quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Um quadro perturbador


Para começarmos a análise é importante ressaltar que esta foi a última obra de Vincent Van Gogh. Alguns dias depois de pintar Campo de Trigo com Corvos, ele retornou ao campo de trigo e deu um tiro no peito. Eu não vou entrar nos detalhes da vida pessoal atormentada de Van Gogh, vou apenas explicar o porquê do meu fascínio por esta obra específica, mas vale lembrar que ele foi o precursor do Expressionismo.

Agora sim. Ao observar o quadro Campo de Trigo com Corvos, notei que a turbulência nos trigais, representam as perturbações de Van Gogh com o mundo exterior. Ele reúne neste quadro fatores que tem como denominador comum à divergência de elementos, como por exemplo: cor e linha, céu dramático, tempestuoso e fechado que contrasta com as cores vivas e ensolaradas do trigal dourado. Esses paradoxos motivam a criação de uma imagem perturbadora, onde a razão e a emoção se confrontam numa relação de ambiguidade e de incerteza.

Os caminhos bifurcados avançam sem revelar para onde se perdendo ao longe e sem destino, este caminho sem fim provoca uma sensação intrigante ao inverter a lógica da perspectiva: são direções de fuga que simultaneamente convergem e distanciam-se do pintor. Provavelmente Van Gogh se via cada vez mais longe de achar uma saída para o seu transtorno mental. Outro detalhe fantástico se dá na presença dos corvos, que acentuam a expressividade trágica do quadro. Os corvos estão em revoada, como se algo os tivesse assustado, talvez o tiro que Van Gogh já pretendia dar e expôs na obra previamente quem sabe a morte. Na mitologia grega os corvos eram brancos, e foram escurecidos por Apolo, que não ficava satisfeito com o prazer que estes animais tinham em dar notícias ruins, por isso são vistos geralmente como portadores de maus presságios. Eles são o prenúncio de mudança de consciência, que pode, inclusive, significar uma viagem pelo mundo dos mortos. A ave é destemida e é a guardiã das coisas ocultas. O corvo é o interprete do desconhecido, está sempre vigilante, observando tudo à sua volta.

Resta dúvida que Van Gogh pintou Campo de Trigo com Corvos pensando na morte? Será simplesmente que em mais um ataque de loucura teria dado um tiro contra o próprio peito sem pensar no impacto que teria este quadro enigmático e “profético”?

Fica explícito para mim, e foda-se a sua opinião, que Campo de Trigo com Corvos foi um presságio do suicídio de Van Gogh que constituiu uma reflexão clara do próprio estado mental nos seus últimos dias. A sua vida foi toda ela um fracasso. Ele falhou em todos os aspectos importantes para o seu mundo, em sua época. Foi incapaz de constituir família, incapaz de custear a sua própria subsistência e foi incapaz de manter contatos sociais. Assim, sucumbiu a uma quase inevitável doença mental que culminou no suicídio.

2 comentários:

  1. Olá...

    Parabéns pelo blog e obrigada pela visita, gosto de ler seus textos e seja sempre bem vindo no meu cantinho...

    bjs o bom fim de semana

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  2. "A sua vida foi toda ela um fracasso. Ele falhou em todos os aspectos importantes para o seu mundo, em sua época.(...)"

    Passei por aqui procurando imagens do pintor e me deparo com essas e outras colocações. Me vi na incubência de elucidar alguns pontos:

    - Van Gogh deixava de comer para comprar materiais para sua pintura. Dizia que para ter sucesso, é preciso ambição, e ele não via razão na ambição. Não pintava para vender. Sua vida foi a própria pintura. Ele fez o que gostava de fazer. Todo seu trabalho, todos seus quadros foram a custa de sacrifícios, de sangue (literalmente), de lágrimas. Deu sua saúde e razão em prol do que acreditava e por isso fora extremamente brilhante como nenhum "bem-sucedido" social pode ser.

    Para não ficar muito extenso, resuma nisto: "Não é demonstração de saúde ser bem-ajustado a uma sociedade profundamente doente."

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