Completando um ano em cartaz, “Deus da Carnificina” gira em torno de dois casais que se encontram para conversar sobre uma briga ocorrida entre seus respectivos filhos. E a conversa, à medida em que se desenvolve, acaba por deixar vir à tona sutis problemas presentes na vida dos dois casais. A demora para se resolver algo sobre o assunto proposto acaba por estressar os personagens, fazendo com que, com o decorrer do tempo, a inicial cordialidade perca espaço para atitudes impulsivas e que, por um lado, são mais sinceras, deixando para trás a hipocrisia do “fingir simpatia“. Com perspicácia é possível perceber fatos comuns às pessoas e casais de modo geral e que, na peça, são transmitidos aparentemente em segundo plano mas de modo fundamental para que a mesma se desenvolva. Chega um ponto em que cada um dos personagens reflete sobre si mesmo e de modo quase escondido temas como crises conjugais e liberdade aparecem. Ou seja, a peça aparentemente singela acaba por rasgar a falsa polidez social.
Com um diálogo muito bem-humorado, “Deus da Carnificina” (Le Dieu Du Carnage, originalmente) foi escrita pela dramaturga argelina radicada francesa Yasmina Reza, que se baseou no comportamento da classe média francesa com muitos toques de ironia.
Encenada primeiramente em Zurique, em 2006, “Deus da Carnificina” recebeu diversas sucessivas montagens. A versão londrina, de 2008, teve o consagrado ator Ralph Fiennes no elenco e ganhou o prêmio Laurence Olivier de melhor comédia. O texto alcançou a Broadway em 2009 e conquistou o prêmio Tony nas categorias melhor peça, melhor diretor (Matthew Warchus) e melhor atriz (Marcia Gay Harden). Há projetos de transformá-la em filme em 2012. A produção brasileira é dirigida por Emílio de Mello e possui tradução de Eloisa Ribeiro e seu excelente elenco é formado por Julia Lemmertz, Paulo Betti, Deborah Evelyn e Orã Figueiredo; e já rendeu diversos prêmios, como o QUEM 2010 e o merecido APTR a atriz Julia Lemmertz, na categoria melhor atriz de teatro.
Com um cenário simples e um elenco de apenas quatro atores e personagens que se mantém quase o tempo todo em cena, a peça prende a atenção da plateia de uma maneira que, com essas características, é difícil acontecer. Fato que pode levar à conclusão de que a produção é realmente muito boa.
Até o último dia 3 em temporada no Rio, “Deus da Carnificina” participou do Festival de Inverno do Sesc em Petrópolis e em Teresópolis e de 22 de julho a 28 de agosto segue em temporada em São Paulo. Para quem estiver na capital paulista e tiver oportunidade, vale a pena assistir!
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