quarta-feira, 23 de março de 2011

Metropolis - Um filme de 1927 que se mantém atual

Após ter aberto as portas para o discurso do presidente dos EUA, Barack Obama, no último domingo, 18 de março, o Theatro Municipal do Rio de Janeiro começa o ano tendo como sua real primeira atração a exibição do filme “Metropolis“ ao som da Orquestra Sinfônica do próprio Theatro Municipal, nos dias 21, 22 e 23 de março. O Theatro exibe uma nova versão, pela segunda vez no Brasil (a primeira foi ano passado em São Paulo), que foi encontrada na Argentida em 2008, com 30 minutos a mais do que a já conhecida.
Produzido em 1927 pelo cineasta austríaco Fritz Lang, o filme alemão é uma ficção científica que, por sinal, talvez tenha sido o primeiro (no mínimo, um dos primeiros) a abordar questões como a possibilidade de desumanização causada pelo uso e dependência excessiva de máquinas e em que há aparição de um homem-máquina (robô é denominação ainda inexistente na época).
Ambientado no século XXI, o filme retratada a idéia de Lang (e de Thea Van Harbou, com quem viria a casar, autora do romance em que se baseou o filme, e co-autora do roteiro em parceria com Lang), de como seria a humanidade em 2016: uma divisão de classes em que a privilegiada viveria pomposamente e a dos trabalhadores viveria nos subsolos da cidade, trabalhando em turnos de 10 horas e escravizados pelas máquinas. Em meio à tanta amargura e miséria, a jovem Maria (nome que representa religiosidade) prega a fé de que um intermediador virá e os representará na reivindicação e obtenção de seus direitos. Tal intermediador surge na face do filho do único governante da cidade, que se apaixona por Maria. É colocada na máquina-homem já construída, a mando do governante, o rosto de Maria (que era vista como uma santa) e uma personalidade oposta a dela (representando os sete pecados capitais), de modo a ser plantada entre os trabalhadores em seu lugar para criar discórdia. Daí se desenvolve uma trama com direito a muitos efeitos especiais, que representam o máximo do “cinema de arquitetura” de Lang: cenários gigantescos representando os arranha-céus de Nova York, por exemplo. É até engraçado perceber o quão desenvolvido é o modo como ele representa a cidade com diversos viadutos suspensos, carros (até congestionamentos) e trens, e também reparar em pequenos detalhes, como os aviões retratados em estilo quase que de 14 Bis.
A obra Metropolis é considerada por muitos o ápice do expressionismo alemão. O filme se destaca não só pelo seu enredo surpreendente na época e que, ainda hoje, se mantém atual, mas como pela capacidade incrível que tiveram em realizá-lo com tantos efeitos especiais. Ao assistir o filme, é preciso manter em mente o fato de que ele foi feito há mais de 80 anos. Na época, um fracasso de bilheterias que faliu a companhia de Lang, hoje, tem seu merecido reconhecimento. Quando se pensa em quando foi produzido, sem quase nenhum recurso (ainda não havia nem som nos filmes), percebe-se o quanto ele é genial. Cansativo para alguns devido a sua duração de 2h30min, é fácil entender porque não fez sucesso na época: a mente dos telespectadores não acompanhava o que hoje já é comum vermos, discutirmos e imaginarmos (ou até mesmo vivermos). O ponto mais alto do filme é a metáfora "O mediador entre a cabeça e as mãos deve ser o coração!", concretizada no final do filme; em algumas versões aparece de uma forma mais poética: "Entre a mente que planeja e as mãos que constroem deve haver um mediador... E este só pode ser o coração".
Gottfried Huppertz foi quem escreveu o acompanhamento musical desse grande projeto de Lang. Diferentemente de como era comum na época, a música de Huppertz foi composta durante a produção do filme, e não depois. De modo que, teve muito tempo para realizar sua composição, o que proporcionou a ela excelente qualidade, reunindo elementos do romantismo tardio e do modernismo da época.
Não se pode deixar de dizer o quanto a Orquestra Sinfônica do Theatro Municipal merece longos aplausos de pé. Regida pelo Maestro Silvio Viegas, tocam divinamente e encaixam perfeitamente a sua música nas cenas. É fácil perceber o quanto é grande o talento de todos os integrantes/contratados.
Além disso, outro fato que não pode deixar de ser citado, é o quanto o Theatro Municipal está maravilhoso após as reformas realizadas. Mais belo que nunca, é patrimônio cultural não só do Rio de Janeiro, como da humanidade. Considerado uma das 7 Maravilhas do Rio de Janeiro, é inquestionável que, todo turista e, inclusive, todo carioca, deve conhecê-lo.
Hoje, às 20h30min, ocorre a última exibição da obra no Theatro Municipal. Os ingressos variam de R$18,00 a R$70,00 e o T.M. se localiza na Praça Floriano, sem número, no Centro.

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