualquer planeta habitado.
Agora se perdia mais de uma hora para se chegar a outros sistemas estrelares. Mas em nome da segurança era necessário. O inibidor de inércia impedia que tudo se desintegrasse, mas mesmo assim a sensação de velocidade da decolagem era mais ou menos como a aceleração de um antigo caça.
O início era sempre calmo, enquanto se acumulava energia para o resto da viagem. Eram apenas alguns minutos antes da verdadeira emoção. E eu sabia exatamente o ponto em que iria começar. Já tinha feito isso algumas vezes e a emoção ainda era a mesma.
A gritaria foi geral quando o carrinho começou a descer. Todas as bocas estavam abertas para descarregar a dose extra de adrenalina. Alguns braços se levantaram, os meus inclusive, como que para saldar o vento que vinha de encontro dos rostos dos loucos por emoções fortes, pois se não o fossem, não estariam ali.
Apesar dos gritos, ninguém ouvia ninguém. O vento era ensurdecedor. Aumentava e diminuía conforme a velocidade do carrinho. Mas não chegava a ficar baixo. Só depois de algum tempo que ele diminuiu. A volta tinha acabado. As pessoas começaram a deixar os seus lugares. Todos falavam e suas vozes se juntavam formando um zumbido.
Eu guardei meu caderno, peguei a mochila, e fui procurar atrás do resto do pessoal para almoçar.

Textos como esses são muito bacanas pois deixam vagas certas passagens, de modo a permitir que o leitor ative sua imaginação. De uma aula fomos para uma floresta, de lá para um mistério indefinível, para a casa do personagem e em seguida para uma viagem intergalática, ou seria uma montanha-russa? Imagine!

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

A morte anunciada do humor


Por Rodrigo Shampoo

O que está acontecendo com a sociedade na qual eu estou inserido? Começo com esta pergunta para falar de um assunto que está em voga, após os seguidos episódios protagonizados por Rafinha Bastos, do programa CQC (muito bom, por sinal!). Isso mesmo, vou falar de humor. Mas sem ser engraçado!

A sociedade já vivenciou severas ditaduras com censuras aos jornais, à liberdade de ir e vir e à moral. Agora estão querendo censurar o humor. Era só o que faltava! Estou cansado do “politicamente correto”, e de tanto “pode e não pode”. O humor deve ser ilimitado e, quem não gosta de tal piada, não assista, não leia, não veja e não procure para não se sentir ofendido. E se, por um acaso, a piada chegar até você contra a sua vontade, o que é bem viável... FODA-SE! Se nem Jesus conseguiu agradar a todos, não será uma piada que conseguirá. Proibir piada sobre determinado tema é censura. E, do jeito que tá, daqui a pouco só será feita anedota sobre as paredes e as samambaias – e não me refiro às mulheres frutas, mulheres vegetais, mulheres legumes e por aí vai...

Rafinha Bastos foi eleito, pelo jornal The New York Times, a personalidade mais influente do Twitter.

Humor negro, besteirol, irônico, palhaço, pastelão, bobo, ácido, pungente, burlesco, jocoso, mordaz, sagaz, inteligente, espirituoso, engraçado, sarcástico... vale tudo para fazer uma piada. Doa a quem doer, incomode a quem incomodar.

Lembro-me que passei a infância assistindo “Os Trapalhões”, mas não confunda com “A Turma do Didi”. Eu assisti o Mussum encher a cara de cachaça, sem que isso me tornasse um alcoólatra. Vi o Didi fazer piadas sobre homossexuais, sem incomodar a quem de direito. Vi o Zacarias ser zoado por ser feio, por usar peruca e por ser baixinho, e não era considerado bullying. Vi piadas com negros, nas quais o Mussum participava, e não era racismo. Era humor livre e engraçado!


Quando uma pessoa é proibida de se expressar, sendo impedida de expor suas ideias, está configurado um retrocesso inaceitável ao totalitarismo. Não é com mordaça que se exercita a democracia – esta que funciona na teoria, mas, na prática, apresenta muita incoerência, mas não entrarei nestes detalhes.

