terça-feira, 10 de maio de 2011

Nunca é tarde para falar de Noel Rosa

O feitiço de Noel. . .


Por Carlos Pinho

Sambista por natureza. Poeta em sua essência. Boêmio de corpo e alma. Assim era Noel Rosa, o poeta da Vila, dono de uma obra riquíssima para uma vida abreviada precocemente. Nascido de um parto difícil, os médicos tiveram de usar um fórceps para salvarem a mãe e o filho, causando-lhe a marcante lesão no queixo. Além disso, tinha um problema pulmonar crônico.

Uma preocupação que acabou em samba. 

Desde muito cedo, o aspecto franzino de Noel foi motivo de preocupação de sua mãe, dona Marta. Ela não gostava das escapulidas do filho, exigindo-lhe que voltasse cedo para casa. Certa vez, escondeu todas as suas roupas, ao saber que ele sairia num sábado. Os seus amigos, ao chegarem para apanhá-lo, ouviram de um confuso Noel: “Com que roupa?” A situação inusitada virou samba e sucesso no carnaval de 1931. 



A faculdade de medicina

Autor de pérolas da nossa música, como “Feitio de oração” e “Conversa de botequim”, poucos sabem que Noel quase enveredou na carreira de médico. Do período na faculdade, compôs “Coração”. Perdeu-se um médico. Ganhou-se um mestre do samba.

Noel Rosa X Wilson Batista

Noel travou, em sua curta carreira, uma disputa que ficou marcada na história do cancioneiro popular, com o, também sambista, Wilson Batista. Por meio de canções, ambos se alfinetavam e a “briga cantada” teve grande repercussão. Só para se ter uma ideia, a partir dessa rivalidade, surgiram lindos sambas, tais como “Feitiço da Vila” e “Palpite infeliz”.

Mensageiro entre dois mundos

Noel teve grande importância na história do samba, levando o gênero do morro para o conhecimento do asfalto. Numa época em que a distância entre o morro e o asfalto era gritante, o poeta da Vila Isabel – área de classe média – era frequentador assíduo das periferias, onde fez amizade e sambas com nomes do calibre de Cartola, Heitor dos Prazeres, Donga, Ismael Silva, entre outros.

A década de 30 e os seus grandes artistas: Francisco Alves, Noel Rosa, Carlos Lenine, Carmem Miranda, Josué Bastos, Almirante, Betinho e João Martins; no detalhe o famoso intérprete de Noel, Francisco Alves.

Suas composições são retratos de sua época, verdadeiras crônicas musicadas, feitas sobre os casos mais corriqueiros. Exemplo disso, foi o samba “Não tem tradução”, sobre a moda dos estrangeirismos na nossa língua, causada pela onda dos filmes franceses e americanos ("Amor lá no morro é amor pra chuchu/ As rimas do samba não são ‘I love you’/ E esse negócio de ‘alô’, ‘alô, boy’, ‘alô Johnny’/ Só pode ser conversa de telefone"). Outras, possuem uma triste atualidade, como “Filosofia” ("Nessa podridão sem fim/ Vou fingindo que sou rico/ Pra ninguém zombar de mim").

Os últimos anos

A vida boêmia acabou por comprometer a sua, já combalida, saúde. O pouco que ganhava pelas suas composições e a ajuda da mãe, Noel gastava com mulheres e bebidas, no sereno da madrugada. Sofrendo de tuberculose, Noel morreu no Rio de Janeiro, em 04 de maio de 1937, aos 26 anos.

Confira, na voz de Cristina Buarque, "Quando o samba acabou", pérola de Noel em parceira com Mário Reis:

 

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