terça-feira, 28 de dezembro de 2010

VOCÊ TEM FOME DE QUE?


Assim como na famosa música dos Titãs, a dúvida persiste: de que temos fome?

O FDA, Food and Drug Administration, é o órgão responsável por regular o consumo de alimentos, remédios e drogas nos Estados Unidos. É o FDA que também decide sobre o que os americanos encontram nas prateleiras da farmácia, do supermercado e até mesmo no mercado negro.

Gary Wenk, pesquisador e professor de neurociência na Ohio State University, acredita que as fronteiras entre essas categorias são muito mais tênues e espera que os agentes do órgão não estejam por dentro dos assuntos que discute em sala de aula.

“- Se soubessem, eles seriam obrigados a regular a venda de barras de chocolate. O pó de cacau tem substâncias similares à cafeína, às anfetaminas e à maconha, além de liberar opiáceos no corpo”, afirma Wenk que informa que o doce contém um número grande de psicoativos.

Em seu livro mais recente, Your Brain On Food, ou A comida no seu cérebro, o cientista mostra que não é só o chocolate, quase tudo que consumimos, seja droga ou comida, tem efeito em nosso funcionamento cerebral.

Segundo ele ao longo da história, nutrientes e psicotrópicos se confundiram diversas vezes. Em cada ocasião que o café surgia numa determinada cultura, era bem recebido como alimento. Logo depois passava a ser visto com temor pelo seu efeito estimulante e os políticos mandavam fechar as casas de café.

Para Wenk a diferença está baseada em fatores culturais, tanto que sensações de prazer, de relaxamento, de euforia e até alucinações podem vir até mesmo quando ingerimos os alimentos do dia a dia.

“- Ao estudar como esses químicos interagem com o comportamento humano, podemos manipular nosso humor e até desvendar o funcionamento do corpo.”

Nosso cérebro tem pelo menos cem neurotransmissores circulando entre suas diversas áreas. Esses neurotransmissores são responsáveis pela comunicação entre os diversos neurônios em atividade, passando as mensagens que precisam ser transmitidas para o resto do corpo. Coisas como: acorde, se mexa, salive, urine, lembre, alegre-se, depende do “humor” de cada neurotransmissor.

Se a química encontrada na comida afeta nosso comportamento, é justamente por causa da interação com esses neurotransmissores, aumentando ou cortando seus efeitos. Isso só acontece porque todos os seres vivos dividem a mesma história evolutiva.

Por exemplo, uma picada de inseto só causa problemas porque o veneno tem a ver com algo que também é encontrado em nosso corpo.

“- Se viajássemos para outro planeta e fôssemos picados por alguma criatura desconhecida, não nos aconteceria nada, porque não temos um passado comum”, afirmou o professor Wenk.

Segundo ele tudo tem a ver também com quantidade. “- É uma questão de dose. Se comermos o suficiente de determinado alimento, haverá uma consequência”, diz Wenk.

Um bom exemplo é a noz-moscada, usada como tempero. Se usada apenas para temperar a comida é inofensiva, mas se você comer uma inteira ficará alucinado por alguns dias devido a ação da dopamina, substância responsável por nos fazer sentir prazer em atividades como o sexo e alimentação e por isso, quando consumida e em quantidades médias, causa apenas sensação de euforia.

Até mesmo o leite, considerado por muitos como um alimento inocente, pode causar alterações em nossa percepção. O intestino transforma alguns dos componentes do leite em opiáceos, tipo de substância presente na morfina e na heroína. A função dos opiáceos é regular as sensações de dor, causando euforia e prazer quando em grandes quantidades.

O livro explica que temos uma barreira entre o intestino e o sangue, e também outra entre o sangue e o cérebro que bloqueiam essa ação química. Mas, em crianças abaixo de dois anos de idade, essas barreiras não estão completamente formadas, por esse motivo, entre os recém-nascidos, beber leite acaba gerando uma sensação parecida com a da heroína.

“- A recompensa é tão boa que a criança quer voltar a mamar de novo e de novo. O que é bom e acaba garantindo sua sobrevivência”, explica Wenk.

Para ele, a comida pode nos fazer mal ou bem, nos deixar alegres ou tristes. Já escolhemos, inconscientemente, quais químicos irão agir em nosso cérebro. O que pode melhorar é estarmos no controle consciente desse processo.

Gary Wenk garante que não dispensa uma dose de tequila à noitinha.

“- Tomo sempre, já que o álcool em pequenas quantidades serve para prevenir o Alzheimer.”

Excelente, desfecho. Esse é dos meus!

2 comentários:

  1. Coincidentemente ou não, qdo comecei a ler o texto saboreava um pequeno tablete de chocolate com castanhas (Diet)..rs.. Escolha instintiva ou racional? Muito interessante!

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  2. Muito interessante! Tenho de confessar que sou viciada em chocolate... me dá um prazer imenso saboreá-lo! rs

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