sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Não chame o ladrão, não chame o ladrão!

Foto: Carolina Lauriano/ G1

Por Carlos Pinho

Primeiramente, que fique bem claro àqueles que gostam de atribuir a sujeira na polícia ao baixo salário concedido à categoria: corrupção não é um ato inerente à condição de trabalho. É uma falha moral. Até porque quem entrou para a corporação já sabia como a banda tocava por lá. Ademais, nossa classe política ganha muito bem, entretanto, goza de uma reputação tão limpa quanto o rio Tietê em dia de enchente.

O movimento grevista dos bombeiros e das polícias civil e militar do Rio de Janeiro está recebendo muitas críticas, mas a reivindicação deles é legítima. Por mais que esse ato configure crime militar. Na Revolta da Chibata (guardadas as devidas proporções, contextos e reivindicações), os marinheiros, liderados por João Cândido, também cometeram um crime para tornar público os seus anseios.­

Como os policiais tocariam na ferida de sua desvalorização se ficassem esperando, acompanhados de Tinkiwinki, Dipsy, Lala, Po e do solzinho com rosto de criança, pela benevolência do poder público?­

A priori, o governo deve buscar outras propostas - logicamente que inferiores - para, além de contornar a situação, ganhar dos manifestantes pela paciência. Nesse ínterim, também vai criar, através dos meios de comunicação, mecanismos para jogar a opinião pública contra o movimento. Será necessária muita sagacidade aos grevistas para que estes não coloquem os pés pelas mãos, como fizeram os baianos. ­ A máquina estatal de manipulação das massas é pujante. Os manifestantes não ignoram esse fato. Sabem que já estão expostos a uma enxurrada de censuras. Mas as suas necessidades falam mais alto nesse momento. Quanto ao que acontecer nesse período de paralisação, os grevistas vão botar no colo do governador todos os acontecimentos que não encontrarem amparo policial. E a contrapartida virá, independentemente do descaso de Sérgio Cabral com a situação salarial que, por sinal, não é exclusividade dos atuais manifestantes, já que os médicos e, especialmente, os professores são profundamente afetados pelo desprezo do governo.

É notório que os policiais civis e militares tomaram as rédeas como protagonistas nesse episódio. Em 2011, os bombeiros se amotinaram por melhores salários e condições de trabalho e receberam amplo apoio popular. Será que a polícia desfruta desse mesmo prestígio para acender na população um suporte desse quilate?

Particularmente, considero esse estilo de greve improdutivo em termos práticos. Só serve para criar um desgaste e pender para as frentes políticas oportunistas que estão fomentando os setores envolvidos (afinal, vivemos em ano eleitoral). Precisamos repensar as formas convencionais de luta pelos nossos direitos. Esse movimento está fadado a ser vencido pelo cansaço e pela insatisfação de um povo acuado e já tão acossado por pilantras de terno e gravata que, com os seus sorrisos farsantes estampados em seus rostos besuntados de óleo de peroba, jogam o progresso de nossa sociedade nas costas de eventos que duram pouco mais de um mês e que dão lucro apenas para os seus patrocinadores privados. Seria mais válido se aqueles que são responsáveis pela segurança da população negassem-se a dar qualquer auxílio aos ocupantes de cargos ligados ao alto escalão dos três poderes. Não há maneira mais eficaz do que afetar diretamente aqueles que se consideram os donos do poder.

No entanto, é muito complicado quando, para tentarem valer os seus direitos, os grevistas montam estratégias de manifestação que acabam prejudicando quem mais necessita da ajuda deles. Ainda mais quando temos uma ligeira impressão de como essa história­ pode terminar.

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