O samba "foge" para os morros
O samba já era conhecido e consagrado na década de 1920, ainda sim,
sofria perseguições. O gênero musical já havia atravessado o
Atlântico diversas vezes, inclusive, Darius Milhaud, que defendia a
ideia dos modernistas, compôs diversas obras com ritmos brasileiros,
como o chorinho Deux poèmes tupis e o samba Le boeuf sur
le toit, lembrado por Donga, amigo de Milhaud, que serviu de
trilha sonora para um espetáculo de Jean Cocteau, “usando trechos
de dezenas de músicas cariocas que fizeram sucesso nos anos 10”
(Vianna, 1995: 104).
"Le boeuf sur
le toit", de Darius Milhaud
Ao mesmo tempo em que era tocado em grandes salões, o samba era
perseguido nas ruas. Por um lado, o grupo Os Oito Batutas,
formado basicamente por negros e mulatos, que tinha como integrantes
Pixinguinha, Donga, João Pernambuco entre outros, se apresentava no
Cine Odeon, no Theatro Municipal e no exterior. Por outro lado,
diversos sambistas como Heitor dos Prazeres eram presos acusados de
vagabundagem simplesmente por tocarem violão na rua.
Os Oito Batutas
No início da década de 1920 até meados dos anos 30, o samba ainda
era coisa de malandros e cantoria de vagabundos. Os sambistas estavam
sujeitos à prisão por tocar violão. A polícia pregava a ordem e
não dava trégua. Mas como Jota Efegê descreveu, o samba era
valente e não se deixava intimidar pela repressão, apesar de
espancados e presos por vagabundagem, os sambistas persistiam em
tocar onde quer que fosse. A solução encontrada por eles para fugir
da repressão foi subir para tocar samba nos morros, pois lá não
eram incomodados.
Os morros da Mangueira, do Estácio e do Salgueiro eram os principais
pontos de encontro dos sambistas que fugiam da violência policial.
Nas favelas o “samba do asfalto” se encontrava com o “samba do
morro”, e assim nasceria uma nova forma de tocar samba, que será
visto no capítulo mais adiante.
Nas andanças pelos bairros do Rio de Janeiro, Heitor dos Prazeres
foi o principal responsável por espalhar os sambas pelos bairros de
Madureira, Oswaldo Cruz, Olaria, Lapa, Estácio e Vila Isabel, onde
conheceria Noel Rosa, o maior sambista de todos os tempos e um dos
principais responsáveis pela volta do samba para os asfaltos.
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