domingo, 22 de janeiro de 2012

Desligue a TV


Caros amigos do "A Notícia no Divã", estou de volta. Estou de volta sem nunca ter saído e, após longo e não tão tenebroso inverno, vos escrevo. E, desafiando todos os obstáculos de um pobre assalariado, espero voltar a tornar essa prática um hábito. 

Agora, vamos ao ponto.

Quando coloquei na minha cabeça que deveria escrever sobre algo, logo surgiu a dúvida: sobre o quê? Pensei na crise do Flamengo, mas preferi adiar esse tema para falar sobre televisão, no mote da repercussão acerca do suposto estupro na alcova do trash show "BBB".

Acompanhei alguns comentários à respeito do caso que, para a minha surpresa, escandalizou o país. Por que "para a minha surpresa"? Pelo simples fato de que a proposta do programa é essa mesma: o escândalo (e os participantes sabem disso e não veem problema algum em se submeter a esse espetáculo de horrores). Não é à toa a quantidade de festas promovidas pela direção, regadas a todo tipo de bebida alcoólica. Ninguém bebe guaraná. Tudo isso com o propósito de estimular a confusão, elemento que, para muitos diretores de TV, é o que dá audiência. E, lamentavelmente, eles não estão tão errados assim. O ocorrido permaneceu durante toda a semana nos noticiários e na boca do povo.

Ora, o caro leitor deve estar pensando: “mas você também está repercutindo, cara pálida”. Entretanto, só usei esse exemplo para tentar fazer algo que pouco vi nos veículos de imprensa: ir além da frivolidade. (Até porque temos inúmeros casos de pedofilia que nem são apurados com seriedade pelas autoridades, a não ser quando ocupam as páginas dos jornais).

Por meio de todos esses desdobramentos, passei a me perguntar: o que é a televisão brasileira atualmente e qual é o seu papel na sociedade?

Para abrir um canal de TV aberta, é necessária a concessão do Estado. Em tese, a emissora precisa comprovar que tem recursos e estrutura para ser autorizada a prestar o serviço. Exatamente, prestar o serviço. De tanto desvirtuarem o seu papel, muitos já se esqueceram que todo aquele lixo que chega às casas de milhões de brasileiros vem de empresas que se comprometeram, no acordo de concessão, a oferecer-nos programações próprias e de qualidade. A televisão aberta deveria ser parceira na conscientização e educação do brasileiro. Infelizmente, isso tudo, na prática, vira balela. Como outras tantas questões que não discutimos e que não vão adiante. O jogo, nesse mundo de fantasia, é restrito a alguns caciques que se perpetuam, fazendo pouco caso da nossa inteligência, a partir de costuras políticas e das benesses decorrentes dessa podridão.  

Não é preciso muito esforço para se ter noção desse quadro. Basta pegar o controle remoto e zapear pelos canais. Atravessamos uma grave crise de criatividade. E, para completar, boa parte das grades são abarrotadas de horários alugados por igrejas e por outros produtos (que não são religiosos, mas prometem fazer milagres). Não inventamos mais, tampouco copiamos direito – para o espanto do saudoso Chacrinha. Nossas emissoras fundamentam-se, há anos, num modelo extremamente chato e comprovadamente falido. Para tentarem fugir da mesmice, compram uma série de programas estrangeiros para prender o público no sofá com as suas versões tupiniquins. Uma alternativa para a preguiça mental dos nossos diretores que está sendo arrastada até as últimas conseqüências.

Lamentavelmente, o excremento televisivo só sobrevive porque existe um grande público que o alimenta. Sem ovos não há omelete, assim como a pouca audiência não sustenta a atração. O anunciante quer ser visto em larga escala. Enquanto sintonizarmos nossos aparelhos para acompanharmos a “dramática” rotina dos heróis do Bial e as entediantes aventuras de um domingão longe de ser legal, a tendência é piorar. Não podemos nos acomodar a esse desserviço. Vou dar uma dica: desligue a televisão e busque outras formas de se divertir. Vá ao teatro, pratique algum esporte ou, até mesmo, siga àquela máxima de plantar uma árvore, escrever um livro e fazer um filho. Lógico que, o último, com responsabilidade.

Pois creio que o mal do brasileiro é o de contentar-se com pouco, achando que aquele, que tem a obrigação de servi-lo, o faz por mero favor. Contudo, esquivando-me dessa emissão de poluentes pseudo-artísticos, não posso deixar de parafrasear Charles Wikipédia, do outrora engraçado Pânico na TV, indagando sua famosa afirmação:

Será que é disto que o Brasil gosta?             

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