domingo, 16 de outubro de 2011

Sobre Olavo Bilac e a miscigenação.

Uma pequena lição de história.

Uma vez visitei um cemitério na zona sul da cidade, e me deparei com a sepultura de Olavo Bilac. Era relativamente humilde comparada com as outras sepulturas, mas ali estava um homem notável, que não podia ter ficado calado. Graças à Deus, ele não ficou.
Na época, eu pouco sabia sobre ele, tinha a ligeira impressão de ter ouvido meu professor Vinicius de literatura falar dele, mas nada concreto me vinha à mente naquela tarde no cemitério. Acontece que hoje descobri que junto com Juliano Moreira (outro homem que sempre ouvi falar e a única coisa que sabia sobre ele era que seu nome foi usado para batizar um hospital psiquiátrico) Bilac foi um dos ícones na discussão sobre raça e miscigenação no Brasil (meados do XIX e inicio do XX)que tiveram também importância na forma como passamos a conceber a imagem de nação brasileira.
O debate se iniciou com a Abolição da escravatura quando os intelectuais se empenharam em descobrir um modo dos mestiços e negros serem incluidos na sociedade. Entre esses homens que influenciaram a discussão, temos: Silvio Romero que considerava os mestiços como raça inferior mas que contraditoriamente via nele o meio de criar uma nação diferenciada; Bilac que supervalorizava os mestiços e os negros, a quem denominava de "a raça mártir" e acreditava que não devíamos nos envergonhar da presença negra africana nem em nosso passado nem no nosso futuro. Chega a afirma que nenhum brasileiro poderia ser "completamente,absolutamente,legitimamente branco sem a mescla africana no sangue" e Nina Rodrigues que apostava que nada de bom poderia vir da miscigenação.
De todos simpatizei mais com a abordagem de Bilac.A única coisa que fui contra no discurso dele foi considerar que no passado o Brasil teria conseguido que suas raças convivessem em harmonia. Primeiro porque raça é um conceito ainda discutível e segundo porque nunca foi visto na história deste país uma relação que pudesse ser considerada completamente harmônica. Um exemplo bom que frisa essa falta de aceitação foi o projeto de branqueamento da população na época do Império. Quando branquear a população tornou-se necessidade, ficou super claro que a sociedade não vivia em harmonia. Uma das medidas para lidar com os ex-escravos foi deportar para a África, o que para mim representou uma violência igual ao tráfico de escravo. Levar os negros e mestiços de volta à Africa representou a mesma quebra de vínculo com a terra e a pátria que aconteceu com seus antepassados traficados para a América. Não pensar neste aspecto nos mostra que mesmo abolindo a escravidão, ainda não se considerava os negros e seus descendentes como humanos, ao mesnos pelo grosso da sociedade. Como Rousseau mesmo dizia:
"aceitar que um filho de um humano pudesse desde logo não nascer livre era aceitar também que se pudesse não nascer humano"
Durante o debate sobre a miscigenação muitos queriam fazer valer que que o mestiço era uma raça inferior. Ouvi em algum lugar que nele se perdia as caracteristicas do bom branco e do bom negro. Segundo Carolina Viana Dantas havia quem pensasse que o mestiço era um degenerado, seria um resultado infeliz de uma mistura que certamente criaria marginalizados e criminosos. Entretanto como todo ponto possui um contraponto, Bilac e outros optaram por argumentar que o social é que faz o homem: a influência do meio em que se vive e a educação, ou a falta dela é que destina o homem a viver à margem ou ser bem sucedido.
Toda essa discussão nos mostra que a sociedade tupiniquim andava especulando sobre sua imagem e identidade. Era necessário esconder os mestiços e os negros, ou eles eram uma boa representação de nossa cultura? A dúvida acredito surgiu porque na Europa com adoção dos pensadores ao Darwinismo (em detrimento do Humanismo nascido algum tempo antes), as pessoas passaram a considerar o mestiço como raça inferior, e o Brasil por algum tempo pensou assim, foi por isso que a primeira solução cogitada para substituir a escravidão foi a vinda de trabalhadores europeus e não a utilização da mão de obra local, mas com este pequeno texto vemos que também houve quem tenha querido definir e enquadrar essa população mestiça e também transformá-la em ícone nacional. Ao meu ver tentou-se também convencer a comunidade internacional das vantagens da miscigenação, para se obter o reconhecimento externo. Bilac mesmo teria dito isso sobre a peça O dote baseada no romance de Arthur Azevedo e encenada por artistas italianos. Ele acreditava que a peça faria propaganda da cultura brasileira no exterior, mostrando que havia algum mérito na nossa convivência mista. Não era vergonha alguma admitir que aqui existiam pretos e mestiços.

Por fim uma frase de Bilac: " Queremos tirar o preto das nossas fotografias, das nossas peças de teatro, dos nossos romances, da nossa história, da nossa raça e da nossa vida... Absurda pretensão! Néscia e irritante mania! Nenhum povo altera, nem anula, nem precipita a sua história. O preto é inseparável, na constituição da nossa raça, dos outros elementos que tem contribuído e ainda hão de contribuir para formá-la."

se quiserem ler mais visitem o blog: folhetimutopia.blogspot.com (visitem please!XD)

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