sábado, 9 de junho de 2012

Greve dos professores: um grito emudecido?


Quem souber de alguma coisa 
Venha logo me avisar. 
Sei que há um céu sobre essa chuva 
E um grito parado no ar.

(Um Grito Parado no ar, de Toquinho)
Por Carlos Pinho.


51 instituições de ensino superior espalhadas pelo Brasil. Esse é o balanço da greve que ultrapassa os 20 dias. Há muito tempo não víamos uma paralisação dos professores federais, mas quem já passou por uma sabe bem: costuma durar muito tempo. Os estudantes da UFRJ, por exemplo, passaram quatro meses sem aula em 2001.  

Alguns acharam a decisão precipitada, por não aguardar o término do período letivo. Porém, as reivindicações são legítimas como, por exemplo, um plano de carreira dividido em 13 níveis remuneratórios com variação de 5% entre eles a partir do piso para regime de 20 horas correspondente ao salário mínimo do Dieese (atualmente calculado em R$ 2.329,35), e percentuais de acréscimo relativos à titulação e ao regime de trabalho. Segundo a Associação dos Professores Universitários do Recôncavo (Apur),  o panorama atual é desigual. “Tem profissionais com o mesmo cargo, exercendo as mesmas funções, mas com salários que variam em até 40% a mais. Isso, na nossa concepção, não deve existir”, destaca.

Nesse processo, um ponto tem chamado a minha atenção e o outro, causado o meu lamento. Comecemos com a pouca repercussão dada pelos telejornais ao fato. Não tenho acompanhado as publicações impressas, no entanto, tenho reparado a falta de aprofundamento num meio de comunicação de massa como a televisão. É fundamental que o povo conheça a causa e legitime-a. Mas parece que alguns não querem que isso aconteça. Afinal, parte da imprensa é um cardume de piranhas em busca da presa mais suculenta.  

Será que os professores não são capazes de angariar em torno do seu ato uma popularidade semelhante à alcançada pelos bombeiros em 2011? O apoio foi notório, com o uso de faixas e de fitas vermelhas.    

A partir dessa questão, chegamos ao segundo ponto que gostaria de levantar: a falta de integração quando os professores entram em greve. Sempre ouvi que para uma greve terminar logo, ela precisa nascer forte. Só assim, as autoridades sentiriam o drama e cederiam. Entretanto, no magistério, há uma barreira: a falta de coesão da classe. Um movimento que agregasse professores federais, estaduais e municipais enfrentaria a máquina do Estado com muito mais força e, se bem articulado, chegaria ao conhecimento da população de forma mais clara e eficiente. Ademais, revigoraria a luta dos profissionais das redes estaduais e municipais que, como no caso do Rio de Janeiro e das suas cidades, já começa enfraquecida e com o seu grito emudecido.

É triste ter que falar sobre a greve de uma classe essencial na construção de uma nação forte e consciente do seu papel. E não estou falando da pátria de chuteiras que apenas se aglomera para assistir à Copa do Mundo e torcer por feriados. Estou falando daquela que discute, dentre muitos assuntos importantes, os rumos de sua educação. Miremo-nos no exemplo do povo japonês. É dever de toda sociedade valorizar os seus professores.

Infelizmente, muitos, anestesiados por suas rotinas fatigantes, não param e se perguntam: “por que mostrar a mansão do Michel Teló quando há tanto a ser informado, explicado, debatido?” 

Como temos poucos espaços na grande mídia para a aprofundarmos o tema, gostaria de deixar este à disposição. Pode parecer pouco. Pode realmente ser pouco. Contudo, precisamos aproveitar todas as brechas para bradarmos por mais sensatez. E a internet, se bem usada, pode ser uma poderosa ferramenta nesse sentido. 



6 comentários:

  1. Às vezes é melhor nao passar nada na tv. quando era greve dos bombeiros a Globo só sacaneou o movimento. teve um video no youtube mostrando as pessoas na passeata expulsando a globo.

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  2. De fato, as abordagens do seu tema são muito interessantes. Os pontos cruciais que você escolheu, mostram seu senso crítico bastante apurado. Concordo com o que enfatizou. Tantos se unem para assistir o futebol brasileiro que é ilustrado como nossa principal característica e esquecem de aderir à essa luta dos professores, que é tão mais importante. A partir disso, vemos que muitos estão fechando os olhos para a realidade. Percebe-se também a deficiência da disseminação de informações.
    Ótimo texto!

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  3. Cara,agora vocÊ disse tudo,
    nosso país vive cegamente para os problemas do nosso pais
    por culpa dessas emissoras,que mascaram tudo.
    u.u

    adorei seu post!


    Rebites e Flores

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  4. òtimo texto!Bom alerta!
    Me faz uma visita?http://mardeletras2010.blogspot.com.br/2012/06/ad-aeternum.html

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  5. Imagine só alguem que te prepara para a vida, lhe instrui, ensina sobre ética, sobre comportamento, ensina a todos, sem exceção e no entanto não tem o salário e o preparo honesto em seu ambiente de trabalho para poder desempenhá-los e os mesmos que foram ensinados por alguém serem contra eles, os professores. Vergonha.

    Seguindo vc, me retribui?

    http://hommesfrost.blogspot.com.br/

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  6. cade os protestos dos alunos prejudicados com as greves dos professores?

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