quinta-feira, 12 de maio de 2011

“Rio“: bela retratação da cidade e críticas sociais camufladas

Produzido pela Blue Sky Studios e pela Twentieth Century Fox Animation, e distribuída pela última citada, “Rio” é uma animação em 3D que possui 1h36min de duração e que tem encantado o público por onde passa.
Há quem não goste de filmes de animação, mas vale a pena vê-lo
nem que seja para prestigiar o nosso querido Rio de Janeiro. A história se desenrola a partir do tráfico clandestino de aves, problema real e mais que atual em nosso país, cuja flora e fauna constituem uma das maiores biodiversidades do planeta. Por outro lado, o filme mostra de forma idealizada o quanto é possível um ser humano e um animal se relacionarem de forma amável, de modo a se tornarem realmente amigos.
O personagem principal, Blu, uma ararinha-azul, é perdido em meio à cidade de Moose Lake, em Minnesota, nos EUA. Linda o acha e promete cuidar dele para sempre. Ainda menina quando o encontrou, é retratada já adulta quando um cientista carioca (Túlio) a pede para que ela e sua ararinha se desloquem ao Rio de Janeiro para que Blu possa se acasalar com uma fêmea de sua espécie (Jade), pois eles seriam as últimas ararinhas de que se teria notícia.
A partir disso, muitos contratempos ocorrem até o romance entre as ararinhas se concretizar; alguns talvez pudessem ter sido evitados se Blu não tivesse uma característica bastante estranha para uma ave: ele não sabe voar. Mas como é de se esperar, o final é feliz. Previsível. Mas gostoso de se ver.
É um filme de animação que não fica pra trás e nem à frente da maioria dos outros de mesmo gênero. Pode ocorrer uma identificação, para nós, pela história se passar no Rio. Ela é o que chamamos de “bonitinha”, é muito musical e regada a alguns momentos engraçados. A produção não foge dos estereótipos criados como “características gerais do Brasil”, pois são ressaltados o futebol, o carnaval e as diferenças sociais. Mas ela vence pela retratação intensamente real das paisagens da cidade maravilhosa: os arcos da lapa, o Jardim Botânico (onde, no filme, se localiza o laboratório em que Túlio trabalha), o nosso famoso Cristo Redentor, a praia e a calçada de Copacabana, os bondinhos do Pão de Açúcar e também os de Santa Teresa. Parece filmagem, e não produção feita em computadores. Até mesmo na maneira com que as aves falam, não há dúvidas de que são cariocas. “Cara”, só vendo pra confirmar!
Uma cena intensa e até dolorosa é a de Fernando, um menino sem família e muito pobre (e que por isso cometeu atitudes não muito legais), em seu barraco quase caindo aos pedaços e atrás, a linda Zona Sul toda iluminada, com os nossos queridos morros da Urca e do Pão de Açúcar. É de fazer chorar a diferença social existente em nosso país. Mas Don Rhymer, o roteirista do filme, foi bacana ao não mostrar estereótipos em relação às favelas. Em um primeiro instante achamos que é o contrário, pela cor do menino. Mas depois vemos o menino se arrepender, ajudar a encontrar as ararinhas e, no final, é adotado pelo casal Linda e Túlio. Está mesmo mais do que na hora da sociedade ver que favela é apenas um morro com diversas casas com algumas características “peculiares“, mas que não fazem de todo morador má pessoa.
Com uma trilha sonora brasileiríssima, incluindo a bela “Garota de Ipanema”, de Vinicius de Moraes e Tom Jobim, além das singelas batidas de funk que em alguns momentos aparecem, a produção de direção de Carlos Saldanha, o mesmo de “A Era do Gelo”, está fazendo sucesso não só no Brasil, mas também nos EUA, em Portugal, na Argentina e até no Casaquistão.
Vale lembrar que a história é baseada em fatos reais. De fato, a ararinha-azul (uma espécie de arara-azul, só que de tamanho menor), cujo habitat natural é a caatinga baiana, corre risco de extinção. Ela possui apenas 71 representantes (conhecidos pelo homem) ao redor do mundo, e todos são de cativeiro. A maioria, 53 aves, encontra-se no Centro de Preservação Al Wabra, no Catar, onde o Sheik Saoud cultiva e cuida de sua coleção particular. Responsável por grande parte da caça clandestina às ararinhas-azuis, o Sheik Saoud agora reconhece a questão e está agindo com o governo brasileiro na elaboração de um plano que tem como objetivo a libertação de algumas aves a partir de 2012, no qual parte de sua coleção voltará ao Brasil.
Vamos torcer para que dê certo!

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