"Não acredito em coincidências" (V)
Por Aline Marques Gomes
Vamos articular dois dos meus assuntos preferidos. Cinema e política. Um filme um tanto antigo, V de Vingança, e o contexto político: reflexos da política neoliberal, implementada no Brasil, durante os anos 90.
A história do filme é baseada em um graphic novel escrito por Alan Moore. O enredo da conta de uma Inglaterra futurista, onde um governante totalitarista mantém o controle e a ordem na sociedade, através da repressão política, opressão religiosa e sexual, controle da mídia e enquadramento comportamental da população. V é um personagem culto, com o objetivo único de derrubar o Estado, através do ato simbólico de explosão do parlamento. Ele consegue mobilizar a população para que eles se atentem para o poder do povo.
A história foi escrita por Alan Moore em um contexto político de implementação do Estado Neoliberal, na Inglaterra, pela primeira ministra Margareth Thatcher. Este modelo econômico prevê, superficialmente, a não interferência estatal nas atividades econômicas do país, com isso, acarretando o desmantelamento das políticas sociais, que “garantem” a legitimação social do Estado. Todos sabem que, na sociedade capitalista, existe um constante conflito de classes, alimentado pela contradição entre capital e trabalho. O trabalhador vende a sua força de trabalho por determinado salário, que não corresponde ao valor de seu trabalho, mas a uma pequena parcela, tendo em vista a necessidade de grande parcela alimentar o lucro do capitalista, que não trabalha, pela condição de detentor dos meios de produção. Tal salário não é suficiente para a reprodução do trabalhador, ou seja, não garante a obtenção de alimentação adequada, vestimenta, condições de saúde, lazer, educação, etc. Em determinado momento histórico, o Estado se da conta que precisa efetivar determinados direitos básicos do trabalhador, tendo em vista a sua necessidade de legitimação. Basicamente, é assim que surgem as políticas sociais, garantidas constitucionalmente no Brasil. O neoliberalismo prevê o desmantelamento dessas políticas em razão do livre mercado. Com isso, o SUS é precarizado, enquanto surgem os planos de saúde privados, iniciativas de incentivo de ensino privado em detrimento de investimento e ampliação de vagas de ensino público, sob a falácia do défict da previdência, surgem os planos de previdência privados, contribuindo para uma maior exploração do trabalhador.
Mal comparando podemos trazer para a nossa realidade os eventos constatados por V e que, segundo ele, mereceram intervenção. O ex presidente Lula, em seus dois mandatos investiu em planos emergenciais de redução da pobreza, que servem basicamente, para migrar a parcela da população que vive abaixo da linha da pobreza para a pobreza, os tornando consumidores para engordar o saco da instituição mercado. Para driblar a crise econômica incentivou o consumo, e hoje experimentamos a inflação para frear o consumo, e proteger para que o mercado não entre em colapso.
No Rio de Janeiro, Sergio Cabral declarou guerra aos pobres e favelados, sob o discurso de enfrentamento ao tráfico de drogas. Quantos inocentes morreram sob a Era Cabral? E o tráfico de drogas acabou? Bope, caveirão, milícia... a polícia da cidade do Rio de Janeiro é responsável por mais homicídios, os chamados autos de resistência, que a policia de determinados países. Hoje temos instauradas as UPP’s, o Estado entrando nas comunidades para levar políticas publicas para a população desses territórios. Será? Muitas denúncias, ignoradas pela mídia e pelo governo do Estado, afirmam que o tráfico de drogas e a cracolândia convive com as UPP’s, e que a política é de controle, toque de recolher, proibição do funk, autoridade sobre a realização de eventos e arbitrariedades, moradores são feridos, presos e mortos pela Unidade de Policia PACIFICADORA. E quais são as políticas públicas que essas unidades fornecem? Conta de luz, conta de água, títulos de propriedade. Quem é favorecido? O mercado.
"O medo se tornou a arma principal desse governo." (V)
A situação é agravada na eminência de eventos esportivos na cidade. Agora presenciamos o Choque de Ordem de pessoas. A prefeitura do rio, com apoio do governo do estado recolhe a população de rua, crianças e adolescentes, idosos e mulheres, para abrigamento compulsório, obrigatório, com o discurso de tratamento para vicio em drogas. Mas será esse o tratamento? Sem apoio de profissionais especializados, com a conhecida precariedade das instituições públicas abrigadoras? Ou será esse um modelo de prisão? Quando a população se mobiliza e manifesta indignação, será que recebe o tratamento adequado? Vide os 439 bombeiros que foram presos e serão processados. E a mídia, como se coloca diante dessas arbitrariedades? É interessante como o comentarista de segurança pública Rodrigo Pimentel, se torna comentarista de política governamental, concordando com Sergio Cabral e respaldando todas as suas ações. Será a reivindicação por melhores salários, não só da categoria dos bombeiros, mas de toda a população, justa? A política de Sergio Cabral prevê legitimação social, pois não é uma ditadura oficial, portanto nós somos culpados, pois nós o elegemos. Agora, nós temos que frear as arbitrariedades e a violência.
“O povo não deve temer seu estado. O estado deve temer seu povo.” (V)
"Por quê? Por que enquanto o cassetete é usado no lugar da conversa, as palavras sempre manterão seu poder. As palavras expressam um significado e são para aqueles que aceitam ouvir a revelação da verdade. E a verdade é que há algo terrivelmente errado com este país, não é? Crueldade e injustiça, intolerância e opressão. E enquanto que antes vocês tinham a liberdade de objetar, de pensar e falar o que quisessem, hoje vocês tem a censura e sistemas de vigilância, coagindo vocês a conformidade e a submissão. Como isso aconteceu? De quem é a culpa? Certamente uns são mais culpados que outros, mas serão responsabilizados. Mas o certo é que se quiserem achar um culpado, basta olharem-se no espelho. Sei por que fizeram isso. Sei que estavam com medo. Quem não estaria? Guerra, terror, doenças. Milhões de problemas conspiraram para corromper sua razão e roubar seu sentido comum. O medo os dominou. E em seu pânico, recorreram ao alto chanceler Adam Sutler. Ele lhes prometeu ordem e paz. E a única coisa que pediu em troca foi seu consentimento calado e obediente."
Título original: (V for Vendetta)
Lançamento: 2006 (Alemanha, EUA)
Direção: James McTeigue
Duração: 132 min
Gênero: Ficção Científica
“O povo não deve temer seu estado. O estado deve temer seu povo.”
ResponderExcluirMuito bom esse texto
Esse texto nao foi so completo como foi direto nas feridas desse governo hipocrita,sempre privilegiando a corrupçao.Parabens!
ResponderExcluirGoverno correto, até porque os próprios moradores de comunidades acobertam o traficantes, a minoria está do lado correto. Esse governo está ótimo, está uma paz as comunidades.
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