
Datas redondas ganham destaque. E se há um lado triste de se comemorar a quantidade de anos da morte de um artista, há também um lado muito feliz de se perceber que mesmo após décadas o artista e sua obra se mantêm vivos o suficiente pra serem lembrados, comemorados e homenageados.
Cândido Torquato Portinari nasceu em Brodowski, no estado de São Paulo, em 1903 e no último dia 6, uma segunda-feira, 50 anos de sua morte foram completados. Artista plástico, pintou quase cinco mil obras, desde pequenos esboços a grandes pinturas e enormes murais como os painéis "Guerra e Paz", os quais, por sinal, talvez constituam sua principal obra. Painéis estes que foram dados à sede da ONU em Nova Iorque em 1956.
Filho de italianos imigrantes, Portinari não completou nem o ensino primário. Desde pequeno sua vocação para as artes se tornou perceptível. Aos 14 anos de idade, um grupo de pintores e escultores que restaurava igrejas passou pela região de Brodowski e o recrutou como ajudante. Foi aí que se iniciou o que viria a ser uma grande carreira artística.
Aos 15 anos Portinari deixou São Paulo e seguiu para o Rio de Janeiro, onde estudou na Escola Nacional de Belas Artes. Aos 20 anos já participava de exposições. Foi nessa época que Portinari se interessou pelo Modernismo, até então um movimento marginal. Esforçou-se até conquistar um dos prêmios que mais desejava: a medalha de ouro do Salão da ENBA. Nos primeiros anos obteve reconhecimento, mas não venceu. Mais tarde chegou a afirmar que os elementos modernistas de suas telas chocavam e desagravam os juízes do concurso. Em 1928 preparou uma tela tradicional e então finalmente ganhou a medalha de ouro e uma viagem para a Europa.
Viveu durante dois anos em Paris, obtendo um estilo que o consagrou. Teve contato com outros artistas e conheceu aquela que viria a ser a mulher de toda a sua vida: a uruguaia Maria Martinelli, com 19 anos na época. E foi justamente a distância do Brasil que criou nele um interesse social maior e que o aproximou mais de sua pátria, fazendo com que retornasse em 1946 com uma estética diferente e inovadora, com mais cores, sem compromisso com o volume do que retratava. Aos poucos experimentou os murais e afrescos, deixando um pouco de lado as pinturas a óleo.

Em 1951 Portinari retornou ao Brasil. Neste mesmo ano, a I Bienal de São Paulo expôs obras suas. Porém, infelizmente, a década de 50 foi marcada por diversos problemas de saúde. Portinari sofreu de uma séria intoxicação pelo chumbo das tintas que utilizava. Ainda assim, contrariando as indicações do médico, continuou pintando e viajando com frequência, expondo em diversos países pela Europa, além de EUA e Israel.
A desobediência de Portinari fez com que a morte chegasse mais cedo. Com alma de artista, sua escolha fez com que ele continuasse vivendo sua arte intensamente em vez de abrir mão dela para viver durante mais tempo. No início de 1962 a prefeitura de Milão o convidou para uma exposição de 200 telas. Isto fez com que ele aumentasse bastante seu ritmo de trabalho, o que causou o envenanamento fatal de Portinari. No dia 6 de fevereiro de 1962, no Rio de Janeiro, o grande artista Cândido Portinari morreu vítima das tintas que paralelamente fizeram dele eterno.

Cândiro Portinari é mesmo um artista que merece ser prestigiado em todo o mundo. E escrevo 'é', verbo conjugado no tempo presente, porque o corpo pode até morrer, mas a alma de um artista é eterna.
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