sexta-feira, 25 de março de 2011

Los Caprichos de Goya

Francisco José de Goya y Lucientes, geralmente conhecido apenas como Goya, é considerado por muitos “o Shakespeare dos pincéis”. Nascido em 30 de março de 1746, em Saragoça (Espanha) e falecido em 15 de abril de 1828 em Bordéus (França), pintou realidade, comédia, tragédia, sátira. Retratou nobres, comuns, demônios, prostitutas, touros, deuses, feiticeiros e, algumas vezes, utilizou-se do obsceno.
Suas primeiras obras foram para a Igreja Nossa Senhora do Pilar, em Saragoça, para o Palácio de Sobradiel e o Monastério Aula Dei. Casou-se com Josefa Bayeu, mudou-se para Madrid e durante seus primeiros anos lá trabalhou para fábricas fazendo desenhos para tapeçarias. São desse período os desenhos que mais fizeram fama, no entanto, a vontade maior de Goya não era retratar paisagens, como se vê em suas obras futuras. Ele provou ser um mestre dos métodos convencionais, principalmente na obra “La Crucificada”, de 1780. A partir daí começou a receber encomendas da aristocracia, e acabou sendo nomeado “Primeiro Pintor da Câmara do Rei”.
Antes de tal obra ser realizada, Goya, em 1792, em uma viagem, contraiu uma doença desconhecida (na época) que o deixou temporariamente paralítico, parcialmente cego e completamente surdo. Parcialmente recuperado, retornou seus trabalhos para a Corte em 1793, porém começou a também pintar de acordo com as suas próprias inspirações. A partir daí Goya se libertou e se mostrou mais expressivo, e também mais melancólico, triste e crítico. Perdeu o respeito pela Corte e iniciou uma série de pinturas que expressam cruamente como realmente eram, por trás das belas ou não tão belas roupas, não só os nobres, como as demais pessoas. Isso perdurou e se acentuou por volta dos anos de 1810 a 1814, quando produziu sua famosa série “Los Desastres de La Guerra”. Fato que gera dúvida em relação ao porquê de Goya ter perdido sua vivacidade e seu dinamismo: terá sido a doença, a hipocrisia das pessoas ao seu redor ou as repressivas guerras napoleônicas que estavam ocorrendo? Goya vivenciou muitas mortes, esquartejamentos, pessoas sendo guilhotinadas. E nem mesmo Picasso, em sua obra “Guernica”, foi cru e real como Goya. Afinal, Goya encontrava-se na Espanha quando as tropas napoleônicas lá estavam. Picasso, enquanto Guernica era cruelmente destruída durante a Guerra Civil Espanhola, encontrava-se em Paris passeando pela Rive Gauche. A Inquisição censurou muitas das obras de Goya, chegou a processá-lo mas ele conseguiu se livrar. As últimas obras desse gênio atormentado foram as chamadas “Pinturas Negras”, que se encontram no Museu do Prado. Referem-se, em sua maioria, à repressão do reinado absolutista de Fernando VII. Em 1824, ele se exilou em Bordeaux, França, onde veio morrer em 1828.
Los Caprichos são uma série de 80 obras realizadas por Goya, gravadas em chapas de metal inglês, trabalhadas com água-forte, água-tinta, estilete, raspador. Expostas no Instituto Cervantes (R. Visconde de Ouro Preto - 62, Botafogo - RJ) , de 18/03 a 27/04 (2a a 6a das 10:00h às 19:00h e aos sábados das 10:00h às 14:00h, entrada gratuita), a série é quase corrosiva, assustadora. Pintadas enquanto Goya se encontrava doente, ele as justifica afirmando que a pintura também pode censurar “os erros e os vícios humanos”. Los Caprichos possuem uma grande carga crítica. As 36 primeiras gravuras retratam o amor, o casamento forjado e a prostituição, como, por exemplo, na obra “Belos Conselhos”, em que é retratada uma mãe aconselhando e estimulando a filha a se prostituir. Ou em “Deus a perdoe: e era sua mãe”, em que a mãe prostitui a própria filha. Da 37a a 42a gravura, Goya retrata asnos e a partir da 43a retrata bruxas, diabos, duendes e frades. Elas representam a repressão, a hipocrisia e a sua revolta para com tais fatos. O que mais chama atenção em suas obras são, sem dúvidas, os rostos. As expressões feias, mais que isso, horrorosas, quase colocam medo e dão um ar de terror. São cheias de vida e de energia, no entanto, não vida em um sentido alegre, mas em um sentido melancólico, quase arrepiante. O objetivo de Goya era justamente mostrar no rosto dos próprios o quanto eram mesquinhos.


















Goya percorreu a pintura espanhola e européia desde o rococó, o neoclassicismo, até ao romantismo. Suas obras constituem um total muito abundante e extravagante. A série “Los Caprichos”, depois de expostas no Rio, irão para Brasília, onde ficarão de 28/06 a 14/08, em seguida para Salvador, 22/08 a 16/09 e Belo Horizonte, 27/09 a 26/10 (anteriormente já estiveram em São Paulo). Vale a pena conferir as expressões que, provavelmente, antecederam diversas outras do cinema de gênero terror!

3 comentários:

  1. Sempre é bom conhecer a trajetoria dos artistas, dá pra ver porque ele retrata com mais frequencia certos aspectos da vida que se afinal com a realidade dele.

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  2. É importante notarmos as influências da época mostrada nas pinturas. Goya por exemplo, presenciou a guerra napoleônica, e expressou isso em suas pinturas. Percebemos a expressão triste nos rostos das pessoas... mostrando que a guerra não traz nenhum benefício.
    Marcos.

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