Que o humor sirva para ridicularizar políticos que colocam o nariz de palhaço na sociedade, enquanto são aplaudidos a cada eleição. Que o humor sirva para fazer rir aos interessados na chalaça. Mergulhamos num mundo fétido onde a mesma pessoa que achou a piada do Rafinha Bastos um absurdo, ficou surpreso por eu ser sambista, frequentador de rodas de partido alto sendo loiro, branco e de olhos claros. Onde a mesma pessoa que defende o homossexualismo, olha para um terreiro de Umbanda e diz: “Caralho, uma porrada de macumbeiro junto evocando o Diabo!”. Muito prazer, essa é a hipocrisia, escondida na sua face frente ao espelho!

Vivemos numa sociedade líquida, como definiu o sociólogo Zygmunt Bauman. Isso significa que, assim como um rio em contínuo movimento, que altera o curso frequentemente e ultrapassa obstáculos, a sociedade está sempre em constante mudança. Mas este rio social está podre feito esgoto. A liberdade deve existir para ambos os lados, a proibição é que não deve estar presente. Soa como intolerância, e eu não gosto de intolerância. Será que ter intolerância à intolerância faz de mim mais uma peça na engrenagem social enferrujada? Bem vindo ao nosso mundo afogado em hipocrisia.

Estando no inferno, abraça o Diabo!

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Richard Hamilton: O Pai da Pop Art


Hamilton nasceu em 24 de fevereiro de 1922 em Londres, começou a estudar arte aos 12 anos, mas logo aos 14 largou os estudos formais. Passou a trabalhar como aprendiz em uma empresa de engenharia. No ano seguinte seguiu para um estúdio de design, o que o levou a estudar na Royal Academy Schools.
Considerado o pai biológico da pop art, Hamiltou faleceu no último dia 13 aos 89 anos e deixou como herença sua grandiosa obra, a qual perpassou por inúmeros estilos. Ele foi da pintura à escultura, passando pela gravura, pela tipografia e também pela colagem. Nunca foi uma celebridade como outros nomes da pop art, mas os influenciou fortemente e causou impacto na arte moderna. Geralmente associado à reflexão sobre temas, e às vezes também muito político em suas obras, era sempre insubmisso socialmente, insubordinado, considerado socialmente subversivo. Sua principal obra marcada por tal subversão social foi a colagem intitulada "O que exatamente torna os lares de hoje tão diferentes e tão atraentes?". Feita quase que só de recortes de revistas, a obra polemizava e buscava levar à uma reflexão sobre a sociedade de consumo, mais especificamente a americana. Esta obra veio a ser considerada o primeiro trabalho puramente da pop art. As técnicas depois se tornaram comuns, mas eram novidade quando utilizadas por Hamilton nesta obra.

Muitas vezes era satírico, como nas obras em que retratou, sem medo de provocar, Tony Blair como um quase assustador caubói pistoleiro de calças jeans ou na obra "Swinging London", de 1967, baseada em uma batida policial em busca de drogas, na qual Mick Jagger e um comerciante de arte foram presos. Criou até a arte do "White Album" dos Beatles.
O próprio termo “pop art” é atribuído a Hamilton, quando este escreveu num texto de 1957 que a ‘pop art’ seria popular, passageira, efêmera, desprezível, facilmente esquecível, barata, produzida em massa, jovem, sexy, glamurosa e um grande negócio. Assim designava o movimento que, ao contrário do que ele pensava, durou. E que acabou por ser mais reconhecido através de nomes como Andy Warhol e Roy Lichtenstein.
“Nós temos os nossos ícones nacionais e as nossas celebridades pop. Mas nem Francis Bacon nem Lucian Freud ou Damien Hirst moldaram tanto a arte moderna da forma que Hamilton fez quando pôs um chupa-chupa com a palavra Pop na mão de um homem musculado”, escreveu o crítico de arte do jornal “ The Guardian”, Jonathan Jones, no obituário do artista plástico.
A causa de seu falecimento não foi divulgada. E o que realmente importa é que ele fez história artisticamente e deixou uma herança artística cheia de personalidade, vitalidade e diversidade.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

