terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Tarsila do Amaral no RJ depois de 43 anos

O CCBB apresenta, desde o dia 14 de fevereiro até o dia 29 de abril, uma mostra individual de Tarsila do Amaral. A famosa artista por 'O Abaporu', 'Antropofagia', dentre outros, não tinha uma individual sua na cidade há 43 anos. O CCBB-RJ quebra esse jejum carioca absurdo de quem foi uma das artistas modernas mais influentes na arte moderna e contemporânea brasileira e nos traz uma mostra que, apesar de não grande como outras importantes e belas exposições do CCBB, vale a pena ser conferida com muita atenção e admiração.
'Tarsila do Amaral — Percurso Afetivo', exposição que reúne cerca de 85 obras, incluindo diário de viagem, pinceis, espátulas e outros objetos do genêro. Facilmente perceptível, ' O Abaporu' não se encontra exposta. O curador Antônio Carlos Abdalla declarou que o colecionador Eduardo Constantini, dono da tela que é o carro-chefe de seu museu, o Malba (Buenos Aires), não se mostrou muito disposto a um novo empréstimo da tela, que veio ao Brasil em 2008 para uma retrospectiva na Pinacoteca de São Paulo e em 2011 para uma em Brasília. Se por um lado é um absurdo uma obra genuinamente brasileira encontrar dificuldades de vir ao país a quem devia, por direito, pertencer, por outro lado isso pode gerar a vantagem de fazer uma mostra que dê destaque aos outros lados e obras de Tarsila.
— Se tivesse sido muito fácil, teria vindo. Nunca fui muito a favor de trazer 'Abaporu', porque a gente corre o risco de fazer a exposição do 'Abaporu', e não da Tarsila do Amaral. Estava consciente disso — afirma o curador. — Também não temos o original de 'A Negra' (1923), porque o MAC (Museu de Arte Contemporânea) de São Paulo está em reinauguração e não podia emprestar. A solução foi trazer "Antropofagia" (1929).
Tarsila nasceu no interior do estado de São Paulo em 1° de setembro de 1886 e foi em Barcelona, onde teve a oportunidade de estudar, que pintou seu primeiro quadro: 'Sagrado Coração de Jesus', em 1904. Casou-se, teve uma filha e só quando se separou começou a estudar arte. Desenvolveu-se a partir de esculturas, desenhos e, por fim, pinturas. Foi estudar em Paris por volta de 1920. Tarsila do Amaral não participou da tão famosa Semana de Arte Moderna de 1922, crucial para o que viria a ser desenvolvido artisticamente no país. Soube dela através de Ana Malfatti, de quem havia se tornado amiga alguns anos antes.
Tarsila retornou e foi introduzida pela amiga ao grupo dos 'modernistas'. Namorou Oswald de Andrade e com ele formou o grupo dos cinco, em conjunto com Anita, Mário de Andrade e Menotti Del Picchia. Grupo de artistas este que agitou São Paulo culturalmente. Retornou a Paris, Oswald foi até ela. Anita estudou com o cubista Fernand Léger e foi nessa época que pintou 'A Negra'.
Tarsila é também famosa por seu belo rosto que a muitos encantou. Além de bela e de uma grande artista, era também corajosa e ousada. Tarsila disse: "Encontrei em Minas as cores que adorava em criança. Ensinaram-me depois que eram feias e caipiras. Mas depois vinguei-me da opressão, passando-as para as minhas telas: o azul puríssimo, rosa violáceo, amarelo vivo, verde cantante." De fato, tais corem vieram a se tornar comumente presentes em suas obras, tornando-se uma característica sua. Outra característica de suas obras são as temáticas brasileiras, como as nossas paisagens e nosso folclore. A mistura de significados e representações em suas obras também é muito interessante. A obra 'Carnaval em Madureira', por exemplo, retrata o carnaval de 1924, no qual Tarsila passou no Rio de Janeiro logo após de voltar de Paris. Por isso, na obra, um misto de Torre Eiffel com representações de pessoas não europeias, tipicamente brasileiras; enfim, cariocas.
Tarsila conseguiu obter a anulação de seu primeiro casamento e então se casou com Oswald de Andrade. Teve como padrinhos nomes importantes: Washington Luís, o Presidente do Brasil na época e Júlio Prestes, o Governador de São Paulo na época. Sua primeira exposição individual em Paris foi em 1926 e foi bem recebida pela crítica.
Foi em 1928, querendo dar de presente de aniversário a Oswald, que Tarsila pintou 'O Abaporu'. Oswald, impressionado, mostrou o quadro a outras pessoas, que acharam que parecia uma figura indígena. Tarsila então o denominou de 'O Abaporu', que significa 'o homem que come carne humana', o antropófago. Oswald escreveu o Manifesto Antropófago e fundaram o Movimento Antropofágico, que tinha como objetivo comer, engolir e deglutir a cultura europeia e adaptá-la, transformá-la em algo de fato brasileiro.

















Contou Tarsila que Abaporu tinha a ver com os monstros que comiam gente sobre os quais as negras contavam para ela quando criança. Foi em 1929 sua primeira individual no Brasil, recebendo uma crítica dividida entre os surpresos e admirados e os que não entenderam sua arte, como ocorreu com todos os modernistas.
Em 1929 com a crise econômica nos EUA e a do café no Brasil Tarsila teve de passar a trabalhar. Separou-se de Oswald. Em 1931 estava com novo namorado, o médico comunista Osório Cesar. A artista foi presa por participar de reuniões do Partido Comunista Brasileiro, fato que a fez não mais se envolver com política. Em meados dos anos 30 seu namorado já era o escritor Luís Martins, cerca de vinte anos mais novo que ela. Em 1949, sua única neta morreu afogada em Petrópolis.
Tarsila faleceu em 17 de janeiro de 1973. Antes participou da I Bienal de São Paulo em 1951, teve sala especial na VII Bienal de São Paulo, e participou também da Bienal de Veneza em 1964. Em 1969, a especialista em história da arte e curadora Aracy Amaral realizou a Exposição 'Tarsila 50 anos de pintura'. Sua filha faleceu antes dela, em 1966. Restou sua sobrinha-neta, carinhosamente chamada de Tarsilinha para se diferenciar de sua tia, por cuja obra é hoje responsável e por quem era muito querida.

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