domingo, 31 de julho de 2011

Educação no Brasil

Na sala de aula a professora respira fundo. Ainda não chegaram seus alunos. Neide ( esse era o nome da professora) tenta imaginar um plano para ensinar a matéria do dia, que foi a mesma de algum dia do ano passado, e que ela não sabe, mas vai ser a mesma nos próximos 10 anos.
“Invento musiquinha? Faço uma atividade em classe? Ah quem me dera promover um debate!”
Ela queria poder falar e ouvir seus alunos. Sendo professora de história poderia colocar em discussão todos os conceitos sobre o passado, e estimular seus alunos a construir a própria história. O que a impedia? Um grande bicho papão chamado: livro didático. O livro didático propõe questões tolas, decorebas, do jeito que os pais gostam. Como ficaria feliz se pudesse usar trechos dos autores que lera na faculdade (com devida moderação)!Ao invés disso fica presa à confusa narrativa que mistura correntes de opinião contrárias, e ensinam de maneira arbitrária. E assim insatisfeita fica a reproduzir em classe com monotonia e decepção.
Quando a turma começa a chegar e a ocupar seus lugares, o personagem principal deixa de ser Neide e passa a ser Édson. Aos quatorze anos Édson tinha maiores preocupações além da queda da Bastilha e sua nota de História. Estava a fim da Laurinha mas namorava a Clarinha. Estava mandando ver na guitarra e montou a própria banda de rock. Estava na dúvida se deixava o cabelo crescer e colocava piercing, ou se devia fazer uma tatuagem escondido. Queria em formato de dragão no braço todo. Ele nem cogitava que a Revolução Francesa pudesse ser um assunto interessante. “Nem é sobre meu país!”, mas nem pra História do Brasil ligava, achava tudo muito chato, e afinal de que aquilo lhe serviria? Era melhor fazer uma escola técnica pelo menos seu ensino teria alguma utilidade, e quem sabe ele não precisaria voar tanto.
Quando a professora mandou fazerem o exercício, ele copiou praticamente os trechos do livro que respondiam as questões. Coitada de Neide, teria que aceitar mesmo assim aquela resposta sem vergonha, a narrativa do livro não é um apoio é uma norma. A professora porém não perde as esperanças deseja passar alguns filmes aos alunos. Coitada dela! Adolescentes de 14 anos só querem fazer algazarra e só prestam atenção nas aulas de biologia quando falam de sistema reprodutor!


Esta pequena narrativa é uma mostra do que eu presenciei nos meus anos de colégio e o que ouço dos professores da faculdade. Um dia serei professora, mas morro de medo de cair na mesmice que apontei em Neide.
A questão do livro didático é essencial. Os livros didáticos demoram a serem atualizados,e não servem para problematizar e discutir, só servem para reduzir e facilitar o acúmulo de informações. E por que? Porque o ensino é voltado para o vestibular, que segue a lógica do que o mais importante é o acúmulo de informação. Que tipo de cidadãos ele fabrica? Aquele que está acostumado a assimilar, decorar e ingenuamente reproduzir sem raciocinar. De que serve um cidadão que nunca inova contribuindo para a melhoria das condições de vida do resto da sociedade? Para muito pouco eu creio.
Eu sou partidária da opinião que cada um pode fazer a sua parte. Eu sei que não é uma idéia muito política, mas se não fazem por mim, acredito que eu deva correr atrás então. O importante é não desistir e investir em novas idéias. O que não se pode deixar acontecer é que continuemos produzindo mão de obra desqualificada, e acabar usando gente de fora.

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