RIO PROG FESTIVAL

Nesta quinta (06/10) e nesta sexta (07/10) um sonho será realizado: finalmente se realizará o Rio Prog Festival, um sonho já antigo do produtor musical Claudio Fonzi. Nas palavras do próprio: "É com um prazer literalmente indescritível que venho comunicar que um muito antigo sonho está a poucos dias de se tornar uma incrível realidade!!! Será inaugurado o RIO PROG FESTIVAL, que chegou para ficar durante MUITO TEMPO! Dias 6 e 7 de outubro serão inesquecíveis, com 3 maravilhosas bandas da Nova Geração Sonora brasileira! E tudo acontecerá em uma das mais lindas e perfeitas casas de Rock do Rio de Janeiro e do Brasil, a Rio Rock & Blues, em pleno coração da Lapa. São 4 andares de som, luz, acomodações, bebidas e comestíveis de alta qualidade em meio a uma linda decoração repleta de fotos, guitarras e toda uma série de memorabilia ROCK."
Esta será a primeira edição de um festival que promete, que está fazendo muitos fãs desde tão especial subgenêro do rock criar enormes expectativas. E elas serão atendidas! A ideia é que o festival seja semestral e que cultue sempre bandas já consagradas no cenário musical e também que abra portas para novas bandas, como será o caso desta primeira edição.
O preço é de 40 reais antecipadamente e de 50 reais na hora. Aparentemente salgado, o preço é justo de acordo com a qualidade das bandas e com o fato de serem dois shows em cada dia, além de música mecânica nos intervalos com o melhor do progressivo, com seleção caprichosamente realizada pelo próprio Claudio Fonzi. Haverá também stand para venda de CDs de muitas bandas de Progressivo nacional.

As bandas que tocarão serão Anjo Gabriel, Massahara e Caravela Escarlate.
Anjo Gabriel está dando o que falar. Esta banda de Pernambuco, com suas músicas totalmente psicodélicas, predominantemente instrumentais (há algumas com vocal), belíssimas, tocará em ambos os dias, merecidamente. É o destaque atual do rock progressivo nacional. A banda formada em 2005 é a grande revelação deste ano, revelação esta possibilitada através da produção do primeiro LP da banda (2010), com produção muito caprichada tanto na qualidade de som quanto na arte da capa. LP também produzido na forma de CD, mas este com duas faixas a menos. Ambos, por sinal, já escassos em estoque. Merecendo relançamento. Quem ouve suas músicas se apaixona. A banda, no dia 06, apresentará sua obra "O Culto Secreto do Anjo Gabriel", que se consiste em seu LP. Já no dia 07 apresentarão inéditas, que constituirão seu novo lançamento fonográfico.
Caravarela Escarlate é do nosso querido Rio de Janeiro. Fundada já há bastante tempo, já passou por diversas formações e, se Deus quiser, a atual terá sido formada para ficar e se estabelecer. Com vocais que lembram O Terço e parte instrumental que lembra a banda Yes, essa banda de progressivo sinfônico abrirá o show do Anjo Gabriel no dia 06 e vai fazer bonito. Nas palavras do produtor do evento, Claudio Fonzi: "a mais nova e bela revelação do Progressivo carioca".
Massahara é uma banda de São Paulo que está crescendo e se destacando e sendo sensação do Hard Rock Progressivo nacional. Já participou de eventos como o Festival Psicodália, nas edições de 2009 e 2010 e do Rock na Vitrine, este ano, em São Paulo. Com sonoridade totalmente anos 70, seu primeiro álbum foi lançado este ano também pelo produtor Claudio Fonzi, através de seu selo independente, Som Interior Produções Artísticas. A banda tocará no dia 07 e promete abalar as estruturas da casa e de quem curte um bom Hard Rock com pitadas progressivas e psicodélicas.
Vale a pena conferir este festival tão bonito, de grande valor artístico e até histórico!
O QUE? RIO PROG FESTIVAL
Dia 06 de outubro (quinta):
Anjo Gabriel - apresentando sua aclamada obra "O Culto Secreto do Anjo Gabriel".
Caravela Escarlate - belo show de abertura.
Dia 07 de outubro (sexta):
Anjo Gabriel - apresentando inéditas.
Massahara - abalando as estruturas da casa.
ONDE? RIO ROCK & BLUES: Rua do Riachuelo, nº 20, Lapa - RJ
QUANTO? Ingressos: 50,00 (na data) e 40,00 (antecipados) a venda na RENAISSANCE DISCOS - Rua: Alcindo Guanabara, nº17, sala 1508, Cinelândia - RJ
TELs: (21) 2524-0216 e (24) 9218-2407
www.renaissancediscos.com / renaissance.claudio@gmail.com

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Joss Stone: Deliciosa de se escutar

