quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Um escorregar que pode levar ao alto


Segunda-feira eu fui a um samba na Pedra do Sal. O clima quente do Rio, a batucada tão brasileira e a energia que, não tem jeito, só o carioca tem. Positiva, alto astral e simplesmente linda. Mas não é do samba, dessa vez, que eu vou falar. E sim das crianças lindas brincando de escorregar na pedra que dá nome ao local. Escorregando de todos os jeitos: deitadas com a cabeça pra cima, com a cabeça pra baixo, enroscadas umas às outras, de todo modo, de modo qualquer a se divertir. Sem medo de se machucar, como quem sabe que qualquer corte ou ralação pode até ficar feio por uns dias, mas é temporário. Enquanto os risos e brincadeiras tão saudáveis e alegres marcam presença positiva na memória para toda a vida e refletem no futuro, na conduta dos futuros adultos, hoje crianças mais felizes por experimentarem um pouco da liberdade que muitos pais por superproteção exagerada não dão aos seus filhos. Sem se importar com o estado em que a roupa fica, suja de tudo um pouco. Meros pedaços de pano, grande estado de alma. E se sujar faz bem, não é mesmo? É isso que prega o comercial de sabão em pó, mas se sujar não faz bem porque o tal sabão deixará a roupa limpíssima, mas porque é capaz, em situações como essa, de deixar limpíssima não as roupas, mas a mente e o coração.
Parabéns aos pais destas crianças por não serem superprotecionistas, daquela maneira de que tantos são. Ainda mais atualmente, parece que a preocupação aumenta devido ao estresse diário causado pelo trabalho, pelos engarrafamentos e pelo exagerado número de coisas a se fazer, características, talvez, do que chamamos de cidade grande, coisa que hoje não é mais característica só das grandes capitais, mas de muitas mais cidades. O que inclui a violência, a insegurança e também, muitas vezes, a simples falta de árvores nas quais subir, de gramados bem vivos onde se correr descalço. Muitas vezes faltam lugares apropriados para se deixar as crianças serem simplesmente crianças, melhor dizendo, serem meio molecas mesmo.
Deixar as crianças correrem riscos saudáveis, riscos estes que a própria vida recomenda. Machucar o joelho, talvez até quebrar um braço, levar um tombo escorregando numa pedra, comer uma manga no pé. Não é só pela natureza, mas acima de tudo pelos pequenos machucados que acabam se tornando um nada diante das lembranças e da vitalidade que se ganha. Não se sente isso apenas jogando videogame. Nem se ganha o que estas brincadeiras singelas tantas vezes geram: equilíbrio. É o passado que semeia o futuro, é a infância que dá base à vida adulta. É a liberdade saudável e consciente que poderá fazer destas crianças adultos capazes de pesar suas escolhas. De pequenos machucados físicos e de pequena liberdade, tão grande aos olhos de uma criança que não a tem, pode-se vir a ter mais juízo. Pequenas atitudes e acontecimentos podem gerar grandes experiências. Detalhes podem fazer toda a diferença (e fazem!). Machucados fazem parte da vida, mas pequenos deles quando ainda criança podem evitar alguns grandes quando maior.

Pode parecer romântico, e acho que é mesmo, mas no fundo sabemos que é mesmo assim. A formação psicológica de uma pessoa começa desde o nascimento e gera consequências até o último dia.

E foi ouvindo o saculejar desse samba tão gostoso de se ouvir (sentir!), com meu coração batendo no ritmo da música a tocar, que eu escrevi mais esta crônica.

19/09/2011

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