segunda-feira, 11 de julho de 2011

Crônicas sobre o meu tempo

Muitas vezes pedimos para o tempo passar mais rápido, outras vezes caímos em contradição e gostaríamos de ter o poder de pará-lo. Seria fácil! Bastava quebrar o relógio! Mas o tempo lá fora não pararia, e tempo seria perdido, este bem precioso que não queremos abrir mão, nem que seja para não fazer nada e reclamar depois que não temos tempo para nada.

Tique taque dia e noite, noite e dia, neste ritmo frenético minha mãe dizia o que eu tinha que fazer nas primeiras horas do dia: “hora de acordar, hora de ir para a escola”... Já na escola, quem ditava o ritmo era o sinal que estava sempre cinco minutos atrasado do relógio de parede da sala de aula. Mas a hora era sempre mais devagar quando estava perto da hora do recreio. Só que depois do recreio passava rápido e logo era hora de ir embora.

Ah, meu relógio de parede! Marcava sempre 13 horas quando o almoço estava na mesa. O meu relógio nunca errava. Mas logo depois ele dava uma de dedo duro e avisava para a minha mãe que era hora do banho, e, depois do banho, o dever de casa. Sentia raiva do meu relógio redondo pendurado na parede da cozinha, preto e branco com grandes números de um a doze e três ponteiros que não paravam de rodar, às vezes faziam um tique taque insuportável.

Mas o meu relógio se redimia quando falava para minha mãe que eu já podia brincar, e brincando eu esquecia do tempo, até ser chamado para tomar banho e jantar. Como eu odiava o tempo que parecia andar mais rápido enquanto eu brincava do que enquanto eu estudava.

Que relação de amor e ódio é essa que eu tenho com o tempo? Será que todos têm? Por que eu tinha que ir dormir sem sono? Esse tal tempo é poderoso, ele não para nunca, e ainda põe todos ao seu dispor. Menos eu, que enquanto estava sem sono olhava para a janela e o via passar na maior tranquilidade, pensando no novo dia que o sol traria na manhã seguinte.

Hoje eu sou escravo do meu tempo, sempre olho para as paredes à procura de um relógio. Mas ainda guardo o velho hábito da infância de olhar para janela sem sono antes de dormir. Então eu olho para o meu velho relógio de parede e penso “estou livre de você, pelo menos até acordar”.

Neste momento, eu queria ser um gato, que recebe carinho e não se preocupa com o tempo. Mas esse felino come ração: “eca!”. Prefiro ver a hora e olhar para o meu relógio de parede. Já estou atrasado!


Um comentário:

  1. Adorei, Rodrigo! Seu texto está cheio de poesia, o que dá musicalidade a ele. Passagens bem-humoradas e no fundo, um tema presente na vida de todos.

    ResponderExcluir