Se alguém me perguntar quem eu considero a melhor cantora jovem de Soul e R&B no cenário musical atual, eu afirmarei sem dúvida nenhuma: Joss Stone.
Joscelyn Eve Stoker, como é o seu nome de batismo, nasceu em 1987, em Dover (Inglaterra) e diz ter crescido ouvindo diversos genêros musicais. Em uma entrevista à MTV News, Joss disse: "Viciei-me em música soul principalmente por causa dos vocais que exigia. Tem que se ter boa voz para cantar música soul e eu sempre gostei disso, desde pequena".
Seu primeiro álbum, "The Soul Sessions", lançado no segundo semestre de 2003, consistia-se em um álbum de covers de soul music pouco conhecidas de artistas como Wright, Aretha Franklin, Laura Lee e Bettye Swann. E ainda assim alcançou o top cinco da parada britânica de álbuns e o top quarenta da Billboard 200, que é a parada estadunidense. "Fell in Love with a Boy", uma regravação da música "Fell in Love with a Girl" do The White Stripes, alcançou o top vinte da parada de singles britânica. "Super Duper Love" também alcançou o top vinte na Inglaterra.
Após tanto sucesso com o seu primeiro álbum, Joss Stone lançou seu segundo álbum, "Mind, Body & Soul", lançado no segundo semestre de 2004 e composto de músicas originais. Estreou em primeiro lugar na parada de álbuns britânica, inclusive, quebrando o recorde de cantora mais jovem a chegar ao topo da parada britânica, lugar que antes pertencia à cantora Avril Lavigne. No entanto, não entrou no top dez da Billboard, ficando em 11° lugar. "You Had Me" foi seu primeiro sucesso a entrar no top dez do Reino Unido. "Right to Be Wrong" e "Spoiled" alcançaram o top quarenta e "Don't Cha Wanna Ride" o top vinte.
Participou em 2004 da regravação da música "Do They Know It's Christmas?", de 1984, escrita pelos organizadores da Band Aid Bob Geldorf e Midge Ure. Regravação esta realizada em conjunto com a Band Aid 20 em prol da região de Darfur, no extremo oeste do Sudão. Outros constituintes do grupo foram o vocalista do Coldplay, Chris Martin, e o vocalista do U2, Bono.
Em 2005, foi indicada a três Brit Awards, dos quais ganhou dois ("Artista Solo Feminina Britânica" e "Artista Britânica de Música Urbana"). Também já foi indicada a cinco Grammy Awards (incluindo "Artista Revelação"), dos quais ganhou um ("Melhor Performance de R&B por um Duo ou Grupo com Vocais" por "Family Affair" em 2007). Além de tudo isso, já fez umas pontas como atriz também.
Não é só o sucesso extremo desde o lançamento de seu primeiro álbum que demonstra facilmente o quão boa ela é no que faz. Ouvir uma música sua é o bastante para perceber o potencial dessa jovem cantora, com uma voz lindíssima e um forte carisma. Simples, entregue à música e ao poder que ela tem, ela canta e encanta a todos por onde quer que passe.
Joss Stone se apresentou no Brasil pela quarta vez no último dia 29, durante o Rock in Rio, no palco Sunset. Tendo sido a terceira ano passado na cidade de Itu, durante o festival SWU, a segunda durante uma turnê em 2009 e a primeira durante turnê em 2008.
A bela Joss Stone, dona de uma voz mais bela ainda, cativou a todos em seu show no Rock in Rio, sem discursos pré-escritos, cheia de espontaneidade e simplicidade. Conversou com a plateia, pediu que escolhesse músicas a serem cantadas e até pediu ajuda para que fosse cantada a música "Karma", justificando que às vezes esquece algumas palavras. Não foi falta de profissionalismo, foi simplicidade. Simplicidade esta que faz dela mais interessante ainda. Permitindo-se improvisos, sentindo-se à vontade no palco, chegou a brincar consigo mesma, pedindo, em um momento, que desligassem o telão porque não havia gostado de seu cabelo. Joss Stone, sem alisamento de cabelo, sem se utilizar de seu corpo para fazer performances sensuais, maravilha o público com seu Soul e com o seu sorriso. Deliciosa de se escutar. Digna de Palco Mundo, digna de muita admiração.
Joss Stone, que você venha ao Brasil novamente em 2013! E antes! E